Cultura
100 ANOS TEATRO NACIONAL S. JOÃO: A CERIMÓNIA SEM CERIMÓNIA
Ainda que estejamos todos em vésperas de contaminação devido ao Covid-19 ou “aquilo que pensam que é” – segundo o “engripado” Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, a cerimónia oficial do centenário decorreu no Salão Nobre do Teatro Nacional S. João, e contou com um público vasto.
Os poucos assentos disponíveis foram ocupados por quem, preliminarmente, foi evocado nas saudações iniciais: Sr.ª Ministra da Cultura, Sr. Presidente da Câmara Municipal do Porto, mais autarcas, senhores deputados e senhoras deputadas da AR, senhores e senhoras diplomatas, entre outros.
Pedro Sobrado, o Presidente do Conselho de Administração do TNSJ, foi o primeiro a erguer-se, com um discurso resoluto, adornado com frases marcantes. Pedro Sobrado relembrou o passado do Teatro. Focou, sobretudo, a atenção na operação de reabilitação planeada para o mesmo, bem como lançou reptos e preconizou futuros para aquele que “permanece um teatro inacabado, um teatro em construção, um teatro que está em devir”.
“Não deixa de ser simbólico, o teatro ter sido levantado duas vezes numa praça chamada Batalha.”
Instalado, primordialmente, em 1798, o edifício foi demolido num incêndio, em 1908 e, após reconstrução alicerçada nas ruínas resultantes, foi reinaugurado em 1920. Hoje, 100 anos depois, “celebramos um monumento vistoso, romântico, gongórico, mas os veludos e as 14 mil folhas de ouro aplicadas na ornamentação interior do Teatro não chegam para iludir a ideia de que este São João é, na verdade, um estaleiro”. Um estaleiro onde “pessoas, meios e equipamentos – e uma companhia quase residente – estão ao serviço de uma obra pública que não cessa”. O que possibilita a criação e a divulgação artística, tanto a nível nacional como internacional, ambicionando-se um reforço desta propagação.
A Operação de Reabilitação, apoiada pelo programa Norte 2020 e com o investimento da La Caixa e do BPI, pretende ser, simultaneamente, uma recuperação da memória e um rejuvenescimento, através de melhorias nas suas estruturas interiores – sobretudo no palco, na parte técnica (luz e som) e no âmbito da climatização.
“Para que haja teatro, é preciso que hajam teatros.”
Esta era a frase estampada nos sacos de pano, oferecidos à entrada. Mas o que se passa dentro dos teatros acaba por ser o que define a sua existência. Com o TNSJ não há que ter receios: a programação é sempre variada e com vista a alimentar espíritos. “Castro” já está em palco e muitas outras peças virão – tais como “The Scarlet Letter”, “Elenit” e “KastroKriola”.
Rui Moreira pode, assim, continuar a emocionar-se no espaço que nos leva para outros tempos e lugares – já que “é nos momentos em que começa um teatro que eu mais me entusiasmo”. Entusiasmo inicial e satisfação final: “saio com a sensação de que nós somos uma cidade feliz por termos este teatro.”
Segundo Elisa Ferreira, comissária europeia, este é um “espaço multifacetado onde se apresentam obras desde os clássicos aos contemporâneos”, e que cruza várias formas de expressão artística, surgindo como uma “estrutura de qualidade” essencial à estimulação da reflexão e realização cultural, uma vez que “ as infraestruturas, o saneamento básico, as redes rodoviárias são condições necessárias ao desenvolvimento, mas não são suficientes”.
A comissária europeia orgulha-se, sobretudo, de que “o investimento da União Europeia vá para lá da estrutura física, com o apoio em projetos educativos, na formação de novos artistas, na abertura de residências criativas, etc.”
Também a Ministra da Cultura, Graça Fonseca, enalteceu a forma como o TNSJ “tem envolvido as pessoas nesta arte que é estar em palco”.
“Esta é uma data de festa, em que celebramos este património artístico, histórico e arquitetónico da cidade do Porto e de toda a cultura portuguesa.”
Congratulando toda a equipa e todo o trabalho que tem sido feito no São João, Graça Fonseca sublinhou a importância da perduração deste espaço como um mundo livre “sem franquias, quotas e rivalidades”.
Os discursos ouvidos nesta cerimónia foram de grande positivismo, agradecimento e esperança para o futuro do triângulo composto pelo Teatro Nacional S. João (TNSJ), Teatro Carlos Alberto (TeCA) e Mosteiro de S. Bento da Vitória.
Revestido de ouro, o TNSJ é ouro que extrapola o mero exterior: as palavras e as ações que lá se vivem são o tesouro com o qual se pode comprar felicidade. O ouro, ainda que também seja um meio de troca, aqui não está envenenado e tem um propósito diferente.