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INDIE MUSIC FEST 2018: A TEMPERATURA SUBIU E O BOSQUE VIROU SELVA

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Pinheiros e carvalhos. Feixes de sol a furar por entre as folhas que, preguiçosas, nem um centímetro mexem. Tendas coloridas, fitas penduradas e “O Paraíso”. Camas de rede, acordes soltos de guitarra, tambores e fogões a gás. O planeta parece ter parado de girar. Com o calor, os festivaleiros movem-se devagar, como que parados no tempo. Colunas portáteis com The Clash e Capitão Fausto. Fragmentos de conversas pairam pelo ar, rasgos de palavras e frases incompletas. Muitas discussões – sobre música, claro está. Risos. Cigarros. Canções. Sapatilhas cobertas de pó e cabelos com tranças. Indie Music Fest 2018.

Esta poderia ser a descrição do ambiente de qualquer festival de verão. Mas o Indie é único. Aninhado no Bosque do Choupal, o recinto do micro festival e as gentes que por cá passam tornam-no no mais acolhedor e familiar. Quem cá vem uma vez, dificilmente não regressa.

 

Pé Grande abriu calmamente este segundo dia de festival. Tiago Lopes é o nome do músico, que se apresenta em palco unicamente munido da sua guitarra e da própria voz. Sentado na beira do Palco Cisma, os seus acordes misturam-se perfeitamente com o ambiente que o rodeia – como se sempre aqui tivesse pertencido.

Seguem-se Máquina del Amor. Os bracarenses criam uma atmosfera hipnotizante, com as suas sequências instrumentais e eletrónicas.

João, Miguel e Diogo constituem os Prana. A abertura do Palco Indie Music Fest é feita – como é habitual – no nicho perfeito entre as árvores. Por entre luzes verdes e cor de laranja, algumas confusões com a setlist e frases dirigidas ao público, este trio descontraído põe os indies a abanar o corpo (como aquecimento, quem sabe, para o que aí vem). “Sejam honestos, quem é que conhece o “Ser Nenhum” [último trabalho da banda]?”. A fraca resposta do público não desanima o vocalista – “são sete? okay malta, está fixe” – que inicia outra música, após lançar um “estão a curtir?”. Aproximando-se o final do tempo que lhes está destinado, Miguel, sempre descalço e nunca parado, pede ao público palmas e saltos, como acompanhamento para “Lei Zero”, música em que se ouve “Ai, como é bom ter a certeza / De que se eu saltar, tu saltas também”. Os Prana despedem-se com “muito obrigada por tudo isto, é um espaço lindo, um forte aplauso, e para vocês, que também são bonitos”, tocando “Boa Noite Arouca” antes de abandonarem o palco.

O Palco Cisma volta a ser pisado, desta vez por Vaarwell. Tal como o vocalista dos Prana, Margarida também vem descalça. A voz que é metade das Golden Slumbers faz-se acompanhar por Ricardo e Luís. O trio abre com “I Never Leave, I Never Go”, perdidos no centro da bruma branca e das luzes rosa. O seu indie-pop, oscilando entre a sonoridade para dançar e a sonoridade para descontrair, desenvolve-se em paralelo com o subtil cair da noite.

José Roberto Gomes apresenta “Somos os Solar Corona, uma banda instrumental. Vai ser difícil seduzir-vos, mas damos o nosso melhor com volume e movimento de anca.” O rock psicadélico da banda de Barcelos é pesado e permite a total imersão das primeiras filas de indies. Nestas primeiras filas são erguidos orgulhosamente cartazes com expressões como “Baquetas!” e “Zézinho, o Simões ama-te”. Ondulam, também, em todas as direções, longas cabeleiras que, dado o vigor dos movimentos, irão provocar dores de pescoço pela manhã.

Iguana Garcia apresenta o álbum “Cabaret Aleatório”. João Garcia conquista a audiência com as suas melodias e a sua técnica de camuflagem. A eletrónica, de tão psicadélica, quase que transporta os ouvintes para a estratosfera. Ficar indiferente é, certamente, impossível. “Esta é a última, agora é que é para dar tudo pessoal”. “60KF” é a música da despedida, com a frase “Eu já pensei em deixar de ser feliz / Para ser normal…” repetida como um mantra.

Dois adjetivos para descrever a passagem de Rei Bruxo pelo Indie Music Fest: sombria e enigmática. O curto concerto desta banda de rock progressista é encaixado entre as movimentações dos companheiros do palco vizinho – primeiro em soundcheck, depois como atuação.

Às 23h00 Keep Razors Sharp entram em palco. Já veteranos no festival, cumprimentam os indies, “como é Baltar, está tudo bem?”. A banda percorre as músicas do repertório habitual. “The Lioness” e “I See Your Face” são particularmente bem-recebidas, levando os jovens junto às grades à loucura. “A vista é maravilhosa daqui!”, admite o guitarrista, brindando “muita saúdinha” com o fino que segura. Um final (falso) estrondoso precede um encore que acaba com garrafas de água a serem atiradas ao público.

Meia noite no Palco Relva. Dos altifalantes soa uma voz eletrónica que pede que se desliguem os telemóveis e se esqueçam as redes sociais; depois, uma sequência de frases e músicas pop aparentemente aleatórias. Os Enes saltam da escada lateral para o palco, com indumentária branca a condizer. As luzes azuis nos calções brancos são recebidas com surpresa pelo público. Andrés, o vocalista eletrizante deste grupo, grita “Olá!”. A fraca resposta leva-o a repetir “Olá! Está tudo surdo aqui?”. Antes de cada música, faz algumas perguntas sem sentido ao público – que passam a fazer sentido quando se percebe que são em jeito de introdução à faixa que se segue. “Quantos de vocês têm substâncias ilícitas aqui? Toxiiic!”. Irrequieto, Andrés salta pelo palco, sobe a caixas de som e holofotes, oferece, até, o conteúdo de um cantil a elementos da primeira fila – que seria, com um certo nível de dúvida, água.

Throes + The Shine. O concerto da noite. O reinado da fusão rock-kuduro no Indie fica estabelecido à uma da manhã. A energia efusiva deste trio é contagiante e irresistível. O público presente no Palco Indie Music Fest dança, canta, salta, abana os braços. Mob, o vocalista da banda, mexe-se a uma velocidade estonteante pelo palco – e fora dele. Salta para as colunas, sobe para as grades, trepa para a estrutura metálica do palco, faz crowdsurfing, dança num círculo no meio do público. Este é o primeiro concerto da noite com verdadeiros moshes e crowdsurfing.

Os seguranças (nunca se viram seguranças tão simpáticos num festival de verão) fazem o possível e o impossível para segurar as grades no sítio, que oscilam sob o peso da multidão – mas sempre com um sorriso na cara, felizes com a alegria em frente de si. Até Mob repara em tal pormenor, fazendo festas na cabeça dum dos seguranças enquanto canta na beira do palco. Mob é como um furacão: começa com um casaco de peles branco, mas ao longo do concerto vai atirando com casaco, fita de cabelo e óculos para o público, assim como várias garrafas de água. Salta tanto e com tanto entusiasmo, que até do palco cai. Mas em dois segundos está novamente de pé, “quem nunca caiu que atire a primeira pedra”, brinca. Mantém uma interação intensa com o público, dizendo frases brincalhonas, encorajando mais e melhores passos de dança, pedindo a subida da temperatura no recinto (“estamos a chegar aos 50 graus”). Diz que o público do Indie é o “melhor de sempre”. O público é, de facto, muito bom –  tão bom que até a tela do chão acaba rasgada a meio. Este é um concerto que irá ficar bem marcado na memória dos indies e do festival.

“Yuzi Gang!” ecoa pela multidão reunida junto ao Palco Relva. A entrada do rapper em palco faz as delícias dos jovens na primeira fila, que sabem cada palavra de cada música, do início ao fim do concerto. Yuzi traz dois convidados consigo: Lon3r Johny e Fínix MG. A audiência reage e responde a Yuzi, exigindo mais e mais. Criam-se moshes no centro da relva, são ouvidos pedidos por músicas específicas ou por fotografias e autógrafos. A revelação do hip hop nacional fala com o público, feliz com as reações que está a despoletar – sem nunca parar de saltar e abanar as rastas, tão caraterísticas de Yuzi. O concerto acaba com gritos de “só mais uma”, enquanto um grupo de raparigas corre para as grades, na tentativa de entrar pela lateral e conseguir uma fotografia.

Para os Indies mais entusiasmados – para todos os que ainda não queiram dar a noite por encerrada – os DJ set de João Carvalho e Smuggla mantêm a temperatura elevada até as seis da manhã, na Fábrica Eletrónica.

 

 

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