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RUI VELOSO: REI DE RUBI RAIOU NO PALÁCIO DE CRISTAL

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“Boa noite Porto, como é que é?” Assim abriu o cantor o seu “concerto de Natal”, que iniciou com um atraso propositado devido “à chuva e ao trânsito”. Mas, provavelmente, também pelas voltas inevitáveis que tiveram de ser dadas no pavilhão à procura da entrada correta. Havia secções a direcionar para ali, números de balcões a direcionar para acolá, e incompatibilidades que resultaram num passeio de descontração inicial em redor da arena.

Dono de uma voz grave e toante, que é inconfundível para muitos portugueses, Rui Veloso tocou, e tocou, e tocou – durante duas horas e meia. E foi com um comovido “ide embora, caralho” que incentivou o público enlevado a dispersar. Ainda assim, cantou uma última música para ser ouvida enquanto nos levantávamos e íamos saindo.

As melodias de Rui Veloso – um verdadeiro portuense, que enfatiza os palavrões e a letra “A” à moda do “tripeiro” – surtem sempre sentimentos reconfortantes. Como se todos nós empenhássemos o nosso anel de rubi e nos teletransportássemos para o concerto que havia no Rivoli. Clássicos de um doce romantismo mesclado com nostalgia (mesmo desconhecendo o poiso que a espoleta) e que, apesar de serem “temas muito antigos”, são todos de “uma atualidade… muito atual”.

Quase todas as canções foram introduzidas com uma referência ao tempo e ao passado – compreensivelmente, pois já lá vão mais de 40 anos de Rui Veloso no mundo da música. No entanto, a sua intemporalidade foi bem manifesta pela lotação do espaço e pela forma como o público recebeu os seus temas com o devido carinho, aplaudindo, assobiando e cantarolando em coro. Português que é português sabe gritar a boa voz a maioria das suas letras, nem que seja apenas a do “Cavaleiro Andante”, “Jura” ou a do “Anel de Rubi”. Tal qual as palavras do cantor: “somos tugas e acabou.”

O palco estava recheado e bastante híbrido. Cabelos compridos misturavam-se com coletes, e calças floridas com ovos musicais. Várias percussões, baixo, guitarras, bateria, teclado, coro e no centro – a cara protagonista. De salientar a prestação esporádica de António Serrano com a sua harmónica e precisão bocal espantosa – nem uma nota falhada em tão poucos e pequenos orifícios.

Após o animado “Chico Fininho”, o cantor simulou o término do concerto com um “boa noite, obrigado!” Bem jogado: momentos depois já entrava de novo com clássicos, tais como “Não há estrelas no céu”, “Anel de Rubi” e “Cavaleiro Andante”, com um público satisfeitíssimo e o próprio vocalista embalado – “que espetáculo!”

Para dar jus ao mote de publicitação do concerto, lá se ouviu “Presépio de Lata” – um tema natalício para estimular o espírito da época iminente. Mas não havia necessidade de uma abordagem direta, pois o sentimento predileto do Natal (para muitos, o amor, a comunhão e a felicidade) foi inerente à noite. Algumas imagens representativas são a de três casais amigos de cabeças apoiadas nos ombros do parceiro e a de grupos de amigos a dançar, iluminando a arena com as lanternas dos telemóveis: romântico, mas também verdadeiro e sincero – princípios aos quais o Natal alude acima de tudo.

No entanto, a acústica da recentemente inaugurada sala de espetáculos é impecável, tendo sido um bom anfitrião para a figura que, embora não seja “Adão e Eva no Palácio de Cristal”, segundo a sua letra de “Origem do Mal”, é largamente amado pelos muitos que cantam e “ouvem a mesma canção”.

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