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Cultura

PORTO POST DOC: PESSOAS PELO CLIMA

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Foi em maio de 2018 que um grupo de famílias de todo o mundo se juntou para levar a União Europeia (UE) a tribunal, devido à alegada falha desta na luta contra o aquecimento global.

Segundo os representantes do projeto, apelidado de People’s Climate Case, a meta climática da UE para 2030 deve ser mais ambiciosa; não o sendo, vidas, casas e culturas inteiras poderão ser colocadas em risco.

Às 19h de quarta feira, dia 28, foram exibidos no Passos Manuel cinco breves documentários sobre o projeto, realizados por Linda Gehbauer. Três deles são dedicados às famílias portuguesas envolvidas na causa, e cada uma representa um setor diferente: Alfredo Sendim na agricultura, Ildebrando Conceição na apicultura e Armando Carvalho na floresta. Muita coisa os separa, a eles e aos seus setores, mas numa todos estão de acordo: as alterações climáticas põem-nos a todos em causa. Desde os incêndios à seca, às grandes e bruscas diferenças de temperatura e às tempestades, a urgência na mudança de leis e hábitos ficou bem assente na mesa redonda que se seguiu.

“O que está aqui em causa é as variáveis tempo e sofrimento. Em 2050 podemos ter um cenário de horror”, afirmou Alfredo Sendim. O agricultor vê com negatividade tanto o cenário atual como o futuro, e culpa muito as grandes organizações por isso. “A UE não está a fazer o que devia fazer, tanto na questão genérica como no esforço. Enquanto cidadãos, devemos perceber o que temos para fazer, mas não conseguimos atuar sozinhos.” Armando Carvalho concordou: “tem de mudar muita coisa do ponto de vista individual e coletivo, todos temos o direito e dever enquanto cidadãos de controlar isto”. Carvalho reiterou a importância da análise das consequências das alterações climáticas não apenas quando nos afetam diretamente, dando o exemplo dos incêndios que assombraram Portugal em 2017. No entanto, o engenheiro florestal afirmou ver 2050 com otimismo. “Eu confio no Diogo, o meu filho, e na próxima geração.”

Já Ildebrando Conceição afirmou que “[em 2050] não vou estar cá de certeza, mas se calhar não vai estar ninguém”. Foi através do processo de reprodução e ciclo de vida das abelhas, a sua grande paixão, que apontou os perigos das alterações climáticas, mencionando que nos últimos cinco anos se perderam milhões de colmeias, principalmente na Europa, e que, sem os pequenos insetos, “a humanidade duraria mais quatro anos, no máximo”.

O último interveniente foi Paulo Magalhães, jurista da ZERO, associação envolvida no projeto. Magalhães criticou aqueles que, ao contrário dos presentes, têm medo de ir contra organizações grandes, como é o caso da União Europeia. “Deixa-me triste que os juristas não sejam capazes de pensar. Esquecem-se por completo da matéria de direito e preferem focar-se no formal.”

Numa nota final, todos reiteraram a importância de conceitos como a sustentabilidade, a segurança dos cidadãos, a segurança de bens e as decisões fundamentadas em conhecimento, repisando a imprescindibilidade da frente de atuação de cada um: “quem queremos servir: a fantasia humana ou a natureza?”.