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Crítica

L’isola delle Rose: Ao sonhar o aço bóia

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Esta poderia ser mais uma estória em que o amor é o motor que desloca a ação, mas não. Vá, claro que esta é uma estória em que o amor motiva um feito extraordinário porém, esta é também uma estória real, o que lhe confere, desde logo, um magnetismo assegurado.

Para além disso, este é um filme italiano que relata um dos acontecimentos mais surpreendentes (e, por isso, dispensa legendas!) que se sucederam no seu território, o que torna, por si só, a narrativa muito mais encantada.

Se estas simples frases não forem munidas de entusiasmo suficiente para vos cativar, prosseguirei durante mais uns parágrafos se prometerem assumir-se como vencidos aquando do fim, caros leitores (e futuros espectadores do filme, quiçá).

Giorgio Rosa era um engenheiro brilhante que acabara de tirar o curso mas que não se sentia parte integrante do universo que o envolvia. As suas ideias borbulhavam a um ritmo extasiante e a prova disso é que conduzia um carro por ele desenhado e concebido que se destacava pelas formas geométricas e… por não ter matrícula (pelo menos até roubar uma e colar, não fosse a rapariga dos seus sonhos recusar boleia de novo).

Rosa não se apresentava apenas como um homem de ideias flutuantes e prova disso é que tudo fez até alcançar o objetivo máximo a que se propôs: construir uma nação.

Sim, exatamente isso. Exaurido de existir sem se poder exprimir enquanto indivíduo começou a planear, incansavelmente, um projeto de plataforma que seria de instalar a pouco mais de dez quilómetros de Rimini, na costa italiana, por já se encontrar em águas internacionais. Assim, a ideia seria ter uma ilha própria que se traduzia, na verdade, em 400 metros quadrados de soberania de ninguém.

Construtores, cálculos, trabalhos preparatórios, um sonho em riste, tudo num barco para além das águas territoriais italianas rumo ao impensável. Seis meses depois, a ilha começa a ganhar sustento fora do papel, finito!

Depois de encimada em pilares de aço, a ilha das Rosas tornou-se num epicentro turístico, onde se podia encontrar um restaurante, um bar, uma loja de souvenirs e um pequeno posto de correios.

Ainda assim, não se tratava apenas de mais um centro atrativo para adultos, esta autoproclamada micronação era dotada de símbolos e de uma organização: Rosa era o seu presidente, que desenhou uma bandeira e um brasão, o Esperanto era a língua oficial, o Osservatore Domenicano era o jornal do estado e o Mill a moeda.

O exaspero de Rosa levou-o a concretizar o que todos adjetivavam como “louco” e essa ideia sob cimento celebrizou mais do que uma simples edificação, era a filosofia por de trás da ilha, a voz do descontentamento comum a todos mas só por um erguida.

Nesta ilha de festas, alucinação e anarquismo nem tudo foram rosas, apesar do nome ser abonatório. A constante publicidade e crescente fama desta nação depressa irrita o governo italiano que tudo fez para tentar travar a prossecução da fantasia liberal.

Felizmente, Rosa tinha ao seu lado Gabriella, uma advogada de Direito Internacional que ao perceber todo o simbolismo da sua obra voltou para os seus braços, de onde já tinha recuado algumas vezes. A ilha foi um manifesto contra o sistema implementado mas, mais do que isso, foi uma um grito mudo para que os olhos de Gabrielle o notassem, numa última tentativa de receber o seu amor. Eu disse que o romantismo também motivava esta estória, aqui está ele através de uma descrição que peca sempre por defeito em relação à magia do ecrã.

O que se sucedeu e como é a história documentada já antes do filme. Mas esta obra que a Netflix acolheu dá cores sentidas ao sonho, ao amor como força motriz, à revolta pacífica (e inteligente!) e reflete como se faz mais política quando se está fora dela.

Eu quero voltar para a ilha!

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