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Cultura

FITEI: A OLHAR PARA O SUL

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O Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) está infinitamente a viajar. A mais recente viagem, a desta 42.ª edição, terminou a 25 de maio, no Grande Auditório do Teatro Municipal Rivoli, com o espetáculo Odisseia, uma criação da Cia. Hiato.

A viagem feita pelo público que vê todos estes espetáculos é muito maior do que o que se possa pensar: dois ou três anos antes de cada edição começa o visionamento de peças, uma viagem do diretor artístico, Gonçalo Amorim, a festivais, mercados de arte ou espetáculos concretos. E assim começa a ser pensada a programação. Nesta viagem, já a olhar para sul, Portugal é esquecido? Certamente não: “há uma proximidade com o meio artístico português, é preciso perceber o que se está a estrear e o que se está a fazer”, conta o diretor do festival.

O foco do FITEI sempre foi o Chile e Argentina, mas este ano viajou-se num sentido diferente. Nesta edição do FITEI, onde se fala concretamente de temas muitos específicos, que dão o nome ao título de apresentação – “Brasil Descolonizado” –, é interessante pensar que o conjunto do visionamento de espetáculos acabou por chamar um tema sobre o qual é preciso falar, e é gratificante podermos falar dele em teatro. “Os espetáculos que fui vendo acompanhavam de forma muito interessante e reativa a posição político-social do Brasil”, diz Gonçalo Amorim, acrescentando que este fator favoreceu a relação com os Dias da Dança (DDD) – que este ano esteve uniu-se ao FITEI, pois a programação já estava a seguir artistas brasileiros em dança.

E como se prepara esta grande viagem? Depois do visionamento dos espetáculos, começa a montar-se o festival, começando pelo orçamento e pela comunicação, pois o fecho do catálogo é uma das grandes prioridades. Este passo acontece em janeiro ou fevereiro de cada ano, organizado só pela equipa do FITEI. A partir de março, aumenta-se a equipa de produção que irá trabalhar na edição específica daquele ano. Estes viajantes iniciais têm de ter um grande “jogo de cintura”: “a pré-produção é fonte de muito stress”, revela Gonçalo Amorim. As licenças, os transportes e a burocracia habitual são tratados com bastante antecedência. Por isso, “depois do festival arrancar, a segunda semana é sempre mais tranquila; durante o festival, a equipa é bastante solidária para reagir a imprevistos”.

A ver e a participar na viagem estão pessoas dos 8 aos 80 anos, e é um objetivo do FITEI abranger todas estas faixas etárias na sua programação. Neste sentido, a parceria com o festival DDD volta a ser mencionada, pois aumentou a visibilidade dos dois festivais. De lado com o crescimento do turismo, o FITEI dá mais vida à cidade: há mais pessoas nas ruas, há mais pessoas nas salas de espetáculo. O porto da viagem já não é o Porto abandonado dos anos passados. Mas há sempre algo de mau em tudo o que é bom, e o aumento do turismo aumenta também o preço das viagens e do alojamento, aspeto bastante fulcral para o festival, visto que grande parte da programação é internacional.

Mas o FITEI viaja muito bem com o tempo: acompanha o presente organizando o futuro, trabalha sempre temas atuais, novas dramaturgias, questões económicas e políticas, a “descolonização” do pensamento. Há sempre a preocupação de criar formações com as escolas artísticas do Porto e com a comunidade artística da cidade, de criar residências artísticas que preenchem as atividades paralelas do festival.

Como é que o FITEI viajaria melhor? O que falta para uma viagem perfeita? Subir o valor do orçamento destacado para o festival. “Aumentar o financiamento, mantendo o número dos espetáculos e o impacto; aumentar a divulgação, promover momentos de encontro em paralelo.”

Com 42 anos de conexões transatlânticas, o Porto torna-se num lugar de emoções, esperanças e lutas partilhadas com inúmeras companhias. É um festival que viaja para lá da sua forma física: é uma porta de entrada para muitas companhias, nomeadamente brasileiras. Mostra que o Sul tem a sua própria linguagem digna de ser conhecida, com teatro que transporta uma mensagem sobre o pensamento atual. E isto é um grande fator de afirmação, porque “pensar no sul do mundo é pensar no sul da Europa”.

Nesta viagem infinita, de ciclos que se fecham e recomeçam perpetuamente, o FITEI olha e olhará sempre para o sul.

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