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100 ANOS TEATRO NACIONAL S. JOÃO: NUNO CARDOSO EXPLICA A ARTE DO MEIO

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O diretor artístico do Teatro Nacional S. João subiu ao palco (despido de qualquer cenário) do Teatro Carlos Alberto e desbobinou e ilustrou toda a história do teatro. Embora sublinhe que “o teatro não tem história, porque o teatro é a história.”

O espaço preparava-se para receber as apresentações dos Clubes de Teatro Sub-18 e Sub-88, à tarde, mas antes disso houve tempo para recordar e percorrer a formação do universo e os milhares de peças, autores, correntes e ideias que cicatrizaram a arte de “dar à língua”.

O teatro sempre existiu. Começou a existir muito antes de haver aldeias ou cidades, muito antes de haver sextas, sábados e domingos, muito antes de haver dinheiro, e muito muito antes de haver autocarros. O teatro começou a existir quando os contadores de histórias começaram a existir.

E mesmo que todos os teatros de hoje fechem ou caiam ou evaporem, o teatro continuará a existir enquanto houver um único pai a contar, antes de dormir, uma história ao filho.

Acompanhado por António Afonso Parra e Carolina Amaral, Nuno Cardoso recuou à Grécia – “a China das ideias”. Partiu em Ésquilo, resumiu a “Antígona” e “Otelo” como quem estala os dedos, recordou Molière, atravessou a época do romantismo, não se esqueceu nem de Tchekhov, e chegou ao metadrama e à “confusão” de teatro que se faz hoje.

O ator e encenador fez com a história do teatro aquilo que se faz no teatro: “contração e potenciação da vida”. Num qualquer espetáculo de duas horas podem viver-se anos ou décadas e projetam-se ideias, realidades e personagens. Também Nuno Cardoso, a dupla de atores e alguns voluntários do público conseguiram, em tempo escasso, contrair milhares de anos e fazer de uma simples conversa um autêntico teatro.

Porque o teatro “seja ele Nacional, Municipal ou independente”, é tudo. O teatro é existir.

“Qualquer pessoa que saiba falar e escutar, caminhar e sentar pode ser ator.”

Numa masterclass (que voou, por ser uma conversa), quebrou-se o mito do artista e ator que é, mandatoriamente, anti-sistema e usa roupa estranha. O artista que é ator é uma pessoa normal. Só que, ao contrário do artista de outra arte qualquer, não afunda a sua arte em si e no seu indivíduo, mas dedica a sua vida a ser outra pessoa. Pessoa essa que pode ser tudo. Pode fazer tudo. Pode cantar, pode dançar, pode tocar, pode saber pintar e fazer o pino. Ou não, mas vai sempre tentar. Por isso é que o teatro é a “arte do meio”.

“Nós não somos muito bons em nada. Mas ninguém é tão bom a tudo como nós.”

A grande dificuldade com que a sociedade do teatro se deparou, ao longo da alucinante história do teatro, foi arranjar forma de criticar sem criticar. Nuno Cardoso explica que, a determinada altura, o teatro deixou de ser apenas contar histórias aos filhos e passou a ser um ganha-pão, uma atividade comercial. Mas nem o dinheiro aniquila a vontade de refletir e apontar o dedo à época em que se vive.

Nessa fase, “o teatro tornou-se o protetor solar.” Num mundo em que a liberdade é o sol, o palco passou a ser visto como o espaço para se ser livre e inventar uma realidade, com a verdadeira realidade. O diretor artístico do teatro, que celebra o centenário, fechou a sessão com o pedido que olhemos para a realidade. Olhemos mesmo – porque “o Instagram é o coronavírus do teatro.”

Dito isto, (e sem aplausos finais, porque dá azar e o teatro é maniento), Nuno Cardoso partiu rumo a Aveiro, para o espetáculo Castro. E resta esperar para ver o que a História nos reserva e para aplaudir o enorme passado que o Teatro tem pela frente.

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