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Cultura

Dia Mundial da Música com Beethoven, Mozart e Donizetti: Alegrias e agonias do amor

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Na passada sexta-feira, a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música performou a “Quarta Sinfonia sob a direção musical do prestigiado maestro suíço Baldur Brönnimann.

Ainda a caminhar em passos curtos, a cena cultural tenta voltar à normalidade num mundo pós-COVID – ou, melhor dizendo, acostumado ao vírus, porém, com todos os cuidados necessários. E esta noite não foi diferente. Os únicos presentes sem máscaras na Sala Suggia eram os músicos, que estavam bem espaçados no palco. Os espectadores estavam a respeitar o distanciamento social, com assentos alternados e uso de proteção; além do staff que estava a ser bastante rigoroso com o cumprimento das medidas de segurança.

Com abertura e árias de As Bodas de Fígaro, composta por Mozart, a continuar com composições de A Filha do Regimento e de O Elixir do Amor, compostas por Gaetano Donizetti, a ópera esteve bem retratada com a participação do tenor argentino Santiago Ballerini e a meio-soprano Joana Valente e o barítono André Baleiro, ambos portugueses.

As vozes foram as estrelas da noite, no céu límpido de génios da música.

As árias de As Bodas de Fígaro falam sobretudo de paixões, ciúmes e amores desencontrados. As duas primeiras, cantadas por Joana Valente – “Non so più, cosa son cosa faccio” e “Voi che sapete” – falam sobre o amor que “ora é deleite, ora é martírio” e as agonias da paixão – “não encontro paz de noite, nem de dia, mas agrada-me sofrer assim”. A continuar, André Baleiro canta “Hai già vinta la causa”, com graves que transpareciam a angústia e ódio do ciúme ao falar “ter paz na esperança das vinganças”.

Santiago Ballerini surge para cantar as árias compostas por Gaetano Donizetti, que retratam o amor sacrificial em trechos que abordam o “Eu teria que deixar de viver, se tivesse que deixar de amar”. Numa apresentação de arrepiar de “Pour me rapprocher de Marie” e “Una Furtiva Lagrima”, Ballerini surpreendeu o público com tamanha técnica que lhe rendeu uma duradoura salva de palmas. Esse momento foi quase um afago ao coração dos presentes, e todos aqueles que já experimentaram todos os intensos estágios da paixão sentiram uma profunda identificação.

Fotografia: Giulia Pedrosa

A “Quarta de Beethoven” foi guardada para o fim do concerto. Esta, que não é uma das mais conhecidas do compositor, carrega ainda assim toda sua mestria e mistério, em toda e cada uma das notas.

A sinfonia parece ser leve, porém é densa e intensa, jovial e humorada. E, depois de escutada, paira o reflexo dos jovens apaixonados e confusos, cheios de dúvidas, alegrias e agonias do amor

Afinal, Beethoven é erudita ou popular?

Comumente classificadas como música clássica, as composições de Beethoven dividem especialistas em todo o mundo, e é bastante subtil a linha que as separam entre música erudita e música popular. Brönnimann, enquanto Maestro Titular da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, acredita ser necessário questionar as fronteiras tradicionais da música clássica.

Porém, o termo “clássico” pode confundir, por ser utilizado tanto no sentido erudito – que remete à música “de mais alta qualidade”- como no sentido literal – que se refere ao movimento musical do classicismo, que contempla o final do século XVIII e parte do século XIX. Assim, surge a denominação de música de concerto, já que Beethoven possui criações no período Clássico e também no período Romântico.

Como foi dito por Ênio Squeff, crítico de música brasileiro: “Beethoven não tem nada de erudito. A música de concerto é aquela inclassificável. É a génese da atividade musical”

Atualmente, o génio é, com certeza, um dos compositores mais conhecidos de todos os tempos, e as suas composições já alcançaram ouvidos em praticamente todos os lugares do mundo, mesmo que os ouvintes não saibam identificar o autor.