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Cultura

88º ANIVERSÁRIO DO RIVOLI: AS QUINTAS ENSINAM A CAIR

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No passado dia 16 de Janeiro, as portas do Grande Auditório do Teatro Rivoli abriram-se para mais uma sessão das Quintas de Leitura. Esta sessão especial, de carácter solidário, assinalou o início das comemorações dos 88 anos do Teatro Municipal da intrincada cidade do Porto, que se ama apenas por maturidade, como nos contava Valter Hugo Mãe.

A noite dedicada à leitura fez ecoar pela sala a voz segura de Teresa Coutinho, que lia uma ode à Cidade Invicta, escrita por VHM. Depois de uma apresentação eminente, o escritor partilhou com o público algumas peripécias da sua vida profissional, realçando sempre a importância da poesia nos ensinar e obrigar a cair, especialmente num ofício como o seu, tal como nos dizia o mote da noite. Embalado pela contradição de um tom simultaneamente humorístico e sério, falava das vidas que cruzaram, em algum momento, com a sua: a dos maridos que viam as usas mulheres trocarem-nos à noite pela leitura dos seus livros, a do pequeno miúdo que o ouvia encostado à janela.

O evento ficou também marcado pelas três intervenções musicais da dupla Lavoisier que, por acreditarem que “na natureza nada se perde, tudo se cria tudo se transforma”, dão voz e uma nova vida ao trabalho de alguns dos nossos mais ilustres poetas. Do seu mais recente álbum, Viagem a um Reino Maravilhoso, onde a voz de Patrícia Relvas, acompanhada pelas cordas da guitarra de Roberto Afonso, mergulha no universo telúrico de Miguel Torga, trouxeram até nós a adaptação de dois dos seus poemas. Também as composições da figura da inquietação e resistência – José Mário Branco – não foram esquecidas, com a sua própria versão do tema “Eu não me entendo”.

Chegara a vez dos holofotes se virarem para Ana Celeste Ferreira, que ora cantava, ora declamava pedacinhos dos mundos de Manuel António Pina, Adília Lopes, Pedro Mexia. Já mundos surrealistas como o de Alexandre O’Neill, ou antifascistas como o de Alberto Pimenta ficaram ao encargue da voz de Isaque Ferreira.

Durante toda a noite, não deixaram que a “pequena luz bruxuleante” de Jorge de Sena parasse de brilhar, nem permitiram que a palavra mais dita não fosse “amor”, para o agrado de António Gedeão. Fez-se chegar até ao público os recados de Al Berto, os para sempres de Ana Luísa Amaral, os devaneios literários de Miguel Martins e a misantropia de Herberto Hélder. Tudo isto graças às declamações dos atores Paulo Campos dos Reis e Pedro Lamares.

Para terminar o serão, ficamos com a voz e guitarra de Samuel Úria a darem vida a temas como “Fel”, “Lenço Enxuto” e “É preciso que eu diminua”. Dá-se finalmente o cair do pano. Pode ser quinta-feira todos os dias?