Cultura
FOGO DE ARTIFÍCIO AO SOM DE SENSIBLE SOCCERS NO L’AGOSTO
Lá fora a fila continua longa, mas já os jardins do Museu Alberto Sampaio se encontram prontos para receber B Fachada. Dá-se um último gole na bebida para afinar as cordas, que as da guitarra já estão prontas.
O concerto começa à hora marcada, algo a que a terceira edição do L’Agosto ainda não tinha tido a oportunidade de assistir. “Disseram-me para começar com algumas das minhas músicas mais calminhas, que vocês hoje estão ao rubro”, brinca o cantautor, perante uma plateia cuja densidade não faz jus à do seu reportório. “Sozinho no Róque”, “Estar à Espera ou Procurar” e “Tema do Melancómico” são as primeiras canções que ecoam pelo espaço enquanto este se enche. “Boa, agora podemos começar o concerto que o fado lá fora já acabou. Bem-vindos!”.
Para lá das muralhas, celebram-se as Festas Gualterianas: há concertos por toda a parte, e a cidade está mais viva do que o habitual. Ainda assim, nem mesmo Dino D’Santiago, que atuava na Plataforma da Artes, seria capaz de impedir uma noite de casa cheia.
Ainda que com uma setlist improvisada na hora, o Tio B não foi cedendo às súplicas do público. Ao pedido de “Boa Nova”, lamentou não estar acompanhado de uma viola braguesa, mas cantou com quem se atreveu a gritar as letras de “Os 2 no Polibã” e “Primeiro dia”.
Para além de brindar o público com um sorriso e uma boa disposição que pareciam não ter fim, também houve tempo para contar alguns episódios que viveu com Allen Halloween – que marcou presença no primeiro dia do festival -, episódios esses que serviram de introdução ao tema “Quem quer fumar com o B Fachada”.
“Camuflado”, “Agosto” e “Pifarinho” encerraram a passagem de B Fachada por terras minhotas, que confessou serem-lhe muito próximas. “Bem, foi um prazer estar aqui. Os Sensible Soccers vão apanhar o fogo de artifício à meia-noite e vão tocar para vocês o seu som mais etéreo”.
O cantor recentemente colaborou com o grupo nortenho, tendo produzido o seu último longa duração, Aurora. A diversidade instrumental neste disco marcou um ponto de mudança na discografia da banda, que em 2018 se transformou em trio depois de o guitarrista Filipe Azevedo sair do projeto.
Do estúdio para o palco, os intrumentais oníricos e etéreos encarnam uma força dinâmica. Os sintetizadores não se fazem esquecer e ecoam pelos ouvidos de todos, relembrando tempos de outrora. A percussão é hipnotizante e crucial na construção destas músicas intransigentes que exigem atenção, e, acima de tudo, boa disposição e um corpo para dançar – felizmente, não houve falta de nenhum dos três. Entre faixas, os membros da banda esboçam sorrisos honestos ao som dos aplausos mais fortes do L’Agosto 2019.
Já passa da meia-noite, e, finalmente, o fogo de artifício começa. Os holofotes do palco diminuem de intensidade e, em segundo plano, as cores da pirotecnia são a perfeita representação visual deste concerto, cuja receção por parte do público foi a mais calorosa dos três dias de festival.
Axel Willner, também conhecido por The Field, foi o responsável por fechar a noite. O DJ sueco, uma referência no mundo da música eletrónica, protagonizou uma das atuações mais únicas do L’Agosto. O seu techno minimalista foi uma lufada de ar fresco depois da atuação vibrante dos Sensible Soccers. Com transições quase impercetíveis, o DJ set de uma hora pareceu, ao ouvido inexperiente, uma só música.
Depois do fogo, no entanto, veio a chuva, e já por volta da uma da manhã, o recinto começou a esvaziar-se, ao som de batidas que se tornaram repetitivas. A postura de Axel em palco, pouco participativa e cabisbaixa, não contribuiu para reter os festivaleiros que restavam.
Apesar disso, o dia final do L’Agosto 2019 foi o que teve mais afluência do público, terminando em grande uma edição que contou, mais uma vez, com nomes de referência a nível nacional e artistas estrangeiros que excederam expetativas. Esta diversidade musical ajudou a fazer do festival um evento multigeracional, e o espaço reduzido do recinto, que convidava ao convívio, conferiu um ambiente descontraído e familiar aos três dias.
Artigo da autoria de Francisca Gomes e João Norte.