Cultura

TRUQUES DA TRETA: O ESPETÁCULO DOS QUATRO DOS QUASE QUATRO

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Já todos passamos pela fase de questionar a veracidade da magia. Independentemente das ponderadas conclusões a que tenhamos chegado, pensemos juntos: se, de facto, a magia existisse e acontecesse sozinha, os Quase Quatro não se teriam juntado; não eram os bizarros e completos performers que são; e Viana do Castelo não tinha assistido a uma noite de tamanha arte. Felizmente, a magia não existe. Pelo menos, com estes dois artistas (que são Quase Quatro), não como a conhecemos.

No sábado à noite, num espetáculo de celebração do quarto aniversário da dupla, Tomé e Tozé encheram a Sociedade de Instrução e Recreio de Carreço (SIRC) de boa energia e, mais uma vez, reinventaram a magia – como é hábito – quebrando todos os conceitos pré-fabricados sobre mágicos e o seu ganha-pão. Se a nossa imagem mental nos conduz a um senhor sério a sacar coelhos brancos da cartola e a exibir umas habilidades atrás de outras, à espera de palmas, andamos desatualizados. Depois de “Magia, Seja Lá o que Isso For”, apresentam “Truques da Treta”, um espetáculo que deixa o público a nu perante a – e passo a citar a sinopse – “batotice descarada, mentiras mal contadas e muita, mesmo muita treta”.

E comprova-se. Ali, num abraço destemido ao conceito “memória”, aos seus limites e a todos os jogos que se podem fazer com essa malandrice, vão-nos contando uma história, a sua história. Com uma clara vontade de questionar a sua própria arte e de quebrar barreiras, não usam coelhos reais, mas sim de peluche. Não só fazem truques de cartas, como nos atraiçoam com truques de cartas (daquelas que, agora, estão fora de moda. Vinham dentro de um envelope, conhecem?). Não apenas batem os recordes de escapismo de Houdini, como se riem e o fazem com grande margem. Não se ficam por exercitar à loucura a memória, como se atrevem a marrar desde livros de receitas à Bíblia. Enfim. Não se limitam a fazer magia para nós, pasmados, aplaudirmos… eles deixam-nos de bochechas doridas das gargalhadas e de mente estupefacta perante a possibilidade de fazer, também, com eles, ma-gi-a.

A dupla mostrou que cresceu em perspicácia artística e, agora, com (mesmo) quatro anos, deixa-nos com (quase) ansiedade de mais da sua arte. Com uma proximidade muito familiar à audiência e constantes jogos de palavras, estamos confortáveis e queremos mais. Independentemente de acreditarmos em magia, acreditamos neles. E, céticos ou não, é inviável sair do auditório sem estar convicto que a magia nos deixa bem-dispostos. Então, pensemos juntos: se, aos quatro, os Quase Quatro conseguem balançar a magia, a música, o teatro, o humor, a ilusão, e as memórias de uma forma tão bonita e peculiar, como será aos quarenta e quatro? Ficamos a aguardar, expectantes… e com uma vontade tremenda que nos continuem a enganar e a deixar de coração cheio e feliz. Por fim, será importante referir que se estes foram “Truques da Treta”, então, sim, precisamos, com uma urgência urgente, de muita arte e artistas da treta, por favor.

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