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CLARA NÃO E UM LIVRO “PARA PESSOAS”

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Foi com gomas e boa disposição que Clara Não, Conguito (Fábio Lopes), Aline Flor e o diretor da editora Ideias De Ler receberam todos os que chegavam à sala de espetáculos do Maus Hábitos para o lançamento de Clara.

Quem entrava no espaço de intervenção cultural não ficava indiferente às ilustrações da artista espalhadas pelo local. A plateia foi, desde logo, convidada a ver as ilustrações dispersas pelas paredes da sala, antes de Conguito distribuir as gomas por todos.

A sessão de apresentação começa com agradecimentos. “Amor” e “indignação” são as palavras usadas pela autora para caracterizar o livro. Mas ele é muito mais do que isso. Este é um livro que “inspira”. “São pedacinhos dela”, diz o editor.

Conguito conheceu Clara Não “como a maioria das pessoas: através da internet”. Quando a descobriu, através de um outro ilustrador conhecido no mundo digital, Another Ângelo, decidiu comprar alguns trabalhos da artista. O YouTuber ficou surpreendido com “um pêlo do buço da Clara”, que acompanhava a encomenda, quando recebeu a sua primeira ilustração. Foi assim que nasceu a amizade. “Um pêlo, porque não?”, diz Clara, em tom de brincadeira.

O livro representa a passagem da artista do digital para o físico. A artista assume que sentiu uma responsabilidade muito grande durante todo o processo. “Achava que o stress me ia comer por dentro”, o que não aconteceu, e esta aventura resultou no que, até agora, tem sido um sucesso de vendas.

O perfecionismo de Clara espelha-se ao longo do livro. As ilustrações encontram-se dispostas segundo uma sequência, “não foram postas à toa”. No entanto, apesar desta lógica de leitura, Miga, Esquece Lá Isso! também pode ser lido livremente.

Um dos temas principais do livro é o feminismo. Clara (Não) só aborda este tema ao longo da obra como também no trabalho que publica na sua página de Instagram.

Fotografia: Maria Vilela

Ao longo da apresentação, Clara conta histórias e testemunhos reais de situações engraçadas e, outras, mais sérias, que despertam a atenção dos presentes – que riem e concordam com a artista. Clara Não estimula, assim, “risadas de amor-próprio”, e faz esquecer os problemas.

Aline Flor conheceu Clara através do podcast Do Género, do jornal Público. As duas relembram o episódio divertido em que cantaram a música de João Pedro Pais, “Ninguém É De Ninguém”.

O público é convidado a fazer perguntas à autora, mas de início ninguém parece ter dúvidas. É Conguito quem começa a “onda” de perguntas, que com uma questão promove um momento íntimo entre Clara e os pais. “Como se sentem os teus pais por expores tudo na internet?” Clara responde: “a minha mãe sempre prezou pela minha honestidade”.

O seu trabalho “está escrito como aconteceu” e tem o “selo de aprovação da mãe”, que sempre lhe disse que nunca devia ter medo de dizer a verdade. E o pai de Clara? A artista diz-nos: “o meu pai é chill!”. Professores, amigos e orientadores de mestrado também estão presentes na plateia a apoiar Clara.

Mas não são só os pais, amigos e professores de Clara que apoiam o seu trabalho. Aline Flor diz que este é um livro para todas as pessoas da família. É neste momento que a jornalista dá uma prenda a Clara e afirma: “O Miga é para pessoas.”

Aline pergunta qual é a história mais antiga do livro. “O livro nasceu dos cadernos”, confessa Clara. Os desgostos de amor que começaram em 2015 foram o motivo que levou Clara a começar as ilustrações. Após encher cinco cadernos com ilustrações, a artista começou por vender as suas primeiras zines. A primeira, Post Break Up Sex Zine, comprada por Aline, “está em inglês para os amigos estrangeiros”.

A artista desenha durante as viagens e faz comentários engraçados sobre os sítios que visita. O seu objetivo é escrever sobre situações reais e temas atuais e urgentes, nomeadamente o feminismo e o amor. “O livro é todo feminista”, afirmou a autora.

Uma das perguntas mais esperadas finalmente é feita: “Como é que surgiu o título do livro?” Clara Não diz que o título é um apelo às pessoas para não se preocuparem demasiado com os pequenos problemas do dia-a-dia. Miga, Esquece Lá Isso! encontra-se no feminino porque “já vivemos muito a vida no masculino”. No entanto, Clara diz que este é um livro para todos.

Não é apenas a artista que conta histórias pessoais ao longo da apresentação. Conguito e Aline dizem que se identificaram com muitas ilustrações do livro. Partilharam algumas das suas histórias, e falaram do modo como rapazes e raparigas são tratados de modo diferente ao longo da vida, ressalvando a importância do feminismo.

Aline, Clara e Conguito fazem um apelo a todos para lerem e partilharem o livro. A autora e ilustradora diz que “há sempre algo que vai tocar as pessoas”.

Fotografia: Maria Vilela

A artista portuense assume-se como uma romântica em amizades e no amor. Fala da importância das redes sociais no seu trabalho, após Conguito lhe perguntar como está a lidar com o mediatismo recente e se isso está a afetar o seu conteúdo. “Não, porque eu não deixo!”, afirma com convicção a artista, que se mostra satisfeita com a sua comunidade digital, apesar de alguns comentários negativos. Clara não acredita que o segredo é a alma do negócio, mas sim que “a comunidade é a alma do negócio”.

A plateia pergunta a Clara quais são os temas que gostava de abordar futuramente. “Sexualidade feminina”, é a resposta da artista. Clara Não diz que quer combater tabus e normalizar a descoberta do corpo feminino.

A conversa flui naturalmente, mas está quase na hora de as Shuggah Lickurs (a própria Clara Não e Carolina Grilo) levarem o público do Maus Hábitos “à escola”. A artista agradece a todos por terem vindo e pede que fiquem para a festa. Mas antes disponibiliza-se para autografar os livros, à venda no local.

Para Clara Não, a paixão à primeira vista não existe, mas sim “o deslumbre”. Deslumbrados ficaram os que assistiram à apresentação do livro. No entanto, qualquer um pode “apaixonar-se à primeira vista” ao ler Miga, Esquece Lá Isso!.

Fotografia: Maria Vilela

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