Cultura
TATANKA, O MESTRE DE CERIMÓNIAS
A Sala Suggia estava quase lotada para o regresso de Tatanka ao Porto. Depois da sua estreia a solo, em 2017, no mesmo espaço, o vocalista dos The Black Mamba apresentou um alinhamento com novas músicas e velhas favoritas.
A noite começou com a banda de apoio em palco. O piano quebrou o gelo e progrediu, lentamente, para um ritmo cada vez mais intenso. Entrou, de seguida, o baixo e, pouco depois, a bateria. O contrabaixo e o violino foram as últimas peças que faltavam para a chegada de Tatanka, com uma guitarra elétrica.
Esta entrada em crescendo foi suscitando aplausos do público e serviu de introdução ideal para as duas primeiras músicas: “Será” e “At Night”. Os dotes de guitarra de Tatanka ficaram em evidência, especialmente num solo extenso, em jeito de blues, na segunda peça.
Terminadas as músicas iniciais, o artista dirigiu-se pela primeira vez à audiência para agradecer a sua presença. “É um prazer regressar aqui”, garantiu. Sem mais demoras, o concerto continuou com “Promessa”.
Antes da próxima canção, de novo um momento para falar com o público. “A próxima é uma sátira social”, revelou. Tratava-se de um novo original, “Rádio”. “Vamos ver se acerto a letra”, brincou Tatanka. De resto, o estilo descontraído e divertido são marcas do artista que puderam ser percetíveis durante toda a noite.
A música seguinte tratou-se do seu segundo single, “Alfaiate”, e a audiência acompanhou o artista na sua rendição. A energia e boa-disposição de Tatanka eram capazes de puxar pelos presentes e extender a sua participação no espetáculo.
Chegava a altura de trazer o primeiro convidado. “Quero ajudar os meus bruddas que merecem mais atenção”, afirmou o anfitrião da noite antes de chamar ao palco David Pessoa. Os dois artistas trocaram um abraço sentido, algo que Tatanka faria com todos os convidados dessa noite.
O primeiro dueto entre os dois foi “Homens Assim”, do disco Fazer-me à Sorte, onde Tatanka participou. Depois, abriu o baú dos The Black Mamba para tocar “Darkest Hour”. De realçar o momento de técnica e força vocal exímias de David Pessoa, na rendição derradeira do refrão.
Tatanka ficaria outra vez por sua conta no palco. “Estão a dizer-me que estamos aqui há mais de uma hora e só vamos a meio!”, informava, num misto de surpresa, preocupação e humor.
Isto não impediria o artista de falar das suas origens no reggae. “Reggae Music is my Life” começou a ser entoado enquanto a banda emitia sons correspondentes ao estilo musical. Tratava-se de uma introdução elaborada para a música “Adoro Quando Sorris”.
Seguiu-se a segunda colaboração da noite. “Este é o melhor cantor de flamenco em Portugal”, seriam as palavras para introduzir Diego Gavi. A música “Keep On Walkin” permitia interjeições do convidado que impulsionavam o impacto sonoro da obra. Na parte conclusiva, Tatanka levou Gavi à ponta do palco, onde o cantor, sem recurso a microfone, fez o seu poderio vocal arrepiar a Sala Suggia.
Depois de Diego Gavi sair de cena, Tatanka trouxe uma música escrita “esta semana”. Tratava-se de uma reflexão introspetiva da sua mudança para a cidade de Lisboa. “Cicatriz” era o nome da canção que marcava um “capítulo importante” na vida do artista.
Após uma reflexão sobre o valor “elevado” da música portuguesa atual, Tatanka introduziu Luísa Sobral. A cumplicidade dos dois era evidente, pois trocaram várias piadas e histórias entre a atuação musical.
O primeiro dueto entre os artistas traduziu-se “Mesma Rua Mesmo Lado”, uma das canções que está no último e recente álbum de Luísa Sobral, Rosa, que será apresentado em concerto em 2019. “Estrelas”, uma composição de Tatanka dedicada à sua primeira filha, foi a seguinte. O público presenteou Luísa Sobral com uma forte ovação na sua despedida, tal como já tinha feito na entrada.
“Estou com muita vontade de ir à casa de banho”, admitia Tatanka de forma inesperada. Aconteceu, por isso, um momento caricato. O artista introduziu Os Azeitonas ao palco e ausentou-se, presumivelmente para fazer as suas necessidades, enquanto Marlon contava como tinha conhecido Tatanka. “Não estava preparado para ele”, brincava o cantor.
Tatanka voltou ao palco e tocou três músicas com Os Azeitonas: “Cantigas de Amor”, “Alma Despida” e “Minha Aldeia”. Desta feita, todos os músicos saíram do palco.
Mesmo ultrapassada a marca das duas horas e já para além da meia-noite, Tatanka regressou ao palco para agradecer a todos os que tinham ficado até ao fim. Para terminar a noite, tocou-se “Império” e o público acompanhou, de pé e em uníssono, o artista.
A última nota foi recebida com um aplauso efusivo e todos os convidados regressaram para uma despedida geral e uma fotografia de recordação. A noite tinha sido longa porém satisfatória para todos os presentes.
Tatanka demonstrou a versatilidade do seu talento e a capacidade para contagiar toda a gente com a sua boa-disposição. Mais do que um simples músico, revelou-se um mestre de cerimónias, e proporcionou um serão inesquecível.