Cultura
El Agitador Vórtex: a arte de brincar com as regras
Não é só uma peça, e não é só um filme. Tem o carisma de uma sitcom, o folgo de um musical, a surpresa de um mobile video, e as suas limitações são estranhamente ilimitadas.
“El Agitador Vórtex” usa o tapete do palco e o jogo dramático intensifica-se com a vontade de provar que a singeleza se pode metamorfosear em muitas coisas.
Num espetáculo de pouco mais de 1h, objetos com os seus códigos simplistas transformam-se em detalhes elementares da ação. Percorremos cenários díspares, conhecemos uma protagonista geek, que nada mais faz do que tornar pesadelos em material didático, e, enquanto espectadores, somos confrontados com uma viagem entre os bastidores, projetados no ecrã, e a debandada espalhada em cena.
A mistura de géneros afeta igualmente luz e som. Nesta espécie de laboratório, o objetivo principal é engravidar o teatro da sua relação com o cinema, ou vice-versa. Estudam-se aplicadamente um ao outro, para depois quebrarem todas as normas, e deturparem significados, de modo a colocar em evidência a insignificância de tudo.
Ou seja: brinca-se com as regras.
No recreio instala-se uma orquestra sinfónica, uma banda folclórica, temas de Star Wars e James Bond, a tocar em loop. O barulho e o silêncio cumprimentam-se e oferecem à plateia um cineteatro instantâneo, onde os espectadores podem escolher várias formas de assistir, concentrando ou não a sua atenção na ficção ou na construção por trás dessa ficção. No fundo, cabe a cada um acreditar ou não na seriedade aparente do dispositivo cénico. E o resultado final é uma fusão entre a tensão, o glamour nos planos e nos filtros da câmara, e a ilusão e mistério do fora de campo.
Também no nosso universo, o agitador vórtex existe. É composto por um motor, que gera o movimento necessário para colocar todos os nossos frascos, tubos e substâncias em constante movimento.
E, é nesta vibração excitante que Cristina Blanco desenvolve esta sua experiência.
A artista mistura ingredientes supostamente distintos, que, quando juntos neste círculo vicioso, se tornam, afinal, parentes e conhecidos de prazeres comuns. Por vezes, com mais ou menos velocidade, esta obra é fatal e fatalista – por não querer perder nada, ao mesmo tempo que consome tudo. E dos restos que sobrarem, talvez se faça um castelo ou outra boneca voadora, salvadora de mundos.
A técnica de Cristina é eternamente feita de figurinos mutáveis e questões românticas, e é digna de ser conhecida. Mesmo que apenas através de uma lente, num ecrã, ainda fechados em casa.