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Cultura

MESK: “DÁ ORGULHO VER HORAS DE DEDICAÇÃO”

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Mesk provém da mescalina, uma substância psicotrópica extraída de determinadas espécies de cactos, que, depois de ser ingerida, provoca alucinações.”

 

A Praça da República é o local de encontro entre Mesk e o JUP. O graffiter deixou a sua marca numa das paredes que circundam o jardim, alegrando uma parede abandonada. Um urso polar, a sua marca mais típica, foi o que pintou. A razão? Como já está na cabeça sai mais rápido. As cores usadas, tons de azul e branco, conjugam com o tom azulado da parede e permitem uma harmonia celestial.

Depois destas breves explicações sobre o graffiti ali presente, é hora de avançar para o próximo, perto do Bolhão. No caminho, Mesk revela um pouco de si.

O artista urbano sempre estudou artes, mas não começou logo no graffiti. Só depois de conhecer pessoas que já pintavam e ser convidado a experimentar é que se iniciou nestas andanças, mas considera ser “ser mais um ilustrador do que writer”.

Apesar disso, Mesk deixa-se deslumbrar pelas potencialidades de ter a parede como tela, uma tela infindável e de enormes dimensões, o que traz muita mais “pica do que trabalhar limitado a uma folha de papel”. A adrenalina é, assim, uma das razões para se pintar na rua, mas o artista não se deixa iludir pela “pica” e acredita que o graffiti legal, por ser mais trabalhado e por se poder despender mais tempo, tem outro brio e outra preocupação, evidentes nas suas peças expostas até ao passado dia 1 de Junho no Edifício AXA.

O writer conta também que o graffiti influenciou o seu estilo como ilustrador, sempre cartoonizado. Este estilo remonta aos desenhos que “desde miúdo” fazia e aos desenhos animados. Mesk explica que os desenhos animados da sua altura eram os melhores para servir de inspiração, pois não eram nada robotizados ou “hi-tech, eram bem mais simples e acabavam por ter uma mensagem. Nem que fosse «sorri», «não há só coisas más» ”. O artista continua a explicação dizendo que este tipo de temáticas, que já não são abordadas pelos cartoons de hoje, focados em “cenários mais fictícios”, está sempre presente, nem que de forma inconsciente, nos seus trabalhos.

O trabalho de Mesk é, então, espalhar alegria pela cidade, esboçar um sorriso no rosto de todos aqueles que passam pelas suas obras. “É sempre ter alguma coisa humorística” e com várias interpretações que dependem da pessoa. “Pode ser um cão, pode ser um urso, pode ser o que ela quiser!”, brinca.

Enquanto se caminha pela Rua St. Catarina, Mesk revela também como não foi fácil a aceitação da sua profissão por parte dos pais, uma situação natural neste tipo de casos. “Ser writer era ser vândalo.”, afirma. Contudo, a sua motivação, evolução e sucesso na área mudaram a forma como os pais olham para cultura, orgulhando-se, agora, do trabalho do graffiter.

Mas o artista urbano acredita que agora é mais fácil escolher este caminho, principalmente porque o graffiti “subiu mais um escalão dentro das artes”, vendo a profissão de writer ter um carimbo de aprovação de uma forma mais rápida.

Finalmente se chega ao destino, uma perpendicular da Rua St. Catarina, que marca uma das laterais do Centro Comercial Plaza. Vira-se à direita e observa-se, de imediato, uma mulher de longo pescoço, com cores vibrantes a preencher.

A casa que tem tal obra é de uma familiar que lhe “deu” a parede, uma forma de a colorir e de tapar marcas indesejadas. A peça baseia-se nas formas arredondadas e no brilho, trabalhando a dicotomia luz/sombra. Esta rapariga é a única na cidade Invicta e, a par desta, só existem mais duas, nunca completamente iguais, em Viana do Castelo e em Guimarães.

A conversa é retomada para falar do trabalho de freelance que Mesk faz, uma maneira “muito difícil” de viver, mas que, com o a criação de boas relações com as pessoas para quem faz os trabalho e o cumprimento de expectativas, vai dando para viver da arte.

Ainda que o graffiter já tenha tido outros trabalhos não relacionados com esta vertente artística (seja a pintar graffiti ou como ilustrador digital), a rotina e a falta de preenchimento fizeram com que procurasse viver só desta arte.

Assim, os clientes que mais procuram o trabalho de Mesk pretendem, principalmente, a ilustração de quartos de criança, muito pelo seu estilo cartoonizado. Também tem nos eventos e campanhas outras fontes de receita, pois a arte “paga bem”. No entanto, os clientes não estão preparados para pagar o dinheiro merecido por um bom trabalho, o que pode ser um problema.

Chega-se ao Edifício AXA, o último destino. Aqui, até ao passado dia 1 de Junho, Mesk tinha várias intervenções espalhadas por dois pisos.

Começa-se pelo sétimo piso. A ida de elevador não custa e toda a gente sabe que é mais fácil descer as escadas do que subi-las. Aqui, ao virar-se à direita, é impossível não ver o grande urso polar exibido na parede, um aperitivo para quem entra na sala do artista.

O espaço não tem uma única obra que remeta para o mesmo espaço imaginário: um osso que é, mais do que isso, um pé; uma mão com olhos, um “mundo” com que Mesk gosta de brincar e, claro, o inevitável tag do artista. A ideia foi, na sua generalidade, “mostrar o que não sai do papel”, dando a conhecer aos visitantes do edifício um Mesk que não será tão percetível nas ruas do Porto.

Na mesma sala pode-se ver, olhando para a imensidão da Avenida dos Aliados, a cabine, ainda presente, do graffiter, em colaboração com Fra.Biancoshok. Esta intervenção regia-se pelo princípio da efemeridade, que já se fez notar pela destruição da parte do artista italiano e pelo desaparecimento de algumas das pequenas janelinhas das cabines que relembram a cidade londrina.

No terceiro piso, o graffiter conta com a exposição de duas das suas obras de ilustração digital e com, muito provavelmente, o graffiti com a mensagem intervencionista mais notória. A intenção é clara: mostrar os dois lados do graffiti, o legal e o ilegal, e como cada um é visto pela sociedade.

Assim, quem faz o “i” da palavra ilegal é perseguido e pressionado por vários indivíduos que, na generalidade, são todas as pessoas que condenam esta prática, e está sempre protegido por uma máscara, pois faz as coisas “à rebelia”. O graffiter que está do lado legal já não apresenta tais problemas. A pose de estrela e o “dar a cara” são as características apresentadas, pois, este artista já tem o carinho de fãs e a atenção dos media.

Este tema fez, segundo Mesk, bastante sentido naquele que foi o primeiro apoio por parte da Câmara Municipal do Porto ao graffiti e, em geral, à arte urbana. Segundo o artista urbano, este foi um importante primeiro passo para deixar de lado o período conturbado que deixou graves marcas na arte portuense. Mesk explica que pessoas sem sensibilidade ou formação estavam a apagar coisas despropositadas. “Tanto abafavam um «Amo-te Joana» como um Banksy”.

O writer termina frisando que ninguém nasce ensinado e que ter evoluído ao ponto de ter sido convidado para integrar o painel dos mais de vinte street artists que fizeram parte do Street Art AXA é “óptimo”.

Mesk acrescenta que, ainda que o ilegal lhe traga a “pica” que tanto gosta, “dá outro orgulho ver uma peça trabalhada com horas de dedicação e não minutos”.

Assim, o encontro com o JUP chega ao fim, num edifício que, durante mais de um mês, foi paragem obrigatória para os amantes do graffiti, mas, acima de tudo, de toda a cultura urbana!

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