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Cultura

OS “PARAÍSOS” DE SOPHIA EM POUR MA SOFIE

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É desafiante imaginar a captação das primeiras sensações da Natureza por Sophia de Mello Breyner Andresen, andando pelos jardins do Botânico do Porto – onde viveu a sua infância -, colhendo cheiros e imagens. Ainda mais desafiante é tentar perceber como se construiu o seu imaginário a partir daí. Essa possibilidade é-nos dada por Pour ma Sofie, uma exposição aberta ao público e instalada na Galeria da Biodiversidade, no Porto.

Embora Sophia não fosse colecionadora, viveu a sua vida rodeada de livros, pequenos “paraísos” nos quais se foi perdendo, alienando e construindo. Segundo Martim de Sousa Tavares, seu neto e curador da exposição, os livros, na vida da avó, “foram mais do que objetos para ler”.

Pour ma Sofie fez-se erguer a 25 de janeiro pelas mãos de Martim e Oxana Ianim, fotógrafa e responsável pela instalação da mostra. Na galeria, com vista para o Jardim Botânico, podem encontrar-se os “paraísos” de Sophia; vemos mensagens, fotografias, poemas, e os seus livros – “mudos e fiéis guardadores de segredos”, como os descreveu o curador.

Na primeira das três divisões que constituem a exposição, há um átrio amplo, no qual está suspenso o esqueleto de uma baleia azul. Junto das paredes, há fotografias de livros com dedicatórias de escritores, tais como José Saramago, Vasco Graça Moura ou Miguel Torga, dirigidas a Sophia.

Livros como “Odisseia” (uma edição francesa) e “Os Lusíadas” marcam presença num outro compartimento. “A Odisseia foi um livro que nunca mais me deixou”, disse a escritora numa entrevista concedida ao jornal O Independente. “Gostamos dos livros onde reconhecemos a nossa própria experiência”, acrescentou. Vê-lo lá, assinado pela própria, ganha outro significado, outra dimensão, assim como ganha tudo o que constitui Pour ma Sofie.

Numa terceira divisão há ainda uma espécie de biblioteca da escritora – uma replicação da original -, descoberta por Martim e fotografada por Oxana. Essa compilação de livros encontra-se vedada por vidro, num expositor, como se um conjunto de vivências,se concentrasse num mesmo espaço, impedido de fugir. Puderam ver-se os rostos atentos, olhos brilhantes e sorrisos de quem se deixou tomar pela curiosidade e pela intenção de imaginar o ato da escrita, da dedicação das palavras, da leitura, da abstração. Há nomes e mensagens inscritas em todas as paredes. “Juntos e carregados de significado, estes livros não são mais coisas de ler. Estes livros são Sophia”, lê-se numa delas.

Os “paraísos” de Sophia, da “poeta” (como manda a sua vontade), estão expostos na Galeria da Biodiversidade até 10 de março.

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