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Cultura

DO SAMBA A GUNS N ROSES: UMA CONVERSA MUSICADA COM LUCA ARGEL

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“Acho que é seu, caiu no chão, vi pela foto; não tem de quê, pode passar, que eu não me importo”. Podem bem ser as falas de uma conversa de café, mas é mesmo “Conversa de Fila”, tema homónimo do último álbum de Luca Argel, que se ouve nas colunas do vegan bar Apuro.

A música serve como uma campainha de escola que alerta Luca a fazer companhia a João Afonso, atrás da estação de gravação improvisada, para começar uma hora de aula musical com temas que vão do samba brasileiro ao carnaval de Estarreja e de Star Wars a Guns n’ Roses.

Apesar de ser a gravação de um podcast, “não estamos a falar só um com o outro”, como salienta João Afonso ao JUP. O fundador do Gig Club, que já trouxe nomes ao Porto como Kamasi Washington e The Comet is Coming, é o apresentador e entrevistador do Songtalks, um podcast de “conversas com artistas talentosos usando a sua música tanto como ponto de partida, bem como banda sonora da discussão”.

A ideia de gravar o podcast – normalmente reservado a estúdios de gravação – num ambiente descontraído como um café cria um ambiente mais “orgânico e dinâmico” que confere um verdadeiro ambiente informal ao artista entrevistado. O que resulta em satisfação tanto dele como de quem está sentado à mesa ou ao balcão do bar. “Assim há uma gargalhada que sai, há uma boca que aparece”, e até uma pergunta, já que João Afonso abre a conversa ao público, no final.

Da história de como Luca Argel saiu do Brasil para estudar em Aveiro e acabou no Porto foram saindo novos temas, como a situação política do Brasil, que Luca caracteriza como um problema histórico de “mudar para continuar igual” que data até à independência do país. Os cortes na Cultura do governo de Bolsonaro também não ficaram de fora da conversa.

Luca Argel. Fotografia: Gig Club

Luca Argel. Fotografia: Gig Club

A compassar as histórias, ouvimos temas de Luca – excertos gravados, apesar de haver uma guitarra à mão. Ouvimos “Catherine”, do primeiro longa-duração do músico, Tipos Que Tendem Para o Silêncio, estranho ao samba que tanto o define ao terceiro álbum. Estranhas ao samba são também as palavras que ouvimos da adaptação de Fernando Pessoa feita por Luca Argel e por Ana Deus, que se concretizou no projecto Ruído Vário. Ainda há “Peito Banguela”, o último lançamento com o nome de Luca – que tem Keso na mistura. O brasileiro conta que trabalhou numa melodia para juntar ao poema de Aldir Blanc – o seu “letrista favorito de sempre” – que enviou ao rapper, mas que o produto final só lhe ouviu a voz.

De terrenos mais desconhecidos ao samba, a conversa aterra no mais português samba possível: o carnaval de Estarreja, para quem Luca, com música da Orquestra Bamba Social, escreveu o hino, chamado “Sorria”. O músico admite que o mais difícil foi mesmo “rimar com Estarreja”.

Houve ainda tempo para falar do género musical por excelência no Brasil, “o samba que já tem mais de 100 anos” e que continua a dançar pelas ruas com energia juvenil, e até para perceber como a saga de ficção científica Star Wars serve de inspiração aos temas de Luca. Quem completa a lista dos temas inesperados da noite é uma participação do público, que pergunta ao músico qual a sua música preferida da década de 80, e ele se precipita a mencionar Guns n’ Roses.

“Quando ouvimos a música deles, fazemos a nossa própria interpretação. Conhecer o artista permite conhecer o que está por trás do trabalho, perceber como chegaram à criação daquilo”, resume João Afonso de uma conversa de uma hora – que, sendo apenas uma amostra do universo criativo de Luca Argel, nos deixa com uma boa ideia do que leva a mente à caneta e a caneta ao papel.

A noite acaba com o “melhor disco português de 2019” atirado por Luca: “O Navio Dela”, do retornado aos discos Manel Cruz, ressoa pelas colunas.

O podcast com Luca Argel fica disponível na página do Gig Club antes da sétima edição do Songtalks, que volta a ter lugar no Apuro, na próxima terça-feira, pondo à conversa com João Afonso a artista Mila Dores.

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