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BASQUEIRAL 2019: AS DIFERENTES VIAGENS SONORAS DE LAMAS

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O segundo dia do Basqueiral 2019 apresentava um cartaz recheado de variedade musical. Do hip-hop ou heavy metal à eletrónica, havia um estilo para cada gosto.

Como era sábado, o festival começou mais cedo que no dia anterior. Passavam pouco das 17h30 quando os Blind The Eye entraram no Palco Tendinha dos Clérigos. O conjunto de Santa Maria da Feira sentia-se “praticamente em casa”, e o apoio do público confirmava a ideia. O heavy metal incessante manteve as energias em alta durante toda a atuação e provocou mosh pits dos fãs mais acérrimos.

Em verdadeira prova da diversidade do Basqueiral, às 18h30, realizou-se uma “Missa Alternativa”. Na prática, um concerto de Acid Acid dentro do Museu de Santa Maria de Lamas. Tiago Castro é o músico que criou um ambiente psicadélico envolvente e íntimo dentro do espaço. Não é para todos, mas a técnica por trás das suas composições puramente instrumentais providenciou uma sessão agradável aos espetadores.

Chegadas as 19h30, estava na hora de Shared Files, no Palco Museu… Ou pelo menos era esse o plano. Problemas técnicos na mesa de misturas atrasaram a atuação da banda, e por consequente todo o cartaz do festival, em cerca de 50 minutos. “Olá, este é o encore”, brincou Rita Pinto, vocalista da banda, quando o espetáculo começou. A eletrónica do grupo, finalmente, fez-se ouvir em Lamas e compensou a demora. De notar a participação de Jorge da Rocha na última canção, em tributo ao fundador do museu de Lamas, Henrique Alves de Amorim.

Palmers. Fotografia: Sofia Matos Silva

Era a vez dos Palmers, no Palco Tendinha dos Clérigos. Uma guitarra, um baixo e uma bateria foram um trio clássico, e tudo o que era preciso para fazer o punk rock com uma dose de surf que conquistou a audiência do Basqueiral. “Hate You” e “Long Ben” foram alguns dos temas que a banda tocou ao cair da noite. Cláudia Brás, no baixo, sofria de dores nas costas, porém a felicidade evidente no palco enganava os mais desatentos. A receção foi tão positiva que os Palmers se despediram- com a primeira atuação ao vivo de uma nova faixa. Tinha “tudo para correr mal”, de acordo com Cláudia, contudo serviu como um ótimo desfecho ao concerto.

Por duas vezes em cada um dos dois dias do Basqueiral, realizou-se um interlúdio entre os concertos. Os “Brain Dance” juntavam o audiovisual ao teatro para criar uma experiência abstrata e surreal. O significado simbólico dos espetáculos podia não ser aparente, no entanto conseguia sempre deixar a audiência num estado de hipnose maravilhada.

As atenções voltavam-se, de novo, para o Palco Museu. Um dos momentos mais aguardados do dia estava prestes a começar. Surma e a viagem transcendente da sua sonoridade apresentaram-se em Santa Maria de Lamas. “Hemma”, “Maasai” e “Voyager”, peças habituais para os fãs, experiências surpreendentes para quem ouve pela primeira vez, para todos sempre uma aventura fantasiosa e única no panorama da música nacional. “Longa vida ao Basqueiral”, declarava a artista. O carinho era recíproco, tanto que mereceu um encore espontâneo que permitiu ouvir um tema ainda “muito mal ensaiado”. O festival atrasou mais um bocado por isso, mas os aplausos fervorosos comprovaram que, desta vez, foi por uma boa razão.

Surma. Fotografia: Sofia Matos Silva

Cave Story continuaram a atividade no Palco Tendinha dos Clérigos. O quarteto aqueceu a noite em Lamas com um alinhamento marcado pelo mais recente álbum, Punk Academics. As pausas entre canções eram curtas e limitavam-se a sinceros “Obrigado”, devido ao apoio constante do público. O rock eletrizante era o suficiente para fazer do concerto um sucesso.

Passava da meia-noite quando o Palco Museu recebeu Vaiapraia. O artista deu o seu único concerto deste verão. A voz de Vaiapraia é como as canções: versátil, divertida e marcante. Os presentes dançavam e entoavam as letras das faixas mais conhecidas. No meio do concerto, uma nota do artista para os dias de hoje: “É mês de orgulho. O que verdadeiramente importa é que uma pessoa como eu já pode sair à rua e correr menos riscos de ser espancada ou morta”. Uma reflexão forte num concerto que justificou todo o destaque que lhe era atribuído.

O Conjunto Corona teve a função de encerrar o Palco Tendinha dos Clérigos. O sucesso do grupo comprova-se logo pelos cânticos por “Gondomar”, mesmo que ninguém da audiência se tenha acusado como habitante da cidade quando inquirido pelos artistas. De resto, a festa habitual, com o Homem do Robe a dançar no meio da multidão, shots de Hidromel e temas como “187 no Bloco”, “Santa Rita Lifestyle” e o mais popular da noite, “Chino no Olho”. O hip-hop irreverente do projeto continua a ganhar cada vez mais fiéis, e para perceber o fenómeno, basta estar presente numa noite como a que se viveu no Basqueiral.

O concerto derradeiro da terceira edição do festival ficou a cargo dos finlandeses K-X-P. A banda aumentou a pulsação da madrugada, através da característica musica eletrónica com fusões de space rock e techno.

Mesmo com atrasos e alguns obstáculos, o Basqueiral terminou em alta. O evento conquistou os espetadores e os artistas que por lá passaram, revelando-se um projeto de quem tem gosto pela cultura feito para quem a produz e consome. Talvez o maior mérito da sua evolução este ano é a vontade que nos dá de descobrir como será o próximo.

Conjunto Corona. Fotografia: Sofia Matos Silva

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