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NOS ALIVE: MUITO BON IVER E AS LÁGRIMAS NEGRAS DE SMASHING PUMPKINS

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O terceiro e último dia do NOS Alive 2019 trouxe ao Passeio Marítimo de Algés muito rock, muito pop e, acima de tudo, muitos, mas muitos, amantes de boa música. Ainda não era hora de jantar e as plateias já se iam enchendo. No Palco Sagres, dominavam os pacientes fãs de Gavin James, Idles e Thom Yorke, que lá se implantaram desde a abertura de portas. Já no Palco NOS, a árdua tarefa de ficar perante o estrado durante horas coube aos fãs de The Smashing Pumpkins e de The Chemical Brothers, que desde cedo se fizeram notar por todo o recinto com t-shirts alusivas às bandas.

Futuros promissores no Palco Sagres

Os jovens Pip Blom abriram no Palco Sagres no segundo dia. 24 horas depois, era a vez de Rolling Blackout Coastal Fever. Sim, parece que escreveram o nome utilizando só as sugestões do teclado. Mas a sua música é tudo menos uma mera combinação de palavras.

Os australianos foram o arranque perfeito do dia, instalando o ambiente enérgico e fervoroso que se iria manter ao longo do dia e da noite. Serviram-se fortemente do seu álbum de estreia, Hope Downs, lançado em junho deste ano, para lançar uma epidemia pelo público que pôs todos a abanar o capacete. Possivelmente um exercício de alongamento para aqueles que se dirigiram a seguir ao Palco NOS de forma a dançar ao som de Vetusta Morla.

O rótulo “palco secundário” não se aplicou de todo ao Palco Sagres neste último dia de festival, uma vez que, especialmente durante o concerto de Gavin James, deixou desfalcado o relvado artificial do Palco NOS, dito “principal”.

IDLES e a rouquidão pós-concerto

Não sei se o vocalista dos IDLES perdeu a voz depois do concerto, mas as probabilidades são altas. O concerto de IDLES serviu um propósito catártico, de limpeza e reset da alma, libertando o público de todas as suas angústias, medos e raivas através da maneira mais violenta que existe: gritar.

Mas atenção, a música de IDLES não é só gritos. Antes pelo contrário: a banda conta com letras carregadas de mensagens políticas e sociais. Cantou-se sobre o National Health Service, sobre feminismo, imigrantes e amor, tema que deu direito a um medley iniciado com “Love Song” e continuado com clássicas baladas de amor como “Someone Like You” da Adele. Sim, a sério.

Joe Talbot afirmou “I am a feminist” antes de começar a tocar “Mother”. “I’m Scum” e “Divide & Conquer” são também elementos de protesta veiculados pelos fortes riffs e linhas de baixo, e assim sucessivamente. O concerto de IDLES infetou o público com a vontade de abanar a cabeça e ficar irrequieto, tudo isto embrulhado numa experiência única de libertação de quem se sente insatisfeito com o mundo e quer fazer-se ouvir.

A missa de Bon Iver

Tinha-se o sol posto há pouco tempo e já a frente do Palco NOS era um autêntico mar de pessoas. A violência e a agressividade de IDLES foi gradualmente trocada pelo som calmo e suave de Bon Iver, que entretanto ia subindo ao palco, preparando-se para começar a missa. E que bela missa foi.

A voz única de Justin Vernon, potenciada por vários efeitos e harmonias, fez o público olhar para o céu de lágrimas na cara. Passeou-se por entre baladas e canções mais animadas, tudo ligado pela sonoridade peculiar da banda. Não faltaram os clássicos “Holocene” e “Skinny Love”, nem outros temas como “8”, “22”, “29”, “45”, “666” e “715”. Não, não são os números do Euromilhões, mas sim canções do álbum 22, A Million.

E claro, há algo que não pode deixar de ser mencionado sobre a banda, que anunciou há dois dias o lançamento de um novo álbum intitulado i,i: o saxofone delicioso e sensual de Colin Stetson, presente em vários dos temas tocados ao longo do concerto. O seu papel é fulcral, dando à banda um som suave e, repito, sensual. Não no sentido de um filme para adultos, mas no sentido de nos sentirmos imediatamente atraídos pela banda e com vontade de dar e receber amor e compreensão à nossa volta.

Tudo isto e ainda não passava das 23h00.

The Smashing Pumpkins vs Thom Yorke

Duo improvável, sem dúvida. Acontece que, meia hora depois do início do concerto dos cabeça de cartaz The Smashing Pumpkins, Thom Yorke subia ao Palco Sagres. A indecisão reinava entre os festivaleiros, que não queriam perder o resto do concerto dos norte-americanos, mas também não queriam deixar de ver o britânico brilhar.

Enquanto do Palco NOS se ouviam as baladas e os hinos de The Smashing Pumpkins, como “Zero”, “Disarm” e, claro “Bullet with Butterfly Wings”, Thom Yorke dançava ecleticamente ao som da sua música eletrónica e dos rebentos dos seus vários projetos como Atoms for Peace e o seu mais recente trabalho a solo, o álbum ANIMA. “Amok”, “Truth Ray” e “Traffic” foram alguns dos deleites do vocalista dos Radiohead.

Por um lado, Billy Corgan, com a sua fantástica maquilhagem e vestimentas pretas, a provar que consegue, após todos estes anos, manter o seu estilo punk-rock bem vivo e presente, como se se tratasse de 1995. O jogo de luzes, cores, e as três grandes bonecas em palco ajudaram também a criar todo um espetáculo visual, além de sonoro.

Por outro lado, Thom Yorke a mexer e a fazer querer mexer o esqueleto, com ANIMA em mãos, a dar uma demonstração das suas capacidades vocais e de escrita, a alternar entre baladas que dão vontade de apaixonar-se e batidas eletrónicas com vozes espaciais. E já referi os passos de dança?

Os visuais de The Chemical Brothers. Oh, os visuais.

The Chemical Brothers foram os encarregados de encerrar atividades no Palco NOS – pelo menos até ao próximo ano. A música eletrónica do duo britânico deu asas a quem quis dançar e voar a seguir a The Smashing Pumpkins, tendo muitos mantido a presença para ouvir, e ver, The Chemical Brothers.

Não me vou cansar de enfatizar os visuais porque, apesar de a música ser incrivelmente arrepiante, hipnotizante e muito bem misturada, ficaria muito desfalcada se não estivesse acompanhada pelas constantes imagens que se observam no fundo do palco. Desde estranhos bichos que dançam ao som da música até figuras que nos olham nos olhos, tudo foi lindamente sincronizado com a música, criando um espetáculo de luz, cor e som que fazem jus, sem dúvida, à aura do Palco NOS.

Assim finda mais uma edição do NOS Alive, tendo trazido consigo três dias de muita, mas mesmo muita música, animação e entretenimento para todos os gostos: do hard rock de Greta van Fleet até ao hip hop de Dillaz e Plutónio, passando pelo R&B de Jorja Smith, o folk quase eletrónico de Bon Iver e o indie rock de Vampire Weekend. Para o ano fica, para já, a promessa de um retorno da mítica banda Da Weasel.

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