Cultura
BoCA: JOVENS COMPOSITORES HOMENAGEIAM HELENA ALMEIDA
“Sente-me, Ouve-me, Vê-me”, integrado no Projeto Educativo da BoCA – Bienal das Artes Contemporâneas, passou pela Casa das Artes do Porto, no passado domingo. Quinze estudantes da Escola Superior de Música de Lisboa, da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto (ESMAE) e do Departamento de Música da Universidade do Minho construíram um espetáculo musical em homenagem a uma das mais importantes artistas visuais portuguesas.
Helena Almeida é uma referência nas Belas Artes, destacando-se pela sua obra multidisciplinar, pelo uso de várias linguagens criativas e pelo uso do próprio corpo como matéria de produção artística. A iniciativa foi criada por John Romão, diretor artístico da Bienal, e contou com a colaboração dos curadores Ana Cristina Cachola, Delfim Sardo e Filipa Oliveira, e dos compositores Dimitrios Andrikopoulos e Diogo Alvim.
O título do espetáculo faz referência à obra homónima da artista, constituída por três peças – duas em suporte fotográfico e uma em registo sonoro. A cada cidade calhou um dos verbos do título, sendo ouve-me o verbo respetivo à cidade do Porto. Durante o espetáculo, surgem várias referências à obra da artista; pés descalços, movimento de mãos no vazio, um corpo contra uma tela e o uso de papel e tesouras na composição sonora são alguns dos elementos reminiscentes das criações de Helena Almeida. Inconstante e, por vezes, agressiva, a peça apresentada transfigurou o corpo numa presença sonora penetrante e envolvente.
As três escolas superiores de música envolvidas no projeto desenvolveram um espetáculo que, para além de celebrar o trabalho da artista através de composições musicais inspiradas na sua obra, também permitiu aos alunos apropriarem-se das ideias, técnicas e referências das outras academias. Assim, com uma dinâmica interventiva partilhada por todos os participantes, o evento contou com atuações profundamente diferentes mas ligadas entre si, tornando possível a criação de uma só composição em volta de um só objeto.
Helena Almeida nasceu em Lisboa, em 1934, e completou os estudos em Pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa, em 1955. Na sua obra, a artista trabalha com fotografia, video, performance, escultura, pintura e desenho, sendo o seu próprio corpo o fio condutor nos vários formatos. Faleceu em setembro de 2018, no mesmo ano em que a sua obra passa a integrar a coleção permanente do Tate Modern, em Londres.
A BoCA decorreu entre 15 de março e 30 de abril em Braga, no Porto e em Lisboa. A segunda edição da bienal contou com 52 artistas, dentre os quais se destacaram os nomes Rui Chafes, Vera Mantero, Mariana Tegner Barros, Milo Rau, João Pais Filipe e João Pedro Rodrigues, entre outros. Segundo o editorial, um dos grandes objetivos da BoCA em 2019 foi “sedimentar os nossos conceitos estruturais e a nossa prática, através das sinergias desenhadas entre cidades, entre equipamentos culturais, entre territórios artísticos e entre públicos diversos“.