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Cultura

RECEITA PARA MANTER VIVOS AQUELES QUE AMAMOS

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Émilie e Voltaire, peça de Arthur Giron, conta o caso amoroso que escandalizou toda a Europa antes da Revolução Francesa, entre o filósofo Voltaire e Émilie du Châtelet, cientista que viria a ser uma grande impulsionadora de física e matemática no século XVIII.

E por que é que, anos mais tarde, continua a ser relevante fazer esta peça? A Ensemble, através da encenação de Emília Silvestre, responde a isso. Primeiro, porque nunca deixará de ser relevante falar de amor. Segundo, porque Émilie du Châtelet representa uma força feminina enorme, que abala tudo e todos, onde o conhecimento é uma mais-valia e a prioridade mais preciosa.

De um Voltaire homem que observa esta mulher a um Voltaire animal que a deseja, esta personagem é uma das chaves para a aquisição de conhecimento de Émilie, havendo um ciclo de partilha constante entre os dois.

Émilie tem sempre Voltaire na sua mão: mulher poderosa, em algumas situações mais poderosa que Voltaire, grita honestamente “não és um homem, és um macaco, incapaz de controlar os teus desejos mais instintivos”.

Observamos dois amantes, e em algumas partes do seu discurso não os conseguimos perceber. Nem todos nós podemos querer perceber a ciência. Mas o intelectual também ama, e então observamos dois pensadores, que no meio do discurso racional, proferem uma ou outra frase que nos relembra o amor jovem, inocente, que move montanhas. E aí permanecemos, nós, Voltaire e Émilie, sozinhos a olharem-se cobertos de estrelas.

Deste amor científico, real, cru e jovem sobra um resumo, pensado tanto por Voltaire como por Émilie: “como mantemos vivos aqueles que amamos?”. Uma pergunta difícil, indecifrável até. Talvez preservá-los numa peça de teatro seja uma das possíveis respostas.

Artigo da autoria de Maria Pinto.

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