Cultura

LIMBO: O TIC TAC É IGUAL PARA TODOS

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Empregada ao apêndice do clássico grego e do modo como se contavam as histórias, a encenadora e atriz de Limbo, Sara Carinhas, deixou os espectadores – que se movimentavam ansiosamente nas suas cadeiras – à procura da próxima história a ser contada na sala. A peça foi construída a partir das memórias que a artista trouxe de Grécia, um território que visitou no seu atual estado.

O tema principal do filme “A Infância de Ivan”, do realizador russo Andrei Tarkovski, foi ali evocado numa espécie de crítica ao avanço da idade, pela qual todos passam. E é desta forma que a música “People are Strange”, dos The Doors, parece ainda mais enquadrada na nossa playlist.

As perguntas surgem. Contudo, as respostas dissociam-se com o crescente estado de desolação dos atores. “E quando a casa não é um lugar seguro?” é a pergunta para a qual ninguém tem resposta, principalmente quando bombas estoiram e Pierre Ensergueix, irrequieto e em pânico, confronta a realidade que conhece.

É de referir que a música se destaca como um dos instrumentos que engrandece o espírito e conduz à momentânea leveza que a encenadora encontrou para colocar todos num limbo. No tema de Marisa Monte, que equipara a solidão a lava, a consciência acorda, numa era em que se fala em morte infantil global.

No fim, a sala parece mais escura do que na hora anterior. O coma auto-induzido não faz bem a ninguém. Limbo torna-se, assim, o mais recente manifesto contra a apatia.

Artigo da autoria de Raquel Batista

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