Cultura
CONAN OSIRIS: “SE ESTIVER BOM PARA TI, VAI ESTAR BOM PARA OS OUTROS”
Tiago? Miranda? Conan, o Rapaz do Futuro? Osiris, o deus egípcio? O músico tem tantos nomes quantos os géneros musicais que domina e os temas que aborda. Natural de Lisboa, Conan Osiris caiu na cena musical portuguesa de paraquedas. Nos últimos meses, desperta paixões, move multidões e instala-se nos media.
Já dizia o ditado de Fernando Pessoa: “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Conan Osiris é a personificação contemporânea da expressão. Desperta sentimentos fortes – mas opostos – no público. Quem ouve a sua música pela primeira vez, estranha, tal é a fusão de sons e a intensidade percebida. Progressivamente, os ouvintes tornam-se em fãs – ou, até, em groupies apaixonadas, como o caso das raparigas na fila da frente que apregoavam “nunca mais lavar a mão”.
Para Conan, esta dicotomia é normal. “É uma aceção que se pode fazer. E depende muito também do gosto musical da pessoa, na verdade. Nem sempre estás com abertura para entender uma coisa. Ou aquilo te bate, ou aquilo não te bate. Nem é por ser diferente – há coisas que não te batem, ponto final. Se tu não gostas do Toy, não vais estar a tentar entender o Toy. E comigo é a mesma coisa. Se não te bate, porque é que vais estar a fazer bué esforço para entender? Não vale a pena. Tem que ser uma relação natural.”
Misterioso e direto, exótico e tipicamente português, sério e despreocupado. O músico é repleto de paradoxos; isto está bem expresso na sua música. Os gostos diversificados levam-no a misturar trance, fado, kizomba, electrónica, xoróró, funaná, metal, assim como sons – apelidados de étnicos – que lembram a música tradicional indiana e os cânticos ciganos. Em teoria impossível, mas na realidade praticável, a verdade é que Conan consegue construir temas coerentes que ficam no ouvido. Recentemente, talvez pela quantidade de vezes que é questionado sobre as suas influências musicais, decidiu começar a partilhá-las. “Eu tenho agora no Instagram todas as cenas que eu curto e quando eu me lembro – porque eu curto tanta cena – tento tirar um bocadinho, fazer uma instastory e por lá. São coisas tão díspares, às vezes, que só funciona se eu puser mal me lembro – porque nem sempre me lembro que gosto daquilo, às vezes bate-me na cabeça ‘vou ouvir’. Mas tudo aquilo me influencia, de alguma forma. Por isso, tudo o que encontrares lá, é também um reflexo do que eu posso ser.”
“Temas? São coisas que eu penso. São cenas que surgem no momento. Eu enjoo-me das coisas facilmente; tenho que trocar sempre sal com açúcar. Não consigo fazer uma música toda muito dramática, nem consigo fazer uma música toda muito alegre.” Músicas como “Borrego”, “100 Paciência”, “Ein Engel”, “Nasce Nas Acucenas”, “Titanique” e “Amália” percorrem um vasto leque de temáticas, sem nunca perderem a essência da personalidade de Conan. “Eu não gosto de ser muito uma coisa. Não quero ser o cantor dramático, nem quero ser o cantor humorístico. Eu quero ser eu.”
João Reis Moreira é a outra figura nas atuações de Conan; o músico e o bailarino acompanham-se mutuamente. João dança como poucos, sendo a sua emoção e dedicação sentidas até nos cantos mais remotos dos palcos. Para muitos no público, é, até, o ponto alto da noite. “É uma das pessoas que eu conheço há mais tempo. Eu conheci-o praí há dez anos e ele sempre acompanhou as minhas cenas. É das pessoas que sabe mais a minha música de cor e, para além disso, é dos melhores bailarinos de sempre.”
O albúm “Adoro Bolos” foi publicado no virar do ano, a 30 de dezembro de 2017. Desde então, Conan Osiris foi catapultado para a troposfera – ou, quem sabe, da troposfera. No entanto, quem conhece o seu trabalho sabe que este é já o seu terceiro disco. “Silk” saiu em 2014; “Música Normal” chegou aos ouvintes em 2016. A conta no Soundcloud está cheia de criações e experiências sonoras, estendendo-se até há 7 anos atrás.
Reconhecendo a sua evolução enquanto músico e enquanto indivíduo, Conan Osiris lembra que andou “na faculdade a tirar design gráfico. E eu não uso design gráfico para nada. Não gosto, nunca gostei – eu estava na faculdade, basicamente, para viver com os meus amigos”. Para os jovens – futuros músicos ou só apaixonados pela arte – reserva vários conselhos. “O que eu tenho para dizer às pessoas é: não tenham pressa de nada, mas, ao mesmo tempo, comecem a planear as cenas. Há uma grande diferença entre estudar uma área e gostar de uma área. Se gostam mesmo bué, bué, bué de uma cena, não tentem esquematizar demasiado, nem tentem escrutinar demasiado a nível académico. Porque, a nível académico, há mesmo muita gente que te quer meter m**** dentro da cabeça – e te quer formatar. Se gostas de uma coisa, tenta não a estudar muito. Em relação a música e a espetáculo. Faz a tua cena. Tem a certeza que aquilo te bate a ti – e aos teus amigos, pelo menos. E vai em frente. Faz primeiro para ti. E se estiver bom para ti, vai estar bom para os outros.”