Cultura

EM ANDANÇAS: A DANÇAR É QUE É

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Todos os anos, Andanças recebe cerca de 30 mil pessoas, oriundas não só de todos os cantos do país, como também de vários locais do mundo. É um festival onde há transportes em atrelados de tratores, as pessoas se tratam por tu e a vontade de dançar é contagiante.

No festival, não há palco que o artista pise que o visitante não possa pisar. O palco de um é o palco de outro e ninguém está lá apenas para ver, mas também para aprender. Esta aproximação das duas partes, professor e aluno, ao longo das inúmeras oficinas que preencheram os 7 dias de festival, permite dizer que o Andanças não se assemelha em nada ao típico festival de verão português – se um fosse cão, o outro seria gato – e distingui-los é um elogio ao festival alentejano.

Suportado por uma rede de voluntários – este ano contou com cerca de 700 – o Andanças destaca-se pelo espírito de comunidade e partilha. O facto de assumir o voluntariado como pilar fundamental permite desligar-se dos poderes políticos e financeiros e da febre das grandes marcas e patrocinadores. Deste modo, não há o culto do “cabeça de cartaz” nem do camarim, porque se às 17h um artista estava a atuar, às 19h estava já a aprender noutra oficina.

A estruturada organização do festival permitiu que nada falhasse e o público foi sempre acarinhado pelos voluntários que os saudavam de sorriso na cara. O calor alentejano – a semana desenrolou-se com temperaturas máximas a rondar os 32 ou 33 graus – não impediu ninguém de dançar, mas a água disponível nos lavatórios e os aspersores pendurados pelo recinto deram certamente uma grande ajuda.

Do Porto partiram vários artistas para participar neste festival, de entre os quais os Karrossel, o Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto (NEFUP), os tribais OliveTreeDance, Eva Azevedo, uma das fundadoras da escola de ritmos africanos Sementinha, o duo enérgico  e Renata Silva, que ensinou danças tradicionais europeias.

Mal se pisa o recinto, é logo levantada a icónica caneca de alumínio, quase símbolo do festival, que foi adotada há já vários anos e que foi a única opção para quem quis beber algo. Isto porque o festival assenta sobre uma atitude sustentável pelo que os copos de plástico estão abolidos e o mar de lixo que se pisa habitualmente num festival simplesmente não existe.

Ao longo dos 7 dias, houve inúmeras oficinas onde o público aprendeu diversas danças, desde as escocesas às portuguesas, brasileiras ou mambo, danças de par, em fila ou em roda. Era frequente ouvir-se “Troca de par!”, assim como concertos de música popular de vários países e atuações “surpresa” em diversos locais do recinto.

No mar de gente que percorreu o festival, encontrámos pessoas de inúmeras nacionalidades mas, num ambiente onde a linguagem corporal é o idioma oficial, comunicar não foi um desafio. Aliás, a língua oficial do voluntário foi tanto o inglês, o italiano, o português como espanhol (ou talvez mesmo o portunhol – um das muitas pontes que os participantes constroem entre si de boa vontade).

O visitante típico do Andanças não se desloca a andar, mas a dançar. A cada passo que dá, faz reluzir a sua canequinha de alumínio presa aos calções, à sacola ou ao chapéu. Quando se senta à beira de alguém, não tem medo de meter conversa e quando não tem par para dançar, convida a pessoa ao seu lado antes mesmo de saber o seu nome.

“Isto é de facto um mundo. Só quem vem consegue perceber. Só quem vem.”, diz um estreante do festival.

Celebrar a música e a dança popular e mergulhar num mar intercultural foram tarefas certas nesta festa. E, assim, neste Andanças, nenhum homem foi uma ilha: só mesmo quem quis é que dançou sozinho.

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