Cultura

MARK LANEGAN: MUITA MÚSICA E POUCAS PALAVRAS

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Não foram a chuva nem o nevoeiro que travaram os portuenses rumo à sala 1 do Hard Club. Batiam as dez da noite quando Mark Lanegan subiu ao palco e deu de caras com um espaço que, embora não totalmente cheio, se encontrava bem composto.

Lanegan veio igual a si mesmo: o cabelo comprido de sempre, vestido de preto dos pés à cabeça e com os óculos a que nos habitua há anos. Com ele, uma banda de cinco elementos com duas guitarras, dois teclados, uma guitarra-baixo e, é claro, a bateria.

O pontapé de saída deu-se com “Desbelief Suspension” a fazer bater o pé e a ditar a presença do novo álbum. Numa onda que vai buscar pormenores a New Order, bem mais dançável do que o típico grunge de Lanegan, tudo parece afinado e bem ensaiado. “Letter Never Sent” seguiu o compasso mas foi com o regresso a 2017, com “Nocturne”, que a reação do público foi maior.

Como também sempre nos habituou, Lanegan não é um homem de muitas palavras. Os espaços entre músicas são curtos e a interação com o público é pouca e feita com algum esforço, pormenor que incomoda mas que se consegue perdoar. De facto, a qualidade dos músicos e a segurança na voz rouca do americano são notáveis, tanto quanto a qualidade do som a que a Sala 1 teve direito.

Um dos pontos altos a surgir ainda no início do concerto foi “Sister”, tanto soturno quanto confiante, como se o nevoeiro que estava lá fora invadisse o espaço. No entanto, no final da música, um momento de protagonismo da guitarra, que toca solitária, desmascara um público conversador e barulhento.

“Stich It Up”, single do novo álbum, levanta os ânimos, num ritmo mais contagiante e acelerado que combina em perfeição com “Night Flight To Kabul”, também do mais recente trabalho. Depois de uma passagem por algumas músicas de Blues Funeral, de 2012, surge “Deepest Shade”- o momento em que Lanegan e a teclista cantam juntos esta música dos The Twilight Singers, como se de uma balada se tratasse.

“Ode To Sad Disco” foi uma boa prova da harmonia entre a banda em palco. Ao longo da música, a guitarra responde à voz de Lanegan, como um diálogo. Entre músicas, Lanegan tira os óculos, limpa a cara e bebe um golo de Red Bull. “One Hundred Days” foi, provavelmente, o momento de maior entusiasmo do público, que gostou de ouvir tocar este clássico de Bubblegum, álbum de 2004.

Em “Dark Disco Jag” notam-se as referências a Manchester dos anos 80 tão características deste novo álbum, com o baterista a dedicar-se aos drumpads. Em “Harvest Home”, Lanegan puxa de uma cartada curiosa que, estranhamente, funciona e junta “Gimme! Gimme! Gimme!” dos ABBA a esta sua música de 2014.

A última música teria sido “Death Trip To Tulsa”, não tivesse o público pedido por mais. Após Lanegan sair de cena sem aviso, os aplausos que se estenderam trouxeram a banda de novo a palco para tocar “Come To Me” e “The Killing Season”. Lanegan apresenta a banda, agradece e sai sozinho, deixando aos músicos a tarefa de terminar o concerto.

Num concerto que passou por 22 músicas e que se prolongou por quase duas horas, não foram muitos os altos e baixos. O nível confiante e profissional da Mark Lanegan Band, que não pode ser esquecido, resultou num concerto eficiente mas “morninho”.  Mark Lanegan estará em tour pela Europa nos próximos meses, viagem esta que só tem fim marcado para 18 de dezembro em Belfast.

Artigo da autoria de Inês Pinto da Costa

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