Cultura

LITERALMENTE “A QUIET EVENING OF DANCE”

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Com fortes influências do ballet clássico, Forsythe mergulha nos fundamentos do bailado, reciclando peças que nos são apresentadas de novas maneiras. É certo que ter conhecimentos sobre dança – essencialmente sobre os fragmentos que nos são mostrados – traria um olhar crítico muito mais imediato sobre A Quiet Evening of Dance, obra apresentada no Teatro Municipal Rivoli a 28 e 29 de junho. No entanto, isto não impede a admiração para quem não tem um estudo aprofundado da área da dança.

A Quiet Evening of Dance divide-se em duas partes, separadas de forma bastante evidente. É-nos mostrado, primeiramente, “Prologue-Catalogue-Epilogue”, terminando com “Diálogo” (“DUO2015”), originalmente um dueto só de mulheres criado em 1996 e re-coreografado em 2015. Na segunda parte, a atmosfera muda, pegando em música barroca, que faz com que as coreografias sejam, por si só, mais grandiosas, remetendo para a corte de Versailles – “com a dança do Rei Sol e as cinco posições, o pliê, a pirouette, num movimento atualizado.”

Um dos aspetos mais marcantes é a utilização da música, e a diferença, quase radical, no seu tom da primeira parte para a segunda. No primeiro ato, somos abraçados maioritariamente pelo silêncio, intercalado com o canto de passarinhos que de vez em quando conseguimos ouvir. Será que se pode dançar com o silêncio? Será o silêncio também música? Algumas destas perguntas surgem enquanto vemos bailarinos, sempre em duo, a dançar. Ao silêncio junta-se o som das suas respirações, muito marcadas, e palmas ocasionais, formando assim uma música que acompanha a dança vinda do próprio corpo.

Ao ballet reciclado que Forsythe apresenta juntam-se, muito esporadicamente, passos de breakdance, que remetem para o universo da dança urbana – e que, a determinada altura, são até estranhos para os próprios bailarinos, que interrompem o seu movimento e olham para aqueles movimentos de braços cruzados.

Saímos da sala satisfeitos e carregados de inspiração, com a ideia fantástica de que um corpo consegue transportar em si história através do movimento.

Artigo da autoria de Maria Pinto.

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