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“OS DESAFIOS DA MODERNIDADE” SEGUNDO A VISÃO DAS CURTAS DO CINEMA FANTÁSTICO

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Fazendo jus ao estilo e ambiente do festival de cinema, o suspense, o inesperado e a tensão envolveram o público por mais de duas horas, com um som vibrante e cativante, onde doze curtas metragens abordaram, com diferentes visões, as mais diversas temáticas. Vimos falsos exorcismos e castigos divinos, clonagem, a descoberta de uma espécie animal mirabolante, ou mesmo o tráfico de escravos intergaláctico numa realidade hipotética.

Com cada curta a durar entre quatro e quinze minutos, a sessão cinematográfica teve início com “Makr”, uma produção de Hana Kazim, natural dos Emirados Árabes Unidos. A película explora a história de um homem muçulmano, alegadamente exorcista, vestido de branco num ambiente constantemente sombrio, que é chamado a efetuar exorcismo numa mulher. Com um toque de sinistralidade e uma visão retorcida, a realizadora recorre a tons escuros, sons vibrantes e um relógio sempre a manifestar-se no fundo para refletir sobre o poder da religião e o receio do castigo divino.

Seguiram-se, sem intervalos, os restantes filmes, realçando-se “The Original”, de Michelle Cervera Garza. Filmado a preto e branco, a curta começa por inserir o espectador num ambiente de festa. Vemos duas mulheres a dançar, e uma delas, após sofrer um grave acidente, não parece ter muita esperança de vida. A dor é visível ao longo de toda a obra, envolta num ambiente de escolhas inquietantes, onde a clonagem parece ser a única solução.

“Roberta’s Living Room”, de Judy Suh, conta a história de uma mulher que, após a morte do marido, decide, de forma cautelosa, tirar a própria vida. Depois de planear na sua cabeça todo um conjunto de cenários e situações na companhia do seu marido, a protagonista vê-se, inesperadamente, sozinha. Rodeada de flores e arbustos, espera que estes a sufoquem. Abordando o luto e as suas diferentes fases de dor, “Roberta’s Living Room” surge envolta numa paleta de cores vivas, com a mensagem de que cada dia é um dia, e todos devem ser aproveitados como se fossem o último, porque um deles será.

“Bluebird” é a primeira produção nacional da sessão, e, nela, uma voz encantadora recita-nos um poema de Charles Bukowski. Entramos no universo de dois jovens infelizes sem qualquer ligação: um rapaz e uma rapariga, que não conseguem ser quem gostariam de ser, que não se conseguem libertar. As imagens, a preto e branco, realçam essa melancolia.

Em “The Desolation Prize”, de Shane Day, uma jovem, após passar uma noite com um homem, regressa ao sítio onde trabalha com algo mais do que esperava; neste caso, um espírito que amaldiçoava o rapaz. Um ambiente tranquilo de uma loja de artigos em segunda mão torna-se aterrador, numa curta que pôs qualquer espectador a saltar da cadeira.

Em “My First Time”, a protagonista conta a história de como lhe roubaram a sua “primeira vez”, envolvendo o público num ambiente de terror, com traços de comédia. “E se fosse consigo? Que primeira vez?”, questiona o realizador israelita Asaf Livni. “Mysteries of the Wild”, outro trabalho nacional, apresenta-nos uma animação sobre a descoberta de uma nova espécie animal, numa ilha remota no meio do Atlântico, que promete revolucionar a ciência do século XXI.

“La Noria”, do espanhol Carlos Baena, retrata, também sob a forma de animação, a emocionante história de um menino que vive, aparentemente, sozinho e atormentado pelos seus próprios monstros, debruçados sobre as reminiscências do que já foi uma família (e uma casa) feliz. Uma obra prima embelezada por tons melancólicos, mantendo sempre a presença e harmonia de luzes de Natal que pretendem manter viva uma memória e uma felicidade que querem desaparecer.

Também de Espanha, Frankie de Leonardis descreve em “Flotando” um grande acidente numa estação espacial. Um astronauta está sozinho, sem possibilidade de comunicações, numa nave que praticamente não funciona. Com o suceder de estranhos e inquietantes acontecimentos, o filme leva-nos numa deambulação entre a vida e a morte do astronauta.

Bobby Bala apresentou “The Shipment” – um filme de grande orçamento, sendo que apenas foi apresentada uma versão reduzida na sessão do Cinema Fantástico. Num futuro longínquo e numa realidade hipotética, um piloto trafica escravos, intergalacticamente, a bordo da sua nave espacial. Este é um trabalho de ficção científica que se debruça sobre questões éticas e morais, explorando a relação de um pai que precisa de agir contra a vontade da filha para garantir o seu bem-estar e a sua sustentabilidade.

A sessão ficou marcada pela programação multifacetada, o impacto e a divergência cultural do Fantasporto, onde, para além das duas produções nacionais – “Bluebird”, de Amanda Sant’Anna, Carlos Fernandes, Gonçalo Veloso, João Lage e João Mendes, e “Mysteries of the Wild”, de Rui Veiga –, marcaram presença obras artísticas dos mais diversos cantos do mundo.

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