Cultura

OS FILHOS DO COLONIALISMO: A VOZ QUE ANDOU CALADA

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O colonialismo deixou carregadas marcas nas gerações adjacentes. E foi isso que o criador André Amálio apresentou no Teatro Campo Alegre, nos dias 21 e 22. O nome da peça sustém o que mais tarde se viria a entender ser o processo documental pela qual a criação passou.

Através da música, do vídeo e de auscultadores, seis dos filhos do fim do aprimoramento territorial português nos anos 74 e 75 trouxeram as suas heranças e lembranças próprias a palco. Não apenas as suas, mas também a dos seus familiares, e abriram-se sobre o que aconteceu no período de tensão, em alguns países do continente africano.

Recordam que não havia pais que cuidassem delas, por isso, eram as crianças mais velhas que ensinavam as mais novas os aspetos do mundo que já conheciam. Recordam que a nacionalidade portuguesa foi difícil de conseguir e que a chegada a Portugal acabou por se tornar mais demorada do que era expectável. Recordam muito.

Recordam mesmo muito. E não esquecem os agradecimentos ao chefe do estado português, as apropriações comportamentais de um cidadão branco português e até as misturas de sabores para aproveitar o vinho que nunca abundou tanto como a coca-cola.

Passaram de cidadãos a grupos marginalizados, a indígenas, a estrangeiros que não pertenceriam à sociedade civil portuguesa. Tinham cadernetas que os identificavam como estranhos, nas quais a fotografia identificativa não era mais do que um bebé com cauda de macaco.

As marcas de falta de compreensão do mundo persistem e são notórias nestas gerações e nestes seis representantes que decidiram contar a história, a sua história – cujo destino fez ser quem são.

Para estes e para todos aqueles que eles representam, no meio de tudo – entre as memórias e o futuro, as histórias e as angústias – o silêncio foi sempre um gigante elefante na sala. Pelo menos, até esta peça ser feita.

Artigo da autoria de Raquel Batista 

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