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WORST OF DO WORST OF

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Não é preciso folha de sala, porque o título fala por si. Até fala demais.

Em palco reúnem-se caras e nomes enaltecidos das mais diferentes gerações de bons atores: Márcia Breia, São José Correia, Rogério Samora e Vítor Silva Costa são apenas alguns que, por norma, nos arrepiam. Um verdadeiro “best of” de intérpretes para evidenciar o pior – supostamente.

O Teatro Praga prometeu tocar na ferida, mas acabou por ser aqueles pensos que arrancamos muito devagar e ainda doem mais. “Worst Of” propunha-se a relembrar o atraso crónico do teatro português, ao trazer para palco excertos de dez textos que marcam a história desta arte – para, de seguida, apontar o dedo à “merda” que tudo aquilo é – palavras deles.

Com ou sem intenção, acabou apenas por hiperbolizar o que já foi o melhor do teatro, e provar quão estranhos são os critérios da programação em Portugal.

Em cena, viaja-se no tempo. Vai-se de Gil Vicente a Almeida Garrett, passa-se por Júlio Dantas e não se esquece Alfredo Cortês nem Bernardo Santareno. Quando o palco que está em palco desce o pano – e regressamos aos lamentáveis dias de hoje – os contemporâneos riem-se e enumeram tudo o que há de pior naquelas teatrices: o pior é a roupa, o pior é o exagero, o pior é o amor, o pior é que dá sono, o pior é que se paga. O melhor, que também é marcado como sendo o pior, “é que não me deixam esquecer”.

E ainda bem que não deixam. É verdadeiramente satisfatório compreender que vivemos numa era teatral tão arrojada e disponível para dar vida a toda e qualquer vontade artística. Seja uma ideia nova ou antiga. Os tempos frenéticos e mutáveis em que vivemos são propiciatórios a um desencanto pelo que é clássico. (O que é um processo normal: dada a realidade distante, as pessoas já não se identificam e, portanto, desinteressam-se.)

Mas não há nada de errado na história e evolução do nosso teatro. Não há nada de errado em recorrer aos textos antigos e cheios de pó, desde que faça sentido. Da mesma forma que qualquer decisão textual original tem de estar justificada e contextualizada.

O best of de “Worst of” é relembrar-nos de onde viemos e impedir-nos de esquecer que o teatro continua igual a sempre: pessoas a fazer de outras pessoas, tão simples quanto isso. Mas o pior, agora sim, é ser uma crítica de tal forma rebuscada, ao passado e ao presente, que se perde o fio à ironia.

Do lado mundano, de quem ficou sentado nas cadeiras do Grande Auditório do Rivoli, houve de tudo. Gargalhadas efusivas contantes e aplausos de pé, em equilibro com olhares confusos e desistências no intervalo. “Nem todo o teatro tem de ser bom” – era exatamente isso que queriam provar – mas também nem todo o teatro consegue uma ambiguidade semelhante.

“Worst Of” assume que não é uma celebração. E tampouco é uma comédia. Nós sabemos que temos aquela ferida aberta no joelho, feita por cima de uma cicatriz já antiga. E este era o momento dramático em que a nossa mãe nos arrancava o curativo num ápice, para nem dar tempo de se sentir a dor. Tinha tudo para ser um minuto do qual nos viríamos a rir daqui a nada, mas afinal o raio do joelho ainda está todo infetado.

Artigo da autoria de Inês Sincero

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