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Cultura

Capitão Fausto – quão só pode ser o pôr de sol?

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Se há banda conhecida em Portugal que se possa orgulhar da sua irreverência, acompanhada de uma dose excecional de talento e um forte impacto mediático, são os Capitão Fausto – autores de um dos reportórios mais vastos e denso de música indie portuguesa. Contudo, não só são as melodias que prendem o ouvinte, ao contrário do que acontece no restante mundo da pop; não há lugar para enunciados literários inócuos nas letras da banda.

Sol Posto é a transformação para cinema de uma coletânea de músicas, fazendo com que se trespasse o seu limite fonográfico, e se atinja uma dimensão física.

À poesia lírica e às melodias transeuntes, junta-se uma justaposição de imagens, de cores, planos, paisagens e cenários díspares que, quando conjugados com o pôr de sol e o anoitecer febris, formam uma narrativa onde se inserem não só o grupo musical mas também o espetador.

Por vezes, os membros da banda são parte da paisagem – não como personagens nem como protagonistas presos no enredo das suas músicas, mas como meros ornamentos. E o telespectador fica só. Na tela está um cenário impossível, uma banda que se incorporou na paisagem, e aí é que a questão se levanta: quão só pode um pôr de sol ser? Com certeza seria muito mais só sem a companhia dos Capitão Fausto, ou, na falta deles, da sua música.

Com a imagem de Turner e uma aguarela marcada por uma pincelada (não só larga como também brusca e irreverente), a banda despede-se. E surge a tela negra, após um caleidoscópio de emoções que, tal como o incêndio de Turner, nos destrói por dentro.

Mas a sensação que se apodera de nós é que, durante a escuridão, após o pôr de sol, é a música que nos consola.

Em suma, no filme “Sol Posto” a banda dá-nos a conhecer o seu reportório de músicas através de um conjunto de vídeos de música, articulados entre si, que criam um experiencia cinematográfica recheada de nostalgia e satisfação musical. Tudo enquanto o sol se põe e a noite se levanta. E, no entretanto, a banda não conta com a companhia de mais ninguém, a não ser a dos seus fiéis fãs.