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Cultura

PRESENT TENSE: EXPOSIÇÃO MILLENNIALS

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A exposição “Millennials” está alocada na Galeria Municipal e – segundo José Bártolo, Curador-Geral da edição – inicialmente, pretendia focar-se no design português, apresentar designers da geração millennial e, de algum modo, fazer justiça aos jovens designers que entram no mercado de trabalho, nas condições mais diversas.

Porém, o conceito da exposição evoluiu, dilatou e albergou não só os jovens millennials, mas também artistas variados que se enquadram nesta transição geracional, desde que os seus trabalhos evidenciem marcas nítidas desta condição contemporânea “millennial”. Além disso, abraça não só designers portugueses como internacionais. Desta forma, a exposição apresenta o contexto social, político e tecnológico de uma amostra de trabalhos e artistas e torna possível mapear o design contemporâneo. No total, existem cerca de vinte projetos na exposição, alguns com vários autores (por serem colaborativos), e todos os trabalhos são europeus, mesmo que alguns autores não tenham nacionalidade europeia.

“Millennials” contém três núcleos, não demarcados no espaço expositivo, mas separados no campo conceptual: o “real world”, sobre a reação comum do real e um confronto com problemas quotidianos; o “facts for fictions”, que aponta projetos de identificação e investigação; e o “playground attraction”, que sugere uma abordagem mais lúdica, ao expor processos de naturezas mais colaborativas e autorias coletivas – uma vertente que espelha entusiasmo, prazer e convicção, podendo ser fortemente crítico e ideológico.

O primeiro projeto da exibição Millennials é o “Universal Kimono”, projeto do estúdio ARK. Amsterdam de 2017. Nesta parcela, o público tem disponível um design baseado na Declaração Universal dos Direitos Humanos que, quando impresso, permite criar a partir de uma lógica “DIY – Do It Yourself” – um kimono universal, usado para incorporar as liberdades de expressão, de religião, de medo e do desejo, com o objetivo básico do “eu livre”.

Ao construir e vestir o kimono, uma peça vestuário relativamente universal, vestem-se os artigos da declaração que dão direito a todos os seres humanos de viver, com dignidade e valor, promovendo assim um respeito universal das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, idioma ou religião. Assim, este é um exemplo de uma aproximação do design a uma dimensão social de valores que se querem afirmar atuais; exibidos juntamente com fotografias do universal kimono em tourné, ou seja, vários locais e pessoas, das mais variadas etnias e nacionalidades, vestidas com a afirmação das liberdades.

Outro projeto na exposição Millennials pertence ao estúdio Formafantasma, da autoria de designers italianos sediados em Amsterdam. Nesta secção apresenta-se parte de um projeto de investigação e design em múltiplos formatos, que se debruça no e-waste (lixo e desperdício causado pelos vários dispositivos eletrónicos), e expõe, também em vídeo, objetos criados a partir da reciclagem do lixo eletrônico.

O designer português, sediado na Holanda, Henrique Nascimento, e o programador holandês, Erik Vlemmix, também foram os responsáveis por um dos projetos em exibição. Juntando programação e códigos, foram desenvolvidos vários trabalhos com uma caracterização idêntica, que nasce sempre de debates éticos entre personalidades. A partir da pesquisa online de referências, gera-se uma imagem para ser criada em 3D que, por sua vez, seja representativa da temática em causa. Desta forma, o design é utilizado como ferramenta para aproximar, medir e pesar as realidades políticas.

O jovem designer português, Serafim Mendes, em colaboração com os Megastudio, criou o projeto “Post-print”, que parte do suporte mais convencional do design de comunicação: o cartaz, mesclado com a realidade aumentada. A partir de uma APP que o visitante é convidado a descarregar em seu telemóvel, torna possível uma interação com os cartazes em exposição, numa experiência de realidade aumentada.

O projeto mais visível da exposição são as chamadas de “Flags of Peace” – várias bandeiras estendidas no teto da Galeria Municipal. Nesta sala, expõe-se o resultado do trabalho de 96 estúdios de design, de várias nacionalidades, que foram convidados a desenhar uma bandeira representativa da paz. Em muitos casos, a bandeira emprega elementos identitários nacionais de seus criadores ou elementos e símbolos universais da paz.

Estão expressos em “Millennials”, uma parcela da Porto Design Biennale, diversos valores sociais, políticos, questões tecnológicas e questões de mediação entre o design e os públicos que a exposição integra.

Artigo da autoria de Giulia Pedrosa