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Cultura

A FESTA DEAMBULANTE DO RIVOLI

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Na passada quarta-feira, foi apresentada à comunicação social a programação para os próximos meses no Teatro Rivoli e no Teatro Campo Alegre. Desta forma, o Teatro Municipal do Porto compromete-se a dar continuidade e abrigo à cultura e à arte, através de artistas nacionais e internacionais e projetos das mais transversais áreas.

Numa conferência dinâmica e pouco convencional, Tiago Guedes fez-se acompanhar de Rui Moreira para introduzir a sessão e, de seguida, realçou os must de cada mês, de março a julho – notoriamente orgulhoso por ter nomes de tal dimensão nos dois pólos da sua casa.

Fotografia: José Caldeira TMP

Fotografia: José Caldeira TMP

Intercalando com surpresas, discursos e até performances, o Teatro Municipal do Porto enalteceu o acolhimento de festivais como o FITEI – Festival Internacional de Teatro e Expressão Ibérica, o DDD – Dias Da Dança e o Trengo; iniciativas como o P.E.D.R.A. e sublinhou o especial investimento nos espetáculos destinados também às camadas infantis e juvenis.

Os públicos do futuro são trabalhados desde sempre

A casa dá, constantemente, um largo abraço ao teatro, à dança, à música, ao circo contemporâneo, ao cinema, às leituras poéticas e a qualquer outro tipo de performance. Mas o diretor artístico verbaliza ainda a urgência de fazer, pensar e debater não apenas a arte mas as temáticas a si interligadas, através do programa Modos de Ocupar.

Fotografia: José Caldeira TMP

Fotografia: José Caldeira TMP

A segunda agenda da temporada lança nomes como Martin Zimmermann, numa ode ao trabalho de clown; Renata Carvalho, num manifesto de um corpo travesti, Raimund Hoghe, que prova que a dança não tem idade; entre outros tantos – certamente de aplaudir de pé.

Uma das grandes surpresas foi o casamento entre o Teatro Nacional São João e o Teatro Municipal do Porto – ou a penthhouse e a garagem. União de Facto propõe que as duas casas coproduzam dois espetáculos anualmente, uma nacional e outra internacional, proporcionando o contacto portuense com criadores dos grandes palcos europeus. O primeiro fruto desta parceria é Frank Castorf, a 12 e 13 de junho.

Fotografia: José Caldeira TMP

Fotografia: José Caldeira TMP

A apresentação terminou com o convite para o 88º aniversário do Teatro Rivoli, que abriu as portas nos dias 16, 18 e 19.

A programação agenda vários espetáculos de áreas distintas, destinados a todos os gostos e idades. A casa revela, assim, uma amostra transparente da sua heterogeneidade, versatilidade e vontade de ser uma rampa de lançamento e festeja não apenas o passado como, essencialmente, o presente.

Fotografia: José Caldeira TMP

Fotografia: José Caldeira TMP

Percurso – O Rivoli dá um cheirinho de tudo o que é 

O Jornal Universitário do Porto teve oportunidade de marcar presença no Percurso, uma experiência deambulante, composta por quatro espetáculos: Phonopticon, Marengo, Horto – uma forma que vem do toque Crisálida. 

Os espectadores eram divididos em quatro grupos e, tal qual um grupo turístico, seguiam atrás da assistente de sala que lhes tinha sido destinada. Todos iriam ver os quatro momentos, todos iriam percorrer o Rivoli e conhecer-lhe as passagens secretas e todos voltariam ao ponto de partida, no final. Mas cada grupo seguiu uma ordem diferente e, consequentemente, teve uma leitura e interpretação particular da viagem.

Percurso funde a qualidade e diversidade tanto valorizada na apresentação da programação. Tem teatro, dança, música e circo. É para todas as idades, lança artistas emergentes e dificilmente se fica indiferente quando a hora termina.

Phonopticon é uma uma experiência sonora intensa e transcendente. Durante 20 minutos, são exploradas novas formas de expressão nas áreas da composição, interpretação e espacialização eletroacústica. Por seu turno, o público, disposto concentricamente, mergulha inevitavelmente no que lhe chega aos ouvidos.

Os quatro artistas recorrem a novos instrumentos acústicos e eletrónicos como elemento fulcral em todo o processo de criação. Mas, os dois elementos fulcrais são o teto espelhado e as colunas dispostas por todo o espaço. O som: não sabemos o que é, o que quer dizer ou, sequer, de onde vem. Mas sabe bem, porque parece que fala por nós.

Fotografia: José Caldeira TMP

Fotografia: José Caldeira TMP

Marengo é uma peça cujo território é o corpo da artista.

Ana Isabel Castro move-se ao som do medo e do desejo e despe-se para nos deixar entrar dentro da sua cabeça. Vai-se desmontando, aos poucos, ao som de três vozes angelicais que nos deixam com sabor a summer wine bem debaixo da língua.

Sem nunca sorrir e quase sem pestejanar, a artista dança, equilibrada, na ténue linha entre o real e o imaginário, a verdade e a mentira, o branco e o preto.

Fotografia: José Caldeira TMP

Fotografia: José Caldeira TMP

Daniel Seabra especializou-se em acrobacia aérea pelo Chapitô e voou no subpalco do Rivoli com o seu espetáculo Crisálida.

O público recebe óculos 3D, para parecer que as luzes também dançam e senta-se a observar o artista, vendado. Dentro do seu casulo negro, a performance cresce sonora e visualmente e o nível de risco assegura-se. Crisálida questiona a sexualidade e a submissão e valoriza o indivíduo e as pequenas vitórias. Não é apenas uma demonstração de arte circense, mas o resultado de jogos de luz, som e experiências plásticas que conduziram a um momento enigmático e altamente sensitivo.

Fotografia: José Caldeira TMP

Fotografia: José Caldeira TMP

Sentados no Foyer do Grande Auditório do Rivoli (onde apenas estamos acostumados a aguardar) instalou-se o Horto – Uma forma que vem do toque

Guilherme Sousa e Pedro Azevedo personificam o cuidador de uma planta e a própria planta e colocam esse crescimento em paralelo com o cultivo das relações interpessoais. É preciso atenção, é preciso tempo, é preciso carinho. É preciso pensar no presente e no futuro.

Os dois artistas desenvolvem projetos e instalações no campo do teatro e da dança enalteceram, neste aniversário do Rivoli, aquilo que realmente importa: as pessoas.

Fotografia: José Caldeira TMP

Fotografia: José Caldeira TMP

A programação do aniversário teve ainda muitas surpresas e festejos e a agenda até março reserva também momentos capazes de cortar a respiração. Virgens Suicidas aterra no Campo Alegre dia 24 e 25 deste mês e Turismo estreia dia 31, no mesmo palco.