Cultura

MÁRIO LAGINHA AQUECE A PÓVOA

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No passado dia 31 de outubro, no âmbito do ciclo de concertos “Ala Música com…” – uma iniciativa da Associação Pró-Música -, a cidade da Póvoa de Varzim recebeu o conceituado pianista e compositor português Mário Laginha. Uma das grandes figuras do jazz nacional, o artista tocou durante cerca de duas horas no Cine-Teatro Garrett.

O recital começou da maneira que mais corresponde à essência musical do jazz: com um improviso. Logo desde o início, Laginha demonstrou a sua magnitude, a sua capacidade de dinamização e o seu contributo na dimensão jazzística; notava-se, por vezes, uma vontade do pianista de tocar sucessivamente, mas as palmas do público proclamavam-se mais alto, e, como tal, renunciava-se ao agradecimento.

Ao longo da noite, Laginha tocou improvisos, “Sol”, “Berenice”, “Fado”, “Tanto Espaço”, “Do Lado De Lá Do Mar” e “Um Choro Feliz”. Tudo composições da sua autoria.

Em “Fado”, apresentou, musicalmente, uma conceção totalmente diferente do convencional no Fado, deixando como enigma ao público (talvez, para alguns, resolvido) o seu significado e pretensão. Mais à frente, o músico exteriorizou até que ponto pode ir o seu conforto e familiaridade com o seu instrumento predileto: enquanto tocava com a mão direita, a mão esquerda estava no interior do piano a abafar as cordas, de modo a limitar a vibração das mesmas, criando um som mais seco e pontilhista. Nem sempre tocando desta forma ao longo da peça, intercalava com o modo mais comum de tocar para enriquecer harmonicamente a obra.

Num equilíbrio entre formal e casual, Laginha emanava um vigoroso espírito musical, acompanhado de uma nobreza de espírito. Complementando a identidade do Cine-Teatro Garrett, que está habituado a pianistas clássicos, não refreou o seu corpo nem a sua voz, batendo ao longo do concerto com o pé, movimentando o seu corpo, e entoando o que lhe ascendia naturalmente no fluxo dos temas.

Ricardo Ferreira e Renato Vieira, dois estudantes de Guitarra Clássica na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), fizeram questão de afirmar que adoraram o concerto, e que foi uma honra para eles ver “o melhor pianista de jazz que alguma vez já viram” – tanto na pele de intérprete como na de compositor -, atribuindo principal destaque à forma como utiliza a harmonia nas suas composições.

A absorção musical era evidente no pianista, mas não só nele; ainda era visível uma cabeça encostada a um ombro ou uma criança muito quietinha e atenta. No final, Mário Laginha recebeu uma ovação em pé incessante, sendo praticamente obrigado a tocar mais uma vez. E assim se passou mais uma noite de inverno calorosa numa sala amena e cómoda, à saída vendo refletida no rosto a satisfação dos presentes.

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