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PISTA: “DAMOS SENTIDO A COISAS ALEATÓRIAS QUE NOS ACONTECEM”

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Antigos compinchas da bina, agora compinchas da música. Os Pista lançaram o seu novo álbum, Ocreza, no mês passado e, na apresentação do disco no Maus Hábitos, concederam-nos uma fatia da sua noite para uma conversa bem-disposta.

Se em 2001 eram um duo que se juntava aos sábados para tocar guitarra e bateria, agora são quatro (por vezes mais) que fazem música, dando “sentido a coisas aleatórias que lhes acontecem”. O mais recente, e segundo, disco é tropical e veranil: perfeito para prolongarmos o sentimento de praia outono adentro.

Os quatro antigos “aficionados pela bicicleta” partilharam connosco um pouco das suas idiossincrasias: eles gostam de “tocar, tocar, tocar” às voltas numa pista muito especial.

 

Poderiam apresentar-se, por favor?

Ernesto: Olá, eu sou o Ernesto Vital. O guitarrista e o vocalista da banda Pista.

Cláudio: Olá, eu sou o Cláudio Fernandes. Guitarrista e vocalista.

Bruno: Olá, eu sou o Bruno. Sou o baterista.

Cláudio: És vocalista também…

Vasco: Eu sou o Vasco, e sou o caloiro.

Cláudio: É o baixista, a nossa mais recente aquisição.

Já agora, posso iniciar por aí. Porquê um quarto membro?

Cláudio: Baixo. No primeiro disco e durante muito tempo não tínhamos baixista. Não aconteceu, simplesmente não conhecemos “essa pessoa”. Isto é como uma relação amorosa ou amizade. Inicialmente, éramos só eu e o Bruno. E quando o Ernesto entrou para a banda, no verão de 2014, até pensámos “Olha, ele pode tocar baixo”, mas depois pensámos “Não pá, ele toca guitarra”: ficaríamos com duas guitarras e bateria. Fixe.

Não sentiram falta do baixo mais cedo?

Cláudio: Nós tínhamos um bocado a mania do baixo enquanto coisa imaginária. Porque se tu ouvires os temas sem baixo, dá para imaginar o baixo. Ele está lá. Mas com este disco [Ocreza], ao gravar com o Miguel Vilhena, de Savanna, queríamos que tivesse baixo para soar mais cheio.

Como é que encontraram o Vasco?

Vasco: Fomo-nos encontrando na vida.

Cláudio: Primeiro, pela editora. Depois, no Band Scouting do Mexefest e, por fim, na edição do Bamboleio. E ao fim de um ano, mais ou menos, cá estamos. Aconteceu.

Qual é o background dos Pista? Quando é que tudo começou?

Cláudio: Nós os dois [Bruno e Cláudio] já tocamos juntos desde 2001. Entretanto, o Bruno foi viver para Londres durante 3 anos. Depois, eu também fui 5 ou 6 meses para Londres. Aí, juntávamo-nos aos sábados e íamos tocar os dois: guitarra e bateria. Nessa altura fizemos um ou dois temas, que, ainda não sabíamos nós, fazem parte do primeiro EP de Pista. Entretanto, voltámos para o Barreiro e para aí em 2013 decidimos começar alguma coisa, apenas com guitarra e bateria. Resolvemos dar um nome a isto, meter as coisas às costas e tocar, tocar, tocar.

Como ocorreu a decisão de serem uma banda, maioritariamente, instrumental?

Cláudio: Porque é música para a pista. Para a bicicleta, na altura. Éramos todos aficionados pelas bicicletas. Vem daí o nome. Houve uma altura em que tínhamos voz, mas mais como instrumento não lírico. “Oh ohs” e “ah ahs” e “puxa” e “salmão”. A voz é outro instrumento ali no meio.

Bruno: Uma coisa mesmo básica.

Cláudio: Sempre achei que precisávamos de um vocalista a sério.

E ainda estão à procura?

Vasco: É outro namorico, mas é menos assumido. Com o Alex…

Cláudio: Mas é diferente.

Vocês gravaram o primeiro disco no estúdio do Benjamim. Esta é apenas uma de muitas interligações entre músicos. É assim tão fácil comunicar no vosso meio de artistas ou o mundo é que é pequeno?

Cláudio: Sim, gravámos o disco em fevereiro de 2015 com o Luís Nunes (que na altura ainda não era Benjamim). Nove meses depois editámos o vinil. Antes disso, lançámos um single, o “Puxa” e fomos ao Band Scouting do Vodafone Mexefest.

Bruno: Fomos à final.

Ernesto: E fomos roubados. Estou a brincar. [risos]

Vasco: Isto é um meio pequeno, sim.

Cláudio: O Tiago Sousa, o pianista, criou uma netlabel em 2004, a Merzbau, e daí vêm muitos nomes: o Walter Benjamim, o B Fachada, o Noiserv, o Ricardo Martins com Lobster (a ele já o conheço do secundário…).

Vasco: Criou-se ali uma turminha e uma cena. Primeiro vêm as ideias, estas originam projetos, e depois tornam-se em algo concreto. Somos todos bros, no fundo.

Bruno: Tem que ser, somos um bando de gatos pingados aqui.

Cláudio: Por vezes, as pessoas que estão mais fora do meio dizem coisas como: “O quê, mas tu conheces o Benjamim?” E eu fico.. “ya, sei lá”.

Ernesto: São pessoas.

Qual foi o vosso melhor concerto até agora? Ou onde é que vocês se sentiram mais confortáveis?

Bruno: Epá, aquela pergunta muita difícil.

Cláudio: Eu vou ignorar certas coisas, mas acho que estes dois últimos concertos foram os mais fixes. Não é para te dar graxa, Vasco, não olhes para mim com esses olhos. A energia foi boa.

Bruno: Epá, eu acho que o concerto de apresentação do Bamboleio em Lisboa foi um grande concerto. Não sei se foi o melhor. Mas foi uma festa bonita.

De onde é que vocês retiram a energia para os vossos concertos? Do público?

Ernesto: O que nós gostamos de fazer e a forma como o fazemos não depende de quem está ou de quantas pessoas estão a ver. Se há pessoas a ver, então é positivo. As pessoas que estão, estão a curtir. Está-se bem. Somos sempre nós.

Tentam sempre ser fiéis a vocês próprios?

Vasco: Somos uma banda de baile profissional.

Cláudio: Sim, e tentamos ter um estilo de vida saudável: dormir bem, ter uma alimentação regrada. Não, estou a brincar. É estranho, a tua atividade cerebral muda quando tocas. Tu até podes estar muito cansado e, de repente, vais buscar energia.

Relativamente a hoje, o que correu menos bem?

Cláudio: O que me estava a custar mais era o silêncio entre as músicas. Acho sempre constrangedor, mas pronto.

Mas pareciam estar a lidar bem com os silêncios. As interações com o público pareciam sempre naturais.

Cláudio: Epá, às vezes passam-me coisas na cabeça. Antes da música “Sal Mão”, lembrei-me da consciência alimentar e dos oceanos: pensemos sobre as quotas e a quantidade de peixe que comemos. Não sei, é uma coisa parva, que não é assim tão parva.

Bruno: As causas. Vão-se sempre apoiando as causas.

Cláudio: Somos pessoas, não é? E cada um de nós tem causas diferentes, mas acabamos por andar todos mais ou menos no mesmo.

Como é que escolhem os títulos das músicas?

Cláudio: A “Galapinhos”, por exemplo, é uma música muito… praia. Na altura quando a criámos, praia era uma espécie de código. Depois optámos por “Galapinhos”, por ser uma praia de Setúbal que nós gostamos imenso.

Bruno: A gente tocava o disco e depois tínhamos lá metidas uma ou duas malhas novas. Então era: nova 1, nova 2, praia, nova 3. Não tínhamos os nomes dados.

Cláudio: “A tal tropical”… na altura era “aquela malha tropical.” E depois evoluiu para “A tal tropical”. Não estou a tirar o valor ao conteúdo dos títulos, mas não são coisas para serem levadas demasiado a sério.

Bruno: “Sal mão” é uma canção de festa, sal na mão, ou salário.

Cláudio: Porque é que chamámos “Sal mão”? Eu acho que nessa altura andava a curtir bué de salmão.

Bruno: É verdade, é. Ele comia bué salmão na altura. E usava sempre roupa cor de salmão.

Cláudio: No fundo, nós simplesmente nos limitamos a dar sentido a coisas aleatórias que nos acontecem. A capa do disco foi um desenho aleatório feito lá na box. À tarde, estava à espera de uns amigos.

Bruno: Às vezes acontecem coisas sobre as quais nos faz sentido fazer uma música. Em Pista não acontece “ah, vamos fazer uma música sobre isso”. Talvez na primeira fase tenha acontecido, quando ouvíamos música e andávamos de bina. Tínhamos aquela malha que era a pista. Mas de resto, nunca houve esse planeamento inicial.

Cláudio: Para mim, as músicas acabam por ser muito gráficas.

Uma última pergunta: o que é que vocês fazem ao domingo às sete da tarde?

Cláudio: O Ernesto provavelmente vai tratar do cabelo.

Ernesto: Eu vou arranjar o cabelo.

Vasco: Eu vou estar a pensar na pizza.

Bruno: E provavelmente vamos estar de ressaca por causa do Out Fest.

Cláudio: E a ver as sondagens. Ou então vou estar a dormir, porque o Out Fest bateu e há-de ser meio-dia e ainda vou estar acordado.

Artigo da autoria de Nina Muschketat 

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