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Cultura

GUILHERME DUARTE NO SÁ DA BANDEIRA: “NÃO SEJAM CONINHAS”

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O Teatro Sá da Bandeira encheu-se, aos poucos, para receber Guilherme Duarte. O comediante esgotou a icónica sala da Invicta para apresentar o seu segundo solo de stand-up.

O espetáculo começa com meia-hora de atraso. Um pequeno vídeo narrado por Guilherme Duarte anuncia que esta será uma introdução interativa. “É plágio do Bandersnatch”, ironiza, desde logo. E a verdade é que, utilizando o visual do filme da Netflix, os espetadores escolhem o percurso da infância do comediante.

É um começo fora do normal, mas completamente dentro do estilo de Guilherme Duarte. O comediante tem uma capacidade particular para se libertar dos cânones do stand-up. É diferente e, por isso, hilariante.

Finda a introdução, Guilherme Duarte entra mesmo em palco. Depois de um curto “Olá”, entra-se na primeira temática: ter ou não filhos.

O comediante tenta justificar a decisão de optar por não ter crianças, através de vários argumentos. As comparações de bebés com droga e da gravidez como algo pior que cancro do baço arrancam as maiores gargalhadas.

Gargalhadas essas que foram uma constante ao longo da noite. O humor de Guilherme tanto goza pacificamente com a cultura pop, como a seguir brinca em cima da linha do bom gosto. Uma brincadeira sempre executada de forma inteligente e que nunca deixa de conseguir risos, nem que sejam da vergonha pelo mórbido.

Esgotado o primeiro tema, o interlúdio entre atos é feito com a rubrica “#BojardaDoDia“, um formato já conhecido pelos fãs do comediante. Pequenas frases ou ideias soltas testam o humor negro do público portuense. De longe, o momento alto foi a validade da opinião de Cavaco Silva sobre a eutanásia, já que é um cadáver.

A segunda temática abordou o consumo de canábis e, de forma geral, a juventude de Guilherme. A capacidade de contador de histórias esteve em evidência nesta fase.

Os desencontros com a polícia ou um episódio do estabelecimento de prostitutas são todos exemplos de como Guilherme é capaz de apresentar uma narrativa que culmina sempre com a audiência a rir desalmadamente.

De seguida, temos um regresso à “#BojardaDoDia” antes do terceiro e último tema: a morte. Guilherme começa por utilizar o cancro como símbolo metafórico da obesidade e, desta forma, desconstruir e criticar chavões do politicamente correto.

O comediante prossegue através da análise ao conceito de funeral. Os cenários absurdos, se bem que teoricamente possíveis de se realizarem, e umas alfinetadas à religião conseguem risos constantes do público.

A conclusão não podia ser outra: “todos nós estamos só de passagem, por isso não sejam coninhas“, o mote que, de certa forma, define o estilo de Guilherme e, ao mesmo tempo, serve de transição para o segmento final da noite.

“#ConinhasGonnaConate”, também repetente do solo anterior, serve de espaço para gozar com comentários de ódio na página de Facebook Por Falar Noutra Coisa. Os bitaites insólitos sucedem-se, espelhando uma das realidades do século XXI.

O auge chega no fim com uma peripécia que resume o nível de rídiculo que o ser humano digital consegue alcançar. Um detrator de Guilherme critica-o por o considerar machista, porém acaba por enviar uma fotografia do seu pénis a um perfil feminino falso do comediante. “O teu pequeno segredo está a salvo”, ironiza Guilherme, obtendo uma das maiores ovações da noite.

O espetáculo finaliza-se com um rap, que na tour anterior se realizava no início. As rimas resumem as temáticas abordadas ao longo da noite, com um especial foco nas redes sociais.

O último verso sinaliza o fim do solo de stand up. O público aplaude de pé durante cinco incansáveis minutos. Guilherme Duarte provou que domina o seu estilo característico e, aos poucos, está a tornar-se numa das maiores referências do humor em Portugal.

Fotografia: Gonçalo Sabença.

Fotografia: Gonçalo Sabença.