Cultura

JUP RETROSPETIVA: OS MELHORES LIVROS DE 2018

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Os dias passam a correr e nem sempre temos o tempo desejado para processar ou digerir tudo o que acontece ao nosso redor. As retrospetivas permitem analisar as coisas com mais calma. Elas ajudam-nos a construir as imagens mentais de mais um ano cheio de tonalidades distintas e a admirar o que de melhor ele nos ofereceu.

O JUP volta a aproveitar os últimos dias de dezembro para fazer essa retrospetiva. Olhamos hoje para aqueles que consideramos os melhores livros de 2018. Hoje as nossas escolhas são estas. Amanhã podemos dar de caras com uma obra que nos vira do avesso e que nos obriga a reformular as nossas pequenas listas completamente. As retrospetivas têm destas coisas engraçadas.

Mas por agora fica a celebração. 2018 foi um ano cheio para o mundo da Cultura e 2019 já começa a desenhar novas imagens.

Capa de Kids These Days.

Kids These Days: Human Capital and the Making of Millennials, de Malcolm Harris

Sem quaisquer rodeios, Malcolm Harris desmitifica as típicas bagatelas condescendentes frequentemente escolhidas para classificar a geração dos millennials. Em Kids These Days, aborda de forma  exasperada a frequência com que tais declarações estereotipadas falham em reconhecer que os millennials como um todo – como qualquer outra geração – incluem pessoas incríveis e ambiciosas, bem como aquelas que não são tão notáveis assim.

Harris examina tópicos atuais como as dívidas estudantis descontroladas, o encarceramento em massa, a imbatível popularidade das redes sociais e muito mais, e assim pinta um retrato do que significa ser jovem na América de hoje.

Através de uma análise sóbria sobre a sua experiência pessoal como membro desta infame geração, composta por aqueles nascidos entre as décadas de 1980 a 2000, o autor descreve a forma como as neuroses socialmente construídas que a caracterizam são meras estratégias de sobrevivência, confecionadas para sobreviver no mundo desgastado que herdaram dos seus anciãos.

“Os millennials foram a primeira geração criada explicitamente como investimentos”, argumenta Harris, em Kids These Days, desafiando os leitores a confrontar e assumir as consequências que tal cenário implica.

Capa de The Flame.

The Flame, de Leonard Cohen

The Flame é o trabalho final de Leonard Cohen, o reverente poeta e músico cujos fãs abrangem gerações e cujo trabalho é celebrado em todo o mundo. Abrangendo poemas, trechos de diários privados, letras e auto-retratos desenhados à mão, The Flame oferece um olhar íntimo sobre a vida e intelecto de um artista único.

Um conto sobre uma vida experienciada profunda e apaixonadamente, com inteligência e brio, esta obra é um trabalho de despedida. “Este volume contém os esforços finais do meu pai como poeta”, escreve Adam Cohen, filho de Cohen, no prefácio; “era o que o mantinha vivo”. Leonard Cohen morreu no final de 2016. Mas “cada página de papel que escreveu”, nas palavras do seu filho, “eram uma evidência duradoura de uma alma em chamas”.

Carolina Lisboa

Capa d’A Arte Subtil de Saber Dizer Que Se F*da.

A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da, de Mark Manson

Com um título cativante e estimulante, e com uma mensagem ainda mais importante, A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da atingiu, em 2018, o top de vendas em quase todas a livrarias portuguesas, convidando os leitores a uma interpretação que desafia os nossos instintos e nos força a questionar tudo o que sabemos sobre a vida.

Criticado por uns e amados por outros, recorrendo a uma linguagem simples e não censurada, num estilo brutalmente honesto e com um humor característico, Mark Manson expõe-nos, em poucas páginas, o que é, basicamente, viver. Esta obra consiste numa “abordagem contraintuitiva para viver uma vida melhor”, envolta numa panóplia de exemplos e experiências de vida, e metaforiza um soco no estômago necessário numa sociedade cada vez mais fútil e marcada pelo consumismo – expresso nas suas mais diversas vertentes, desde o comprar mais, o possuir mais, o fazer mais, o ter mais sexo, o ser mais. É por este caminho errado que o mundo atual constantemente nos guia para uma vida melhor, mas será mesmo?

O autor americano demonstra uma extrema capacidade de ir ao fundo das questões, oferecendo-nos uma perspetiva fantástica apesar de contraintuitiva, para os mais diferentes obstáculos, baseada principalmente na sua intercultural experiência de vida – referida nos mais diferentes contextos ao longo da obra. Referências à indispensabilidade do erro e da rejeição, ao autoconhecimento – metaforizado como uma cebola que quanto mais descascada mais nos faz chorar -, e à urgente necessidade de reforma dos valores básicos inerentes à sociedade, são pontos merecedores de bastante consideração e atenção ao longo de toda a obra.

Este é um guia indispensável para viver com integridade e encontrar a felicidade em situações e lugares por vezes dolorosos, ensinando-nos a lidar com a adversidade. O livro convida-nos a conhecer e aceitar os nossos limites, sendo o reconhecimento desses mesmos receios e incertezas o primeiro passo para enfrentar verdades dolorosas. Manson coloca-nos numa posição difícil porque nos diz aquilo que não queremos ouvir – num estilo hilariante, invulgar e extremamente provocador.

Não estamos perante a tipicidade daqueles livros de autoajuda que enchem as prateleiras das livrarias, obsessivamente focados em provocar expetativas positivas, irrealistas e ilusórias (“grandes doses de treta”, como o próprio indica). Se pararmos para pensar, os conselhos de vida são, como Mark o diz, meramente convencionais e focados naquilo que nos falta, ignorando ou negando o sofrimento, o que, por si só, constitui uma outra forma de sofrimento – “que se f*da o pensamento positivo!”.

Enquadrado numa escrita suave, este e outros temas estão estruturados sob um fio condutor lógico, terminando o livro com a única conclusão e certeza de que todos já sabemos (spoiler alert): todos morremos!

Capa de Cebola Crua com Sal e Broa.

Cebola Crua com Sal e Broa, de Miguel Sousa Tavares

Com memórias e reflexões do autor, que moldam e constroem a sua personalidade, Miguel Sousa Tavares traz-nos com a sua mais recente obra uma observação sobre um Portugal contemporâneo marcado pelas mais diferentes adversidades que o país enfrentou entre 1960 e 2010. Estas observações tecem-se pelos olhos de uma criança que cresce e se transforma num homem, num escritor, dando assim vida à sua infância.

Com ponto de partida numa quinta na Serra do Marão – onde Miguel crescera com mais quatro irmãos – o autor traça, em cerca de 400 páginas, um perfil evolutivo de Portugal, atribuindo sempre realce à capacidade de adaptação e resiliência do ser humano, aos valores morais e à intensidade e pureza com que uma criança pode encarar as mais diversas situações.

Sentimos a inquietude e o medo de um menino que nascera numa quinta, habituado a comer “cebola crua com sal e broa”, a imergir, na sua juventude, numa Lisboa salazarista, uma cidade “cinzenta interrompida por uma revolução muito familiar” onde a visão de uma democracia surgia envolta em encantos mas também contradições.

Não encontramos aqui um livro só de memórias boas ou de nostalgias típicas (o clássico “no meu tempo é que era bom”). Tal como o próprio autor indica e critica, este é um livro de testemunhos e histórias que refletem as vantagens e desvantagens de se viver num tempo marcado pela mudança a todos os níveis. Há na obra uma intenção de materializar um período e não apenas uma vida.

Estamos perante um livro marcado pela não-ficção, descrevendo uma realidade num estilo direto e preciso – característico do autor -, que testemunha a evolução, o surgimento da escola igual e para todos, o contexto e a mudança política, o 25 de Abril, a PIDE e o PREC, a ascensão do jornalismo, as suas liberdades, o poder falar e o novo mundo da televisão.

«Pode um homem viver impunemente começando a sua infância numa aldeia do Marão, comendo cebola crua com sal todas as merendas? Daí saltar para o mundo cinzento e as manhãs submersas da vida salazarista da Lisboa dos anos sessenta? Acordar na manhã luminosa do 25 de Abril e descobrir que, afinal, éramos todos anti-fascistas e revolucionários e, logo depois, ir ao encontro do mundo e descobrir-se a si mesmo como uma testemunha privilegiada de tempos incríveis que, não os narrando, teria sepultado para sempre na cinza dos dias inúteis? Declaro que vi. E, por isso, conto. Antes que a água tudo lave e apague.»

Francisco Lima

Capa de Beren e Lúthien.

Beren and Lúthien, de J. R. R. Tolkien

Traduzida para português, mais de um século depois da sua feitura (1917), esta obra conta a história de um amor proibido entre uma elfa imortal, Lúthien, e um humano, Beren. O herói do conto é incumbido pelo pai de Lúthien de roubar a jóia Silmaril a Morgoth, provavelmente a mais maléfica representação do mal na obra tolkiana.

Este conto é um reservatório de esboços de alguns conceitos depois consolidados n’O Senhor dos Anéis, e, tal como na trilogia, o livro retrata indiretamente a malícia dos homens e os horrores que Tolkien testemunhou na Primeira Guerra Mundial.

Por outro lado, Beren and Lúthien é claramente um retrato da história de amor de J.R.R. Tolkien com Edith Bratt. Ambos eram amores proibidos que transcendiam mundos e mentalidades. Tal como o pai de Lúthien, o tutor de Tolkien (o padre Francis Morgan) desaprovava o seu relacionamento com Edith, uma protestante três anos mais velha. No entanto, estiveram casados 55 anos e as suas sepulturas, em honra de um amor digno de literatura, mencionam exatamente as duas personagens da obra.

Beren and Lúthien é uma das obras mais apaixonantes do autor, um romance ofegante entrelaçado na já conhecida tela do imaginário e misticismo tolkianos. O livre foi editado em português em abril pela Editorial Planeta e contém nove ilustrações de Alan Lee. É relativamente pequeno – com 288 páginas a comparar com as 468 de A Irmandade do Anel -, e portanto uma boa desculpa para ter à cabeceira neste novo ano.

Capa de Estar Vivo Aleija.

Estar Vivo Aleija, de Ricardo Araújo Pereira

O humorista-cronista mais amado de Portugal – desde os pais fãs do Governo Sombra aos miúdos-graúdos que assistiram ao nascimento da série Fonseca na SIC Radical – voltou a atacar com novo livro em 2018.

Estar Vivo Aleija é nada mais que um apanhado de crónicas publicadas entre abril de 2017 e agosto de 2018 na Folha de S. Paulo, pilar do jornalismo brasileiro.

Claramente virado para o público do país irmão (visível nas constantes comparações, analogias e perguntas retóricas ao povo brasileiro), o livro é reflexo de um comunicador nato, pai de crónicas de uma simplicidade trivial, mas de humor transbordante.

Num português exímio, vemos Dostoevski em Copacabana, gatos conspiradores ou sátiras à “redesociaisodependência”. São novas análises e dilemas corriqueiros de RAP, caricatamente vertidas em odes nostálgicas às batatas fritas recessas e outros que tais.

Mais uma vez, uma sugestão de fácil leitura: crónicas humorísticas de duas páginas, que nos fazem ter vontade de ler, até na mais pesada época de exames. Só não perdoamos é o Ricardo ser benfiquista assumido.

 Inês Anjos

Capa d’A Última Porta Antes da Noite.

A Última Porta Antes da Noite, de António Lobo Antunes

A Última Porta Antes da Noite é o mais recente livro de Lobo Antunes. Publicado em setembro de 2018, o escritor já garantiu que é a antepenúltima obra do currículo. Depois “acabou”, antes de “ficar maluco”.

O livro conta a história de um ajuste de contas. O enredo começa na noite em que cinco homens executam um elaborado plano para assassinar um devedor. Cada elemento do quinteto vai, à vez, assinando capítulos. A narrativa é escrita “a cinco mãos” e a ação nunca acontece de uma forma imparcial – a visão dos protagonistas está sempre a contaminar a realidade. Lobo Antunes compreende que as histórias têm personagens, mas não se esquece que as personagens também têm uma história.

Nenhum dos protagonistas é “tábua rasa”; o escritor desenvolve as personagens de modo a que sejam sempre quatro coisas: o que foram, o que podiam ter sido, o que são e o que querem ser. A escrita ilustra o fluxo de pensamento complexo de cada homem e não está preocupada em cumprir normas gramaticais de construção frásica. É antes uma prosa intensa que sobrepõe eventos presentes com memórias passadas e esperanças futuras.

Num dos primeiros capítulos, uma das personagens garante que já nem estranha os pivôs que pôs nos dentes, admite que já fazem parte do próprio corpo. Ainda que seja um episódio curto, serve bem para ilustrar a visão de Lobo Antunes: tudo o que te acontece acaba por fazer parte de ti. Adultos com medo do escuro por terem passado uma infância traumatizada com lobisomens, homens sanguinários que garantem ver o espírito da avó nas sementes da primavera, são tudo pivôs que a memória deixou na boca aberta que é a vida das personagens.

Lobo Antunes procura sempre fugir aos moldes clássicos e não se cansa de arranjar novas estratégias para contar uma história. Em A Última Porta Antes da Noite, há uma divisão entre o que é a ação e o que é a história. O enredo não passa de uma âncora para contar o que constitui a verdadeira narrativa do livro, a vida dos cinco protagonistas.

Capa de Comer/Beber.

Comer/Beber, de Filipe Melo

A inclusão de Comer/Beber é batota – a primeira edição foi lançada em dezembro de 2017, durante a Comic Con. A listagem do livro neste artigo é uma pequena “aldrabice” que se justifica por dois fatores: o sucesso da obra, planeada como uma publicação casual (a procura pelo livro obrigou a editora a publicar uma segunda tiragem), e a sua inclusão algo surpreendente (mas totalmente merecida) no Plano Nacional de Leitura.

Comer/Beber conta a história de como o ser humano tem a capacidade de dar uma importância poética a duas atividades animalescas. Dividido em dois contos, o livro é um ensaio aos “endeusamentos pessoais” de objetos banais. A primeira parte do livro conta a história verídica de um restaurante polaco que tenta sobreviver numa cidade dominada por tropas nazis. Famoso por ter o melhor champanhe de Berlim, o dono do estabelecimento consegue atravessar a guerra sem nunca servir os soldados com uma gota de espumante. Durante todo o conto, a bebida assume valores de grande importância – o champanhe é guardado num local secreto e reservado para quem merece, e durante o domínio fascista acaba por assumir o papel de símbolo do orgulho polaco.

A segunda história destaca-se pelo ambiente de mistério e suspense. Os tons pálidos usados pelo ilustrador Juan Cavia ajudam a construir a atmosfera de secretismo que se cria em torno de uma tarte de maçã. Os desenhos do argentino parecem acompanhar os estados de espírito das personagens: não há cores vivas e as composições remetem para uma ideia de cansaço e de derrota.

Filipe Melo é um dos criativos que mais contribui para que a banda desenhada se afirme como género literário. Durante largos anos visto como uma forma inferior de literatura, hoje em dia a banda desenhada assume-se como muito mais do que uma forma de entretenimento. Com a vontade de abertura do comité responsável pela atribuição do Nobel da Literatura (que em 2016 contemplou Bob Dylan com o galardão), não é de admirar que um autor de novelas gráficas possa ganhar o prémio num futuro próximo.

Rui Miguel

Notes On A Nervous Planet, de Matt Haig

Capa de Notes On A Nervous Planet.

«The world is messing with our minds.
Rates of stress and anxiety are rising. A fast, nervous planet is creating fast and nervous lives. We are more connected, yet feel more alone. And we are encouraged to worry about everything from world politics to our body mass index.
– How can we stay sane on a planet that makes us mad?
– How do we stay human in a technological world?
– How do we feel happy when we are encouraged to be anxious?»

Este livro não é um livro, é um manual de sobrevivência. Faz-nos pensar e repensar a vida que levamos, e faz-nos perceber que precisamos de a mudar profundamente.

Ao longo de 320 páginas, Matt Haig apresenta um extenso conjunto de reflexões sobre os mais variados assuntos, mas todos com um ponto em comum: o caos que é o mundo do século XXI, as prisões a que nos sujeitamos voluntariamente, dia após dia. Vivemos num estado de ansiedade constante, como sprinters a correr pela vida.

Habitamos uma cúpula de redes sociais, e-mails, notificações, trabalhos (sempre pedidos para ontem), agendas, likes, preconceitos e ideais absurdos, sem alguma vez parar para pensar. Sem querer saber o que está para lá da cúpula. Estamos a ignorar todo um mundo, o real e o que verdadeiramente importa: família, amigos, contacto humano físico, florestas, oceanos, estrelas. A chuva a bater na janela enquanto lemos um livro ao calor da lareira. Somos impelidos por este sentido de obrigação e culpa, sem abrandar para respirar e ponderar se é isto que nos faz, de facto, felizes.

Matt Haig escreveu esta obra numa estrutura já tipicamente sua. Os assuntos sucedem-se de um jeito aparentemente desordenado, num mapa mental ligeiramente caótico, repleto de reflexões, ideias, conselhos, listas, histórias e citações. Notes On a Nervous Planet é um livro para se ler com calma e saborear cada palavra – afinal, é exatamente a isso que se apela -, porque é um livro belo por si só. Este aglomerado de notas foi dividido por 18 secções distintas: 1. A stressed-out mind in a stressed-out world; 2. The big picture; 3. A feeling is not your face; 4. Notes on time; 5. Life overload; 6. Internet anxieties; 7. Shock of the news; 8. A small section on sleep; 9. Priorities; 10. Phone fears; 11. The detective of despair; 12. The thinking body; 13. The end of reality; 14. Wanting; 15. Two lists about work; 16. Shaping the future; 17. The song of you; 18. Everything you are is enough.

Publicado a 5 de julho de 2018, Notes On A Nervous Planet é um livro de não-ficção, que entra nas áreas da psicologia, da saúde – acima de tudo, da saúde mental, apesar de, como refere Matt, o ser humano ser só um e a saúde da mente ser a saúde do corpo – e do self-care. A versão traduzida deve sair nos próximos tempos, tal como aconteceu com a obra-prima Reasons To Stay Alive (Razões Para Viver) e os livros de ficção The Humans (Os Humanos) e How To Stop Time (Como Parar O Tempo). É um dos livros que recomendo a toda a gente que conheço e um livro que, honestamente, acredito que todos deveríamos ler pelo menos uma vez (o mesmo se aplica aos outros três livros de Matt mencionados). Eu irei, certamente, a ele regressar várias vezes ao longo da vida.

Esta ode à vida plena e a abrandar o ritmo é constituída por imensas frases belíssimas – o tipo de construções de palavras que nos fazem sentir infinitos. Como não posso incluir todas, vou destacar uma passagem.

«The sky is always the sky

When looking at the sky, all our 21st-century worries can be placed in their cosmic context. The sky is bigger than emails and deadlines and mortgages and internet trolls. It is bigger than our minds, and their illnesses. It is bigger than names and nations and dates and clocks. All of our earthly concerns are quite transient when compared to the sky. Through our lives, throughout every chapter of human history, the sky has always been the sky.

And, of course, when we are looking at the sky we aren’t looking at something outside ourselves. We are looking, really, at where we came from. As physicist Carl Sagan wrote in his masterpiece Cosmos: ‘The nitrogen in our DNA, the calcium in our teeth, the iron in our blood, the carbon in our apple pies were made in the interiors of collapsing stars. We are made of starstuff.’

The sky, like the sea, can anchor us. It says: hey, it’s okay, there is something bigger than your life that you are part of, and it’s – literally – cosmic. It’s the most wonderful thing. And you need to make like a tree or a bird and just feel a part of the great natural order now and again. You are incredible. You are nothing and everything. You are a single moment and all eternity. You are the universe in motion.

Well done.»

 

Capa de Leah On The Off Beat.

Leah On The Offbeat, de Becky Albertalli

Esta é uma escolha pouco convencional para esta lista. Não obstante, faz todo o sentido que aqui esteja. Há certos livros que se destacam não pela forma ou pela escrita, mas pela mensagem que transportam.

Leah On The Offbeat é o terceiro de algo a que Albertalli chamou o Simon-verse. São livros com narrativas distintas, mas que se situam no mesmo universo e cujas personagens se cruzam. No primeiro livro, Simon vs. The Homo-Sapiens Agenda, é relatada a história de um rapaz que lida com três dilemas em simultâneo: a própria afirmação enquanto gay, descobrir a identidade do rapaz por quem se apaixonou através de uma troca de emails contínua e lidar com a chantagem de um colega de escola que descobre os referidos emails. A questão é: Simon é gay. Já começam a existir imensos livros e filmes sobre homossexuais – aliás, este livro ganhou destaque em Portugal devido ao filme, que saiu a 16 de março.

Leah, uma das melhores amigas de Simon, é bissexual. Mesmo no século XXI, continua a não haver grande literatura sobre bissexuais. Em Leah On The Offbeat, Albertalli explora o estado de confusão e dilema em que Leah vive: confusão sobre a pessoa que é, confusão sobre a sua sexualidade, confusão sobre o seu corpo, confusão sobre os seus talentos, confusão sobre ser a única do seu grupo de amigos sem capacidades financeiras, confusão sobre quem ama, confusão sobre como os que a rodeiam iriam reagir se partilhasse com eles o que lhe vai na alma, confusão sobre o seu futuro incerto. A aproximação do fim do ano letivo e da partida para as diferentes universidades, aliada a relações amorosas falhadas, provocam discussões e fraturas num grupo de amigos que parecia durar para sempre.

A típica narrativa young-adult não é o que se destaca. O que não falta são livros com dramas de adolescentes, de high schools e de proms. A mensagem implícita nesta obra é que a distingue das demais. A forma como pretende quebrar estigmas e acabar com os preconceitos ligados à bissexualidade – assim como todas as ideias absurdas, como as fantasias eróticas para homens heterossexuais. Apesar de a nossa sociedade ser uma desenvolvida – e a evoluir cada vez mais – continuam a existir demasiadas ideias falsas enraizadas e demasiada discriminação, fazendo com que imensos jovens pelo mundo fora vivam com medo de serem quem são e se reprimam, impossibilitando a aceitação e o amor próprio.

Leah On The Offbeat foi publicado a 24 de abril pela HarperCollins; é de prever que a versão traduzida esteja em breve nas livrarias. Para finalizar, tenho três considerações a fazer. Em primeiro lugar, este foi o livro escolhido pelos leitores para ser o Goodreads Choice 2018 Winner on Young Adult Fiction. Em segundo lugar, estas 343 páginas estão integradas, por esta ordem, nas categorias de young adult, contemporary, LGBT e, só depois, romance. O facto de ser necessário salientar que o livro contem personagens ou relações LGBT, em vez de ser apenas um romance, ainda tem que se lhe diga. Por fim, apesar de ter referido no início que este não é um livro que se destaque particularmente pela escrita, a evolução da maturidade na escrita de Albertalli é bastante percetível em relação aos seus livros anteriores. São várias as passagens que tocam emocionalmente ou que enchem a alma pelo jeito único e belo com que as palavras são utilizadas.

«-Why are we here?

-You mean evolutionary or existentially?»

«When I’m mad, I escape. It’s what I do. I stalk out of rooms and storm down hallways and disappear into bathroom stalls. Because if I stay, I’ll lose my shit at someone.»

«-I’m the worst actress in the universe.

Mom laughs. “But you’re not! Not at all. You just want to be the best. And you have to let that go.

Embrace the suck. Let your guts hang out a little.”

Yeah, that’s a fucking joke. Let your guts hang out. I don’t even get that. Why would anyone want to live like that? Like it isn’t bad enough I’m always one breath away from falling apart. I’m supposed to fall apart under a spotlight? It’s too much. And I don’t want to embrace the suck. I want things to not suck. And I don’t think that’s too much to ask.»

Sofia Matos Silva

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