Cultura

HÁ ARTE NA RUA DA ALEGRIA – ENTREVISTA

Published

on

A Fábrica da Rua da Alegria é um espaço de encontro e criação artística na baixa da cidade do Porto, fruto do trabalho ex-alunos do curso de teatro. A Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo (ESMAE) e o Instituto Politécnico do Porto (IPP) cederam o espaço que a Fábrica ocupa.

Estivemos à conversa com José Francisco Beja, Presidente da ESMAE e Membro do Conselho Geral do IPP.

  

Como é que surgiu o projeto da Fábrica?

A fábrica começou por ser um espaço comprado para a expansão da escola. Fundamentalmente, a ideia era vir a construir um espaço que permitisse alargar o ensino da música e da dança. Depois começou decaiu o investimento no ensino superior e as oportunidades de construir foram desaparecendo. E, assim, ficou aquele espaço ali um bocado devoluto.

Durante muito tempo quem acabava aqui os cursos tinha a expectativa, verdadeira,  de que tinha emprego lá fora, não precisava de construir projetos, acabava por se integrar naquilo que já existia. Isso deixou de ser uma realidade.

Mas, eles queriam continuar a fazer a teatro. Passaram a desenvolver projetos próprios, porque já não se podiam encaixar nos projetos dos outros, porque já não havia maneira de encaixar. Os alunos olharam para aquele espaço vazio e ofereceram nos a proposta “não é possível trabalharmos lá?”. Desenvolveram projetos e foi assim que a fábrica começou. Começou devagarinho.

Começou a partir até dos diplomados, de alunos que concluíram a escola. Começou de uma forma informal.

 

Apenas a música e dança figuravam no início?

Não. Começou por ter uma ligação mais forte com o teatro. Foi a base. Depois começaram a aparecer outros projetos ligados à música e vídeo. Mais tarde vieram as artes gráficas.

 

O financiamento é procurado pelos alunos ou garantido pela ESMAE?

Em alguns dos projetos, sim. Muitos dele já eram profissionais. O ESMAE cedeu apenas um espaço. É preferível ter gente lá dentro, gente com vontade e ideias.

 

Há ligação com a ESMAE?

Não temos nada  que ver com o modo como os projetos se desenvolveram, desenvolveram-se por si, autónomos, sem interferência nossa. É evidente que quando nos pediam ajuda, a cumplicidade sempre existiu do nosso lado e é importante para nós que tenham uma ligação à escola.

Os grupos começaram a ter um peso artístico e cultural na cidade do porto?

Há boas relações, nisto incluo a escola, com o S. João. Tivemos um laço muito forte com um Tivoli, porque éramos sócios numa iniciativa entre a Câmara e o Politécnico. Temos uma colaboração fácil com a Câmara.

No entanto, persiste uma adversidade nos órgãos de comunicação: as atividades culturais não são notícia, não são prioritárias. Quando pensas nisso, quantos críticos há no Porto que façam crítica de teatro? Não há, desapareceram. A cultura deixou de ser notícia. Quando há espaço encaixa-se, quando não há espaço editorial não importa.

Na cidade, há público e acho que continuará a haver. É cada vez mais diverso e está a fugir das produções tradicionais. O que é curioso na fábrica é a multiplicidade de projetos existentes e o modo como muitos são alternativos.

Os alunos que estão a terminar do último ano, revelam interesse em como chegar à Fábrica? Há já uma estrutura destinada a recebê-los?

Eu acho que não há uma estrutura. É um processo dinâmico, de há muito pouco tempo. Pode não haver uma solução imediata, mas eles vão arranjando maneira de ir encaixando ideias e partilhando espaços.

 

Existe liberdade para alunos de outras faculdades apresentarem projetos exteriores à Fábrica?

Acaba por ser uma decisão deles. Depende da capacidade que têm de acolher novas produções. Eles partilham uma rede, é evidente que, dependo das ligações que fazem, podem decidir acolher ou não. Partilhando o mesmo espaço, eles partilham recursos, partilham pessoas.

 

Perspetivas futuras.

Não estou a prever grandes investimentos exteriores para a Fábrica. Mas acho possível que se adquiram espaços, há áreas abandonadas na baixa que poderiam ganhar nova vida. Tudo depende das relações com a Câmara.

Eles estão à procura de um sentido para aquilo que fazem. Estão numa fase de pensar coletivamente se há um movimento ligado à Fábrica. Se aquilo que nós chamamos a Fábrica são 19 projetos soltos ou há coerência. Eles são de uma geração que vai ter de perceber isso, se é uma geração que se afirma e constrói uma identidade ou se são 19 projetos avulso.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Exit mobile version