Cultura
JUP Radar: Cauê e Nati, o amor e a arte em conluio
Cauê é músico e cantor. Nati expande-se em variadas áreas – mas assume-se como empreendedora e dedica-se, especialmente, à junção da arte com a terapia. É com esta filosofia que vivem e se revêm: entre a arte e amor, enquanto viajam com um bom porto à vista.
Escolheram e confiaram em Portugal para vos acolher numa fase nova da vossa vida. Quais eram as vossas expectativas sobre as oportunidades de trabalho na arte?
Escolhemos Portugal por vários motivos, o principal foi o resgate de uma cultura ancestral que, de certeza, nutriria a nossa arte. A facilidade da língua também foi outro fator importante. Nós já tinhamos a produtora “Nosso Olhar”, no Brasil, e vimos uma oportunidade de trazê-la para Portugal e, assim, fazer um intercâmbio de artistas lusófonos.
No âmbito pessoal, a Nati também tinha o objetivo de continuar os estudos da “arteterapia” e eu [Cauê] de aprofundar os estudos na música e desenvolver a carreira solo. Hoje, um pouco mais de um ano depois da nossa chegada, conseguimos realizar parte do que planejamos e ainda se abriram outras portas.
O Porto foi a vossa primeira escolha?
Na verdade, não. Chegamos a Lisboa com a intenção de morar na capital. Mas, uma semana depois, viemos conhecer o Porto e apaixonamo-nos pela magia, poesia e arte de rua da cidade Então decidimos que nossa jornada começaria pelo Norte.
“Sentimo-nos em casa sempre que estamos exercendo a nossa arte. Por isso, Portugal tem nos proporcionado esse sentimento de estamos em casa.”
Tinham referências ou partiram sem mapa?
Preparamo-nos para essa mudança com, mais ou menos, dois anos de antecedência. Neste período fizemos muitas pesquisas e avaliamos o que seria melhor, mas não tinhamos nada certo. De facto, muita coisa precisou de ser readaptada à realidade que encontramos.
Foi fácil conhecer artistas na cidade?
Somos um casal comunicativo e adoramos conhecer outras histórias. Na semana seguinte à chegada ao Porto, fomos passear à Ribeira e encontramos o Paulo Kanuko, um músico angolano. Ficamos amigos íntimos, logo nos primeiros cinco minutos de conversa, e ele apresentou-nos algumas casas de concertos, alguns artistas, e convidou-nos para irmos às noites de poesia do Pinguim Café. Aquela cave era mais a nossa casa do que o apartamento que arrendamos.
“Não demorou nada para encontrarmos a ‘nossa tribo’.”
Depois de um ano a viver no Porto, com amigos feitos e projetos definidos, decidiram mudar-se. Porquê o risco, numa altura estável?
Para responder a essa pergunta precisamos de levantar a questão: o que é a estabilidade? Desde que decidimos viver da arte que abrimos mão desse conceito, até porque, com a conjuntura que estamos a viver, podemos ver claramente que a estabilidade é uma grande ilusão.
O motivo da nossa mudança foi a Nati ser convidada para coordenar um projecto de uma fazenda de café do Brasil, que queria abrir uma cafetaria em Lisboa. Isso acabaria por trazer-nos alguma estabilidade financeira, no entanto, com todas as intervenções necessárias como meio de prevenção da pandemia, esse contrato foi rescindido… e lá se vai a tal estabilidade.
Nati, a ‘mulher dos mil ofícios’, afirma que a arteterapia a salva “dos redemoinhos internos”
Como é que, enquanto casal, conseguem conjugar e complementar as vossas artes?
Foi um processo muito orgânico. A arte sempre esteve presente em minha vida e acredito que todos têm a arte dentro de si. E, na verdade, o Cauê chegou para despertar a artista que estava adormecida ou era tímida demais para aparecer em público. Esse resgate artístico intensificou-se com os estudos de “arteterapia” e quando dei por mim: já estávamos a compor músicas juntos e eu [Nati] a pintar, enquanto ele [Cauê] tocava. Hoje já não consigo ver um caminho que nos levasse para uma realidade diferente desta.
“A nossa união vai além de uma vida à dois, somos três, ela, eu e a nossa arte.”
Achas que a tua música sofreu alguma influência com esta nova realidade?
A mudança é importante para o nosso crescimento pessoal e profissional. Nesse sentido, vejo a minha trajetória artística no Brasil com bons olhos, porque consegui realizar boa parte do que idealizei até então. Não nego que recomeçar em Portugal tem sido difícil, mas ao mesmo tempo muito prazeroso, porque traz novos desafios, novas conquistas e novo mundo para desbravar. Logicamente, poder nutrir-me de diferentes culturas e novas expressões artísticas tem influenciado diretamente não só a minha música, como também a minha maneira de ver a vida.
Um dos singles do Cauê denomina-se, ironicamente ou não, “Sem Destino”. É este o mote da vossa vida a dois?
De certa forma sim… Mas o foco da mensagem desta música não é o de uma vida sem destino, mas a valorização do processo, do caminho. O que mais importa é o que somos em continuidade, e não o que vamos nos tornar. Essa sim é uma filosofia que permeia nossa vida enquanto casal e artistas.
Quais as perspetivas de futuro e que projetos podemos esperar?
Para já, está em curso a gravação do EP do projecto “Cabe o Cosmo“, que une não só as nossas artes, mas também as do Gabe, nosso ‘irmão de alma’, que encontramos aqui em terras portuguesas. Além disso, a Nati está com um projeto de “arteterapia”, através do podcast “Facilitando a Mente Criativa”.
Mas isto é só a ponta deste iceberg que está surgindo em águas criativas. Como bons experimentadores do processo criativo, também temos a sair do forno o “Casoulo Criativo”. Um projecto de imersões artísticas que já está em curso assim que tivermos a nossa liberdade de contacto físico reestabelecida.
“Estamos a viver um período de incubação de muitos projectos artísticos, neste momento.”