Cultura

JUP DESTAQUES: OUTUBRO 2018

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Sejam bem-vindos à nova rubrica do JUP Cultura. O JUP Destaques explica-se por si só: todos os meses, vamos destacar o que de melhor se faz no mundo da cultura. Livros, música, séries, cinema.

A dimensão cultural é imensa, o que torna bastante difícil a escolha. Assim, as nossas três escolhas por categoria serão, naturalmente, subjetivas, mas feitas com a ponderação e garantia de qualidade necessárias.

Fresquinha é a rubrica, fresquinhos são os Destaques que vos trazemos.

 

Literatura

Os dez espelhos de Benjamin Zarco, de Richard Zimler 

O nome de Richard Zimler, tão querido do público português, está de volta às livrarias. “Os dez espelhos de Benjamin Zarco” é o novo romance do autor.

Este livro marca o regresso da família Zarco. Desta vez, os protagonistas são Benjamin e Shelley – os únicos membros da família a escapar ao Holocausto. A culpa, o fardo de terem sobrevivido a todos os outros, a maneira como lidam com os seus traumas – e como tudo isto afeta o relacionamento com quem os rodeia – são alguns dos assuntos abordados.

O livro está escrito como um mosaico e dividido em seis peças. Isto atribui ainda mais valor ao esforço do escritor: cada capítulo é escrito da perspetiva de uma personagem diferente; sendo estas bastante divergentes entre si, a nível de personalidade e história de vida, a sua voz interior também varia, tendo, necessariamente, o estilo de escrita de mudar também.

Relacionando o passado com o presente e projetando o conjunto dos dois para o futuro, é um livro comovente e que nos faz refletir. O amor, a solidariedade e o heroísmo estão presentes na forma de personagens inesquecíveis, que irão permanecer com o leitor muito depois de este ter acabado a leitura.

 

Pão de Açúcar, de Afonso Reis Cabral 

Em 2006, um dos mais horríveis e controversos crimes ocorre na cidade do Porto. Dez anos depois, Afonso Reis Cabral decide pegar na história do fim trágico de Gisberta Salce Júnior e tentar passar para o papel as palavras que nunca foram nem poderão ser ditas.

Um livro que teve mais de um ano de investigação, uma narrativa contada na perspetiva de um dos rapazes – um dos 14 agressores de Gisberta. O edifício abandonado onde se desenrolaram os acontecimentos naquelas duas semanas de fevereiro, começou agora – passado tanto tempo – a ser recuperado. Mas o caso não pode ser esquecido, e é esse o objetivo de Afonso Reis Cabral. Conseguir alguma justiça para Gisberta, alertar para problemas que continuam a existir, desmistificar outros e tentar, de alguma forma, impedir que a História se repita.

Escrito num estilo que só este vencedor do Prémio LeYa 2014 conseguiria, é um livro desafiante – avassalador, até. Mas, acima de tudo, importante para nos relembrar as facetas do ser humano e os extremos a que pode chegar, quando as circunstâncias são propícias a tal.

 

The Truth Pixie, de Matt Haig 

Esta é uma escolha pouco convencional, mas é, sem dúvida, um dos grandes destaques deste mês. Não se sabe se será algum dia traduzido para português, visto que apenas os livros para adultos do autor o têm sido, mas pode ser que alguma editora pegue naqueles que são dirigidos às para crianças.

The Truth Pixie é um livro através do qual se tenta contar algumas verdades difíceis às crianças, através de personagens peculiares e bastante engraçadas. Permanecendo fiel à sua essência, Matt aborda temas como a depressão, o medo, a dor e a solidão, num livro lindo e profundamente tocante. Escrito em forma de rima e com ilustrações de Chris Mould, é uma espécie de Reasons To Stay Alive para crianças, mas que deveria ser lido por toda a gente.

Para aliciar a curiosidade, ficam estas publicações de Matt Haig na sua conta do Instagram.

 

Outros a destacar: Killing Commendatore, de Haruki Murakami | Elevation, de Stephen King | The Witch Elm, de Tana French | Bridge of Clay, de Markus Zusak

Sofia Silva

 

Cinema

First Man, de Damien Chazelle

First Man – ou, na versão portuguesa, O Primeiro Homem na Lua – é baseado no livro First Man: The Life of Neil A. Armstrong, de James R. Hansen. Com argumento de Josh Singer e Steven Spielberg como produtor executivo, este drama biográfico mostra a evolução da missão Apollo 11 durante os anos.

A narrativa acompanha todo o processo: os testes, as vitórias, as falhas, as desilusões, as frustrações e as alegrias da equipa. Com início em 1961, termina com a chegada ao objetivo final, em 1969. Finalmente, o Homem põe o pé na Lua.

Neil Armstrong é interpretado por Ryan Gosling e Buzz Aldrin por Corey Stoll. O elenco conta também com Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chandler, Ciarán Hinds, Christopher Abbott, Patrick Fugit e Lukas Haas.

Apesar do marco histórico para o Homem, o filme centra-se no homem – Neil. Podemos ver a sua vida explorada ao microscópio no grande ecrã. Um filme em que o final já é do conhecimento do público é sempre um desafio, mas assim são os filmes biográficos, e este até correu consideravelmente bem; First Man tem classificação de 7.7 no IMDb (votação de 41.218 utilizadores).

Beautiful Boy, de Felix Van Groeningen

Continuando na mesma esfera cinematográfica, mais um drama biográfico. O filme Beautiful Boy era esperado nas salas de cinema portuguesas a 18 de outubro, mas, até agora, nada se soube ainda.

A relação entre um pai e o seu filho viciado em drogas é o enredo central desta produção americana. Adicionalmente, é a história da relação de um rapaz com diversos tipos de drogas.

O filme é toda uma montanha russa. As subidas e as descidas, a sobriedade e as recaídas, a vida familiar e a vida na rua. É um contínuo jogo do gato e do rato entre pai e filho, entre a felicidade e as drogas – em que o game over no ecrã corresponde à morte de Nic.

Steve Carell foi o ator escolhido para encarnar David Sheff; a personagem do filho, Nic, ficou ao cargo de Timothée Chalamet, o rapaz de 22 anos que já participou numa seleção surpreendente de filmes, estando o grande destaque em Call Me By Your Name. Ainda, Brad Pitt faz parte da equipa de produção.

Beautiful Boy baseia-se nos livros de memoirs de – algo surpreendente e inédito – David Sheff (pai), Beautiful Boy: A Father’s Journey Through His Son’s Addiction, e Nic Sheff (filho), Tweak: Growing Up on Methamphetamines. É uma narrativa poderosa, repleta de sentimentos – que, por vezes, nem uma palavra para os denominar têm.

A Star is Born, de Bradley Cooper

Assim Nasce Uma Estrela. A Star is Born é um filme para o qual as expectativas já estavam demasiado elevadas. Apesar disso, a produção conseguiu lidar com a pressão e o filme superou-as em larga escala.

Pode-se, como já foi feito, estabelecer uma relação entre este filme e o anterior e referir que também A Star is Born fala sobre a relação do homem com a dependência – a bebida, neste caso.

Na realidade, esta versão de 2018 é a 5ª da mesma história. O filme original data de 1937. Entre estes, existem dois musicais (um deles de rock) e uma produção romântica de Bollywood. Da mesma forma, a versão final foi filmada com a 5ª escolha de ator principal masculino; o início do planeamento do filme já foi há sete anos atrás.

Apesar de tudo isto, o drama musical é soberbo. A escolha de atores foi perfeita, com Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Ally. Nos primeiros minutos de filme fica claro que tem os ingredientes necessários para a típica comédia romântica. Quem se deslocou às salas de cinema com zero conhecimento prévio do filme levou vários choques tremendos ao longo destes 135 minutos.

Já há algum tempo que um filme não surpreendia tanto (a nível de plot twists). Para além do mais, é muito interessante a crítica subentendida ao estado atual da indústria musical.

Por fim, destacam-se, claro está, as composições originais do filme.

Outros a destacar: Bohemian Rhapsody, de Bryan SingerSmallfoot, de Karey Kirkpatrick | Bad Times at the El Royale, de Drew Goddard | The Nutcracker and the Four Realms, de Lasse Hallström

Sofia Silva

 

Música

Santa Rita Lifestyle, Conjunto Corona

Depois de uma vida de excessos em Lo-Fi Hipster Sheat, a ida para o “Sheraton dos queimadinhos” em Lo-Fi Hipster Trip e o encaminhamento pelo sex-work na casa de alterne Cimo de Vila Velvet Cantina, o produtor dB e o rapper Logos decidiram abandonar a vida de pecado e encarreirar pela religião em Santa Rita Lifestyle.

Para além do habitual gozo e letras descontraídas, é por entre referências ao estilo de vida suburbano dos “manos” de Gondomar, Trofa, Águas Santas, Rio Tinto e Maia – que vão de Honda Civic ao McDonald’s às 2 da manhã pitar um Happy Meal – e pela sonoridade já conhecida que estes jovens nortenhos de gema se mostram mais “fora de brincadeiras” do que nunca. As caricaturas que fazem vão muito para além da ironia e, principalmente em momentos como “187 no Bloco”, fazem homenagem, sim, a essa tão típica maneira de ser dos portugueses, em especial das gentes do Norte.

Qualquer álbum que comece com um excerto de um vídeo tão mítico como “Jesus é uma Merda”, ou faça da icónica participação da senhora Dorinda Gandra de Gondomar no programa Opinião Pública um interlude, podia ser considerado um clássico instantâneo. Mas Santa Rita Lifestyle é mesmo.

 

Pieces of a Man, Mick Jenkins

O MC de Chicago que chegou ao game em 2014 e reuniu logo um esquadrão de fãs, unidos pela importância da água com a mixtape The Water (S), acordou a agradecer a Deus e decidiu reunir o seu melhor trabalho num álbum dedicado e inspirado por um dos seus ídolos, Gil Scott-Heron.

Considerado um pouco um eremita do rap world, Mick Jenkins continua a surpreender sempre que decide por o pé fora de casa. Depois de descrever a sua cidade, a sua cultura e as suas relações no irmão mais velho The Healing Component, chegou agora a vez do próprio rapper se dar a conhecer melhor em Pieces of a Man – a sua identidade.

Sem nunca deixar de lado o storytelling e a crítica a que já nos habituou, é neste LP que Jenkins se deixa realmente ir e nos leva numa viagem pela sua mente; a sua perspetiva sentimental acerca da existência e de conceitos como a raiva, a reflexão, o crescimento e a maneira como somos vistos pelos outros – tudo embalado em beats jazzy, que são a calma que contrasta com os sentimentos crus dos versos cuspidos pelo MC. Uma viagem que vale muito a pena.

 

Saturn, Nao

Baseado no trânsito astrológico que mais atormenta os nerds de astrologia nos seus vinte e tantos anos, Saturn traz-nos tudo aquilo que este fenómeno – baseado no regresso de Saturno à posição do nosso nascimento – representa psicologicamente.

É neste álbum que Nao dá asas e voz ao seu crescimento e redescobrimento, como pessoa e como artista. Envolta no seu coração partido, a cantora aproveita este momento de vulnerabilidade e regeneração para não se deixar ficar, arrancando logo em “Another Lifetime” com um agridoce “I hope you find your way”, que tanto pode ser direcionado para um ex-amor, como para ela própria.

Em Saturn, Nao mais do que encontra o seu caminho; pavimenta-o e decora-o à sua maneira. O “wonky funk” que usa para se auto-descrever ganha cada vez mais sentido através de retiradas de R&B, pop e funk certeiras, aliadas a um registro vocal que vai de um quase sussurro a um falsetto penetrante com uma destreza conhecida a poucos.

Outros a destacarboygenius EP, boygenius | BALLADS 1, Joji |  The Light Is Leaving Us All, Current 93 | Time ‘n’ Place, Kero Kero Bonito | Mudboy, Sheck Wes | You Won’t Get What You Want, Daughters

Adriana Pinto

 

Séries

O mês de outubro é naturalmente associado às cores do outono, às abóboras e ao Halloween. Por isso mesmo, os destaques de séries deste mês são todos dentro da mesma temática: o sobrenatural, o terror e o horripilante. Começamos numa lista crescente, do menos para o mais assustador.

Chilling Adventures of Sabrina 

Sabrina Spellman é uma adolescente orfã, meia-mortal, meia-bruxa, que vive com as suas duas tias, Zelda e Hilda , e o seu primo Ambrose. Todos eles fazem parte da Igreja da Noite e prestam culto a Satanás. Com a aproximação do seu 16º aniversário, Sabrina terá de abandonar a sua vida dupla e aceitar o mundo da bruxaria por completo. No entanto, as suas ligações ao mundo mortal não a deixam abandonar o seu liceu e mudar-se para a Academia das Artes Ocultas tão facilmente como as tias desejavam.

Toda a história se passa na mágica cidade de Greendale, num tempo que não é possível datar, pois o ambiente que remete para o passado cruza-se com tecnologias do presente. Sabrina, interpretada por Kiernan Shipka, enfrenta inúmeros desafios de ordem sobrenatural no esforço de manter a sua vida mortal e proteger aqueles que ama.

A série da Netflix não é, de todo, um remake da sitcom dos anos 90 da ABC- Sabrina a bruxa adolescente– adotando um ar muito mais negro. Todavia, não chega a ser suficiente para assustar. Apresenta-se como uma boa série de drama adolescente com tramas interessantes mas pouco complicados, tal como a escrita. A estética é apelativa e a história também.

É uma ótima série para fazer uma maratona, num dia de chuva debaixo dos cobertores.

 

American Horror Story: Apocalypse

A 8º temporada de American Horror Story estreou em setembro deste ano e foi das mais aguardadas pelos fãs, depois da revelação de que iria ser um crossover de duas das suas temporadas mais famosas- Murder House e Coven- e do regresso, como atriz convidada, da adorada Jessica Lange.

Apocalypse baseia-se no mundo após um bombardeamento atómico que aniquila a maioria da população, deixando os vivos para uma morte lenta face ao inverno radioativo. A salvo encontram-se apenas aqueles que foram escolhidos, com base no seu ADN ou no seu dinheiro, para um lugar seguro, com, supostamente, o intuito de repopular a Terra. A primeira personagem de Murder House a fazer uma aparição é o jovem Michael Langdon, que era apenas um bebé na temporada inicial, e que é agora nada mais, nada menos que o Anticristo. Parece que o Satanás está em voga no mundo das séries.

A temporada alterna entre o presente e o passado, explicando os precedentes da situação atual. Nessa viagem pelo tempo, uma das paragens é a famosa Murder House, onde se revisita todas as personagens, incluindo o casal favorito do tumblr, Violet e Tate.

A dois episódios do final da temporada,  AHS: Apocalypse ainda não desiludiu, mantendo uma história coesa e desvendando  apenas no momento certo os mistérios da trama. Definitivamente uma série que vale a pena ver, nem que seja só para apreciar a Sarah Paulson a multiplicar-se em 18 personagens diferentes durante a temporada inteira.

 

The Haunting of Hill House 

The Haunting of Hill House segue a história da família Crane: o pai, Hugh, a Mãe, Olivia e os seus 5 filhos. A sua estadia na casa é curta e apenas com o intuito de remodelar e vender a mansão, todavia esta deixa a sua marca na família. Os cinco primeiros episódios são dedicados aos cinco filhos, um para cada um. Oscilam entre a infância, pouco comum, traumatizada pela casa assombrada, e o presente, já em fase adulta.  Também a casa se apresenta como uma personagem, viva, com personalidade. Por isso mesmo, os terrores que tomam lugar nas suas divisões ganham maior proporção, ganham propósito.

A série é um mix perfeito entre drama familiar e terror. Com uma classificação de 9 estrelas no IMDB, para muitos críticos, esta estabeleceu um novo patamar de qualidade dentro do género de terror. A série não é apenas horror, não se baseia em jump scares, mas relaciona o terror da realidade da casa com o que acontece dentro da cabeça de cada personagem, valorizando o terror psicológico e mais complexo.

A fotografia genial da série e a fantástica banda sonora que a acompanha ajudam a criar a atmosfera perfeita.

Cristiana Rodrigues

 

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