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Cultura

PAINTING LIFE: O NÃO-PENSAR E UM APELO À DESCOBERTA

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O realizador Biju Kumar Damodaran, conhecido como Dr. Biju, tem em “Painting Life” a sua primeira obra cinematográfica em língua inglesa, que já arrecadou prémios nacionais e internacionais e tem percorrido inúmeros festivais de cinema pelo mundo, dentre os quais se destacam os de Cannes e Montreal. Na quinta-feira, o filme chegou ao Fantasporto.

Proporcionando 140 minutos de reflexão, “Painting Life” permite-nos a imersão numa realidade desconhecida, na sua mais crua e nua vertente; uma realidade que não nos é habitualmente trazida pelo cinema mainstream.

Não se focando nos típicos destinos orientais, como a Tailândia ou a Indonésia, o filme foca-se no “real”, numa Ásia verdadeiramente desconhecida, longe das multidões, das fotografias e do turismo. É contada a história dos membros de uma equipa de rodagem, que está retida e completamente isolada de tudo e todos, sem formas de comunicar com o “mundo exterior”. Depois de um deslizamento de terras bloquear as estradas e as pontes e de uma grande tempestade cortar a energia elétrica daquele lugar remoto, resta-lhes descobrirem-se a si mesmos. À mercê das forças da natureza, alguns dos membros da equipa aventuram-se num mundo desconhecido, descobrindo comunidades que não dispõem de serviços tão básicos e basilares como eletricidade ou educação.

“Painting Life” aborda uma sociedade asiática governada por desigualdades, discrepâncias e silêncios, onde até a posição e a hipocrisia de algum cinema constituem alvo de crítica. Analisando o papel da mulher, a importância dos recursos naturais, o impacto das religiões, a admiração e interesse de grande parte do mundo por assuntos triviais e a aparente facilidade com que se ignoram realidades desconfortáveis, “Painting Life” é não só um hino à proteção do ambiente mas também à proteção da própria sociedade, cada vez mais consumida pela não-reflexão, pela falsa imagem que as redes sociais conseguem construir, pelo não-pensar no futuro ou no nosso planeta.

Momentos de não-diálogo impulsionam o espetador para campos de reflexão. Cenários verdes, nas suas mais diversas tonalidades, acompanham o filme, o que transmite uma ideia de tranquilidade, uma do tipo que apenas a Natureza permite alcançar. As sensações de descoberta e inspiração também são transmitidas pelo uso desta cor. É mesmo de descoberta, uma descoberta pessoal, de dentro para fora, que o filme fala.

Um realizador de Bollywood de sucesso chega a uma aldeia nos Himalaias para filmar uma sequência de dança e música (o clássico filme estereotipicamente associado ao cinema de Bollywood), e acaba por quebrar a corrente, optando pelo caminho menos convencional, usando o cinema para mostrar o que é a Ásia.

Estamos perante uma obra cinematográfica que celebra a vida em si mesma, uma vida simples e humilde, em comunhão com um ambiente e um meio em risco, constantemente ameaçado por toda uma outra sociedade onde incoerentes ações de ordenamento de território podem gerar a extinção de ecossistemas inteiros. A comunidade, essa vê os seus caminhos fecharem-se, não só por derrocadas mas por injustiças sociais. Ninguém tem interesse em agir ou proteger uma Ásia bonita; sim, mas não turística.

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