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LUÍS REPRESAS: O MESMO CORTE DE CABELO A ESPALHAR CHARME

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O passado fim-de-semana marcou duas datas importantes para Luís Represas. Uma delas foi passada na companhia dos portuenses, na sala Suggia, na Casa da Música, e a outra celebrou-a num círculo mais fechado e familiar (compreensivamente, já que festejar a entrada nas 63 primaveras com praticamente 1000 pessoas ao rubro seria de cair para o lado). A primeira passou-a no palco – e não foi ocasião de menor relevância, dado que o músico veio celebrar os seus 43 anos de carreira: “Boa noite, Porto! Já tinha muitas saudades de estar aqui.”

Luís Represas, músico que integra, sem qualquer dúvida, a cultura musical portuguesa, mantém os ouvintes que começou a conquistar há quarenta anos e, desde então, mantêm-se fiéis às suas canções. Na noite de sábado, sentimo-nos a viajar no tempo para um dos seus remotos concertos, mas com os devidos quarenta anos em cima: havia um Luís Represas (ainda com muito boa voz) com o seu visual de anos oitenta e o mesmo move sedutor para afastar a franja dos olhos, e um público apenas da Geração X que não deixou espaços vazios na sala. Pelos vistos, o charme do cantor continua a encantar o mesmo público de antes.

O concerto foi “o espetáculo da ‘boa hora’, e é em boa hora que estou aqui de novo”, de acordo com o cantor. Por esta razão, contou com uma lista de temas muito vasta, incluindo músicas do novo disco Boa Hora (2018), tais como “Asas de Anjo” e “Na Curva do Horizonte”, mas também várias canções “que estão bem para lá no tempo, mas que ainda estão bem presentes para mim e acho que para muitos de vocês, pois fazem um bocadinho parte da nossa história”, segundo as palavras do músico. “Feiticeira”, “Da próxima vez” e, claro, “Perdidamente”, o poema cantado de Florbela Espanca, foram alguns dos temas tocados, cujo refrão (e não só) soa familiar até mesmo aos ouvidos de quem menos o espera.

O cantor português fez-se acompanhar de uma “banda larga”, sendo que até a apresentou duas vezes (“a segunda vai ser em condições”): Carlos Garcia nas teclas, Tiago Oliveira nas guitarras, Alexandre Alves na bateria, Cícero Lee no baixo, Sebastian Sheriff nas percussões e Daniel Salomé nos sopros. Não omitindo Alberto, o responsável pela troca de guitarras do vocalista.

Segundo Represas, a natureza fê-lo “falar muito alto e dizer as coisas do fundo do coração” – características que realmente foram demonstradas ao longo do concerto, sobretudo pelo seu à vontade em interagir com a plateia, pelos seus vários agradecimentos a “grandes e queridos amigos”, pelo seu sentido de humor aguçado (“é tão difícil como fazer um Orçamento do Estado com o Centeno”), bem como pelas suas múltiplas referências a outros cantores.

Além de dedicar a canção “Sagres” aos seus antigos companheiros dos Trovante, Luís Represas também fez questão de homenagear José Mário Branco (ainda que “seja pouco de homenagens, porque homenagens se fazem todos os dias”), tocando o “Canto dos Torna-Viagem”. Antes de fazer ouvir a canção do artista que mudou vontades, Represas relembrou o momento em que se apercebeu da sua morte: “naquele dia de manhã, acendi o rádio e uma música do José Mário Branco e pensei: “já foi”. E isto é muito mau quando acontece.”

Houve uma presença especial no concerto, a qual foi captada inicialmente por alguns olhos e mais tarde evidenciada pelo cantor: António Costa. Sim o primeiro ministro. “Hoje está aqui um amigo de há muitos anos (que é só e simplesmente um amigo meu) que fazia parte de um núcleo de amigos que se juntava num bar em Lisboa, em 1981. Sem telemóveis e tecnologias, ainda nos encontrávamos mesmo, falávamos uns com os outros e trocávamos ideias. E eu fico muito contente por ver aqui o meu amigo António Costa, que passou aqui pelo Porto e veio à Casa da Música assistir a este concerto.” Pobre Sr. Ministro, sentado a meio da sala, pois foi alvo de quinhentos virares de cabeças simultâneos – mas estava bem protegido pelos seus “guarda-costa”, que não lhe tiravam os olhos de cima.

Há que destacar o papel do público no concerto, cuja adesão correspondeu à premissa de Represas logo ao início do concerto: “uma coisa de que estou habituado é que um dos melhores coros do país é o coro do Porto.” Embora tenha sido um público cuja média das idades ultrapassava a ternura dos cinquenta, a forma como desfrutaram do concerto acabou por tornar o ambiente mais vivo do que uma plateia jovem. Ali, não havia nem acanhamentos nem pensamentos desnecessários – apenas boa-disposição e uma genuinidade que resultaram em cantares do fundo do coração, levantares enérgicos nos dois finais (o oficial e o depois da “só-mais-uma”), aplausos durante e após as músicas, e risos a bom rir das palavras de Luís Represas.

Contrariamente à nossa geração milénio de corpos hirtos em concertos, naquela noite de sábado viu-se um verdadeiro curtir de um serão de música de forma tão pura que quase nos sentíamos deslocados se não nos levantássemos e aplaudíssemos com igual entusiasmo.

Artigo da autoria de Nina Muschketat

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