Cultura
PRÉMIOS NOBEL ENTREGUES ESTA SEMANA… SEM LITERATURA
Ano após ano, o mundo paralisa para assistir às nomeações dos Nobel. Os galardões são dos mais respeitados a nível global e transversais a várias áreas. O calendário é igual todos os anos: da primeira segunda feira do mês de outubro à da semana seguinte. São seis prémios, um atribuído em cada dia útil.
Este ano, o vencedor do Prémio da Fisiologia ou da Medicina foi anunciado na segunda feira, dia 1 de outubro. No dia seguinte foi a vez do da Física. O Nobel da Química foi divulgado ontem de manhã. O tão esperado Prémio Nobel da Paz 2018 foi otorgado a Denis Mukwege e Nadia Murad, ambos ativistas contra a violência sexual em conflitos. Por último, segunda feira, dia 8, será entregue o correspondente às Ciências Económicas.
Até agora, foram oito os cientistas distinguidos.
Na área da Medicina, James P. Allison (do Centro para o Cancro M.D. Anderson da Universidade do Texas) e Tasuku Honjo (da Universidade de Quioto) – pelos estudos realizados com proteínas específicas, com um papel essencial no sistema imunitário e na luta contra o cancro.
O Prémio Nobel da Física foi dividido em duas metades. A primeira foi atribuída ao norte-americano Arthur Ashkin; a segunda ao francês Gérard Mourou e à canadiana Donna Strickland. Estes três investigadores salientaram-se pelos seus trabalhos no domínio da física de lasers. Estamos em 2018, mas apesar disto, a verdade é que a grande novidade neste prémio é de existir uma mulher envolvida. Donna Strickland é apenas a terceira na história a ser laureada com o Nobel da Física. As suas antecessoras são Marie Curie (1903) e Maria Goeppert-Mayer (1963).
Os últimos a entrar para a história da Academia Sueca [ontem] foram a norte-americana Frances H. Arnold (Instituto de Tecnologia da Califórnia), o norte-americano George P. Smith (Universidade do Missouri) e o britânico Gregory P. Winter (Laboratório de Biologia Molecular do Medical Research Council, em Cambridge).
Segundo o habitual, o Prémio Nobel da Literatura 2018 seria entregue ontem. Continua a existir Nobel da Literatura, mas o ano de 2018 é apagado da cronologia. O de 2019 também, possivelmente.
A categoria da Literatura anda envolta em polémica desde novembro de 2017. Jean-Claude Arnault, fotógrafo e dramaturgo de ascendência francesa e sueca, foi alvo de uma denúncia anónima de abusos e agressões sexuais. A relação de Arnault com o Nobel? Aparentemente, nenhuma. Mas Arnault era o gestor do Forum – Contemporary Scene of Culture em Estocolmo, um espaço de artes fundado pela Academia Sueca, e é casado com um dos membros do comité que atribui o prémio, Katarina Frostenson. Para piorar a situação, a denúncia foi conjunta, encabeçada por 18 mulheres. A academia afastou-o e pediu uma auditoria independente. Com a ascensão do movimento #metoo a desenrolar-se em paralelo, o dramaturgo foi condenado, com sentença de dois anos de prisão.
As consequências de todo este escândalo, aliado a denúncias de fugas de informação, corrupção e irregularidades nas finanças, foram desastrosas para a Academia Sueca. Cinco dos membros do júri abandonaram o comité – entre os quais Katarina Frostenson. Salienta-se que os dezoito lugares neste comité são vitalícios, sendo a eventual substituição dos membros um caso bastante complicado. Assim, o júri perdeu o quórum para avaliar e decidir a quem atribuir o Nobel. Com a intenção de proteger a credibilidade da instituição e a reputação do prémio, a Fundação Nobel decidiu suspendê-lo em 2018.
Lars Heikensten, diretor da Fundação, chegou mesmo a admitir a possibilidade de o galardão também não ser entregue em 2019. Na sua opinião, não existe um prazo, sendo necessária à Academia a recuperação da confiança do público.
É a primeira vez que o Nobel da Literatura não é entregue por razões desta natureza, mas não é o primeiro ano em que o prémio é suspenso. O Nobel da Literatura ficou por entregar em 1914 e 1918, em 1935 e de 1940 a 1943. Nestas datas, o senso comum atribui os motivos às duas Guerras Mundiais, apesar de a Academia nunca ter justificado formalmente o ocorrido.
A Nova Academia e o Novo Nobel da Literatura
Segundo as informações disponibilizadas no website da Nova Academia, esta “foi fundada para garantir que um prémio literário internacional seja atribuído em 2018, mas também como um lembrete de que a literatura deve estar associada à democracia, abertura, empatia e respeito. Numa época em que os valores humanos estão a ser cada vez mais questionados, a literatura torna-se na força contrária da opressão e num código de silêncio.” Esta Nova Academia será dissolvida em dezembro.
Assim, seguindo este novo processo, os bibliotecários da Suécia apresentaram possíveis candidatos ao prémio, o público foi convidado a votar nos autores com mais indicações e um júri de especialistas teve a avaliação final. Os finalistas são Maryse Condé, Haruki Murakami (que entretanto pediu para ser retirado da votação), Neil Gaiman e Kim Thúy. O vencedor será anunciado a 12 de outubro.
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