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Cultura

SUMOL SUMMER FEST 2019: É MELHOR TRATAR BROCKHAMPTON COM RESPEITO

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Dada a “má” fama do Sumol Summer Fest, muitos ficaram surpreendidos e/ou chateados com a notícia de que a estreia da “melhor boy band desde One Direction” em Portugal seria na Ericeira. Muitos fãs até desistiram logo da ideia de os ir ver mesmo por causa disso – como assim, teriam de se meter no meio do nada, rodeados de hormonas saltitantes de adolescentes e pré-adolescentes durante horas? Mas muitos foram os destemidos e isso notou-se logo, mesmo antes do segundo dia arrancar oficialmente.

No campismo, eram várias as colunas de mão a passar Brockhampton, e vários grupos refrescavam as letras e afinavam as vozes para o concerto que viria mais logo, às 00h45. Aqui e ali, avistavam-se também várias t-shirts do coletivo de hip-hop americano.

Os fortes, que conseguiram fazer refeições equilibradas e dormir mais de duas horas, foram-se dirigindo para o Palco Quicksilver, perto das 15h00, para avistar tanto a street art de Oker, como os moves dos skaters que ali andavam. Às 17h00, deu-se o live act de Cálculo, o principal nome deste palco secundário, seguido depois pelos DJs Noia e Torres.

O começo

Foi também às 17h00 que se abriram as portas para o recinto principal. Poucos minutos depois, a linha da frente do Palco Sumol já estava cheia e pronta para aguentar sete horas até à razão que os tinha trazido até ali – Brockhampton. Comparadas com as do primeiro dia, as caras (e os estilos) eram bastante diferentes: a grande maioria estava ali com bilhete diário e um único objetivo em mente. Para além do número de pessoas ter quase triplicado face ao primeiro dia, a heterogeneidade das mesmas era notável. Às 20h00, uma amálgama interessante de agrobetos, hipster betos, alternos e jovens já demasiado bolados ou pastilhados para saberem onde estavam encontrava-se junto ao palco principal para o aquecimento dos GROGnation.

Depois de quatro anos sem vir ao Sumol, o grupo português fez questão de lembrar o público do seu crescimento até agora, das suas origens e do que ainda está por vir. Para celebrar a ocasião, foi escolhido um medley interessante: desde as músicas mais antigas até às mais populares – que fizeram deles um dos maiores nomes do hip-hop português – a cumplicidade e sintonia entre os rapazes da Linha de Sintra foram óbvias. Temas como “Voodoo”, “Chama-me Nomes” e “Pescoço” foram os que mais espevitaram a plateia. Com direito a inúmeros mosh pits – habituais do festival -, idas à linha da frente e até crowdsurfing, com os GROG em casa tudo pôde acontecer, e o grupo esteve verdadeiramente à altura do desafio que foi abrir o melhor e mais recheado dia do festival.

Na linha da frente, já custava mexer e respirar. Quem esperava que a plateia se dispersasse para ir jantar – até porque o concerto seguinte se desviava um pouco do alinhamento do dia -, enganou-se. Na pequena pausa entre GROGnation e Deejay Telio, o número de pessoas até aumentou. A tarefa do cantor angolano não era fácil – manter o público, que estava ali com outro objetivo, entretido e minimamente envolvido -, mas o facto é que o conseguiu. Sempre de um lado para o outro, Telio, acompanhado por Deedz B, obrigou a plateia a fazer o mesmo. Os mais puritanos faziam cara feia mas lá obedeciam e iam, como quem não quer a coisa, acompanhando temas como “Não Atendo” e “Que Safoda” – aqueles que só quem não sai de casa não conhece. Em típica moda Sumol, até o clássico da arte de rebolar “Esfrega Esfrega” deu origem a mosh.

A grande energia criada por GROG manteve-se ou até aumentou com Telio, surpreendentemente, e cabia agora a Holly Hood fazer voltar o público à onda hip-hop e trazer a linha da Azambuja para a Ericeira. Mal entrou em palco com “O Meu Nome”, acompanhado pelo seu hype man, a Ericeira voltou a tremer. Desde “Fácil” a “Cala a Boca”, o “dread que matou Golias” esteve a par do que dele se esperava e aproveitou ainda para deixar os membros da sua editora, Superbad, brilhar – L-Ali com “Siri” e No Money com “Cartas da Justiça” – num concerto curto que deixou algum tempo para os fãs respirarem – ou tentarem – antes dos meninos de ouro pelos quais todos ansiavam.

A explosão

Em palco, foram surgindo os adereços do espetáculo. De ambos os lados, duas mãos azuis insufláveis; no centro, os degraus para o céu, literalmente. Cada vez mais apertadinhos e ofegantes – quer pela ansiedade motivada pelo que aí vinha quer pela sensação de sardinha enlatada –, nas filas da frente gritava-se pelo nome de todos os membros e da banda. Mas foi só quando o produtor Romil apareceu do lado direito do palco na sua mesa de mistura que a realidade atingiu todos os que ali estavam. Os gritos e os cânticos aumentaram e, poucos minutos depois, “shit really hit the fan” quando Dom McLennon surgiu no topo da escadaria e os primeiros versos de “NEW ORLEANS” se fizeram ouvir. Como verdadeiras estrelas caídas do céu, Kevin Abstract, Bearface, Matt Champion, Joba e Merlyn Wood foram surgindo, um a um, em palco – cada aparição arrancando do público gritos de histerismo misturados com a letras da música, esta na ponta da língua de todos.

Não havia tempo para descansar. As lágrimas, empurros e esmagadelas não eram nada comparadas à bolha de energia, conforto e emoção que a melhor boy band do mundo criou com o público. Cada palavra de cada verso de cada música era acompanhada a uma voz por quem teve a sorte de ali estar. Os membros da banda, sentindo a sintonia, esboçaram os seus mais bonitos e sinceros sorrisos, e até lágrimas por parte de Dom e Merlyn. A corrente de alta energia criada com bangers como “ZIPPER”, “GUMMY”, “STAR” e “SWEET” só abrandou em “BLEACH”, quando Kevin Abstract pôs o recinto todo a entoar o refrão, naquele que foi o melhor e mais sentido momento de todo o festival.

Seguiu-se a trilogia das 1990’s – “1997 DIANA”; “1998 TRUMAN” e “1999 WILDFIRE” -, e o fim estava perto. A música apontada para o final? “BOOGIE”, claro, a fatality escolhida pela “melhor boy band desde One Direction” no combate em que todos saímos a ganhar. Os Brockhampton esforçaram-se e foram recebidos com tudo a que têm direito pela “best crowd of all this motherfucking tour”, título dado por Kevin Abstract, que viria depois a reforçar a mesma ideia nas redes sociais, secundada também por Dom e Merlyn.

De lágrimas limpas e corpos doridos, os olhos do público brilhavam perante a surrealidade do que tinham acabado de testemunhar. Como seria de esperar, depois do objetivo mais do que cumprido, a plateia dispersou, mas Sumol é Sumol, e houve quem ficasse para Karetus – um tipo de aposta típica para um final de noite, e de festival – para descarregar as últimas energias em mosh pits patrocinados por drogas leves e por versões techno rafadas dos últimos hits internacionais.

Numa decisão muito inteligente por parte da direção, tanto o segundo dia como todo o festival pertenceram a Brockhampton. Agora resta esperar que voltem, de preferência em nome próprio, e que a próxima edição do festival da Ericeira traga a mesma energia e continue a expandir horizontes.

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