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Cultura

O UNIVERSO MÍSTICO E COLORIDO DE KIKAGAKU MOYO

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Kikagaku Moyo,  幾何学模様 ou “padrões geométricos”. O quinteto japonês volta a terras lusitanas para três concertos imperdíveis. O primeiro, no Círculo Católico de Operários do Porto, teve lugar no domingo e o JUP esteve presente, para iniciar da melhor maneira este mês natalício. Nos dias 3 e 4, foi a Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, que os acolheu.

Apesar de oriundo do movimento incessante de Tóquio, o grupo tem uma ligação especial com o nosso país e é sempre muito bem recebido cá. O último álbum, Masana Temples, foi gravado no estúdio Valentim de Carvalho, em Lisboa, no mês de abril deste ano. O seu produtor foi Bruno Pernadas, músico e compositor do mundo do jazz. Este LP que hoje faz dois meses é um bebé, mas um bebé de certa forma nosso também.

A promotora Lovers & Lollypops conseguiu, ainda, garantir a atuação de abertura de GÃRGOOLA, o projeto dos portugueses João Miguel Fernandes e Filipe Miranda.

GÃRGOOLA aquecem bem o espaço. As suas construções melódicas hipnotizantes colocam o público num estado de transe quase absoluto.  Começam lentamente, mas o ritmo vai evoluindo de forma impercetível.

Após um intervalo – em que o público aproveita para ir beber uns finos ou fumar no pátio interior do CCOP – o quinteto tão aguardado sobe ao palco. Pegando na linha instrumental do duo português, os japoneses iniciam a sua atuação dando asas ao seu talento multi-instrumental. As músicas sucedem-se umas às outras. Os Kikagaku partem numa jornada por montes e vales, descansam junto a lagos perdidos na floresta e caem por cascatas abaixo. E levam o público consigo.

O som psicadélico que os carateriza está cheio de nuances e aventura-se em incursões pela música clássica indiana, pelo krautrock, pelo folk tradicional e pelo rock dos anos 70. A improvisação é a palavra chave neste universo místico e colorido que os Kikagaku Moyo criaram, por entre vozes angelicais e solos de sitar.

Em certas músicas, as guitarras elétricas são substituídas pelo violoncelo e pela guitarra acústica. Baterista e guitarrista trocam de posições, num jogo de cadeiras que mostra a polivalência instrumental destes japoneses. Ondas de cor e luz invadem a mente, os sons transportam para outra dimensão – uma mais positiva e sonhadora.

Apesar de a música “sobre a libertação da mente e do corpo e a criação de uma ponte entre o supernatural e o presente” não ser uma que atraia histerismos como o k-pop (por exemplo), a verdade é que vários dos elementos femininos na primeira fila se encontram perto de um ataque de ansiedade, dando pequenos gritinhos entre elas e provocando os músicos no idioma nipónico. Idiomas não faltam na sala. Para álem do português – e do japonês, claro -, ouvem-se espanhol, inglês e alemão.

Alheio a estas interações, o público vibra com as notas musicais que flutuam pela sala. “Dripping Sun”, o single de estreia do álbum que nos é tão próximo, é particularmente bem-recebido. Os músicos, sempre com um sorriso na cara, mostram claramente estar a gostar deste momento de partilha.

Em resposta à habitual falsa saída, o público clama pelos músicos; estes respondem regressando ao palco com um sorriso infinito na cara. “Streets of Calcutta” é a última música tocada. Go Kurosawa, o baterista, confidencia “hopefully we’ll be back here next year”. Nós esperamos o mesmo e, se acontecer, lá estaremos.