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Cultura

QUEREMOS MAIS PISTA(S): “ANDAMOS TODOS À PROCURA DE ALGO”

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PISTA

Lisboa adiantou-se, culturalmente, à Invicta – uma vez mais. Depois te terem sido acolhidos na capital, no final de setembro, os Pista deslocaram-se ao Porto para a apresentação do seu disco novo, Ocreza.

O Maus Hábitos foi a casa escolhida para a estreia portuense. Com este propósito musical, o espaço disponibilizou a sua pista, na passada quinta-feira, a qual foi pisada, infelizmente, por somente alguns “humanos-pingados”. Pena não terem aparecido mais pessoas para aproveitar a oportunidade de dançar a um ritmo “tal tropical” e adocicado por riffs que facilmente ficam registados na memória.

Os três setubalenses do Barreiro, que já contam vários anos de trabalho conjunto – Ernesto Vital, como guitarrista; Cláudio Fernandes, como vocalista-guitarrista, e Bruno Afonso, como baterista – e o seu recentemente adquirido baixista Vasco (“o caloiro”, segundo o próprio), deram um concerto onde três referências gerais bastam para ser possível imaginar a atmosfera do concerto.

Primeiro, houve aquele vazio constrangedor nas linhas da frente, que resulta de um receio comum de uma potencial mordidela do palco. Nem mesmo o incentivo de Cláudio – “Pessoal, cheguem-se à frente” – foi suficiente para converter a situação, e apenas se refletiu nuns tímidos e síncronos passos em frente.

Segundo, o ambiente era familiar e confortável, pelo que os silêncios entre músicas eram preenchidos ora por provocações de amigos, ora por comentários criados e lançados na hora por Cláudio Fernandes. Comentários estes que consolidavam a boa-disposição ou, por vezes, provocavam uma anuição em comunhão.

Terceiro, e por fim, os quatro membros transmitiam estar verdadeiramente a viver o concerto. Os saltos dançantes – por eles assumidos como “toques de anca” – traduzem o quanto eles vibram em palco, enquanto cúmplices do seu próprio som.

Com o objetivo de apresentar o novo álbum, lançado no mês passado, Ocreza, os Pista apostaram no seu lado mais tropical, selvagem e, maioritariamente, instrumental. “Galapinhos”, além de ser a designação de uma praia setubalense, foi também a primeira faixa a ser lançada deste álbum. De uma alegria contagiante, esta é uma música ao som da qual é difícil ficar imóvel.

Todavia, também as restantes não fogem à sonoridade animada, nomeadamente “Rei da Montanha”, que é, segundo Vital “uma cena que vai escalando”, ou “Na Branca Neblina Parte o Cavalo Desalmado”.

“Somos o que Resta da Noite” também segue o mesmo registo, embora, assim como “Campipraia”, apresente a diferença de juntar voz – ao que a banda se refere como “mais um instrumento não-lírico ali no meio”. Aplicando a letra de “Somos o que Resta da Noite”: “já que o dia foi em vão”, oiçamos este novo álbum dos Pista, porque o nível de serotonina tem melhoria garantida.

A complementar as novas faixas, a banda foi intercalando com músicas do primeiro álbum lançado, Bamboleio (2015), gravado no estúdio de Luís Nunes (aka Benjamim) localizado no pacífico Alentejo.

Os Pista gostam de ingerir salmão, de se expressar musicalmente sobre a “consciência alimentar e os oceanos”, bem como de fazer jogos de palavras. “Sal Mão” é uma faixa que bem espelha estas características. No entanto, a “poesia, meus senhores”, destes quatro que escalam montanhas, não se fica por aqui – escondida por entre as não-palavras, surge quando menos se espera. Para todos os receosos de despiste na estrada da vida: sigam as voltas dos Pista.

Artigo da autoria de Nina Muschketat