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Crítica

De Luanda, em Lisboa, à espera do Paraíso

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“Luanda, Lisboa, Paraíso”, de Djaimilia Pereira, é um romance belo. Conta-nos a história de Aquiles, filho de Glória e Cartola, nascido em Luanda com uma deformação no pé. A maldição do seu nascimento acorrentará a sua mãe a uma cama, devido às complicações do parto, mas levará também o seu pai a acompanhá-lo numa epopeia trágica à procura de uma cura para o calcanhar, com destino a Lisboa. A viagem é aguardada ansiosamente pela dupla, que, quando finalmente parte, encontra uma cidade desconhecida, longe da família e do calor de Angola.

No livro, Cartola, que ansiava ser reconhecido como português, torna-se um desconhecido numa terra que sempre imaginara e pensara ser sua.

Cedo a epopeia se inverte e pai e filho tornam-se, não nos heróis, mas sim em meros habitantes numa cidade confusa, onde não lhes é reconhecida a bravura nem o espírito valente, e as portas da desigualdade abrem-se de forma a fazê-los entrar num caminho de crescente exclusão social.

É durante um desses percursos por entre a cidade que Lisboa se mostra capaz de destruir não só os sonhos da dupla, mas também de separá-la:

“As botas de Aquiles estavam ensopadas; as meias geladas. «Papá, então, comé? Espera.» E Cartola, que se adiantara, esperou que o filho o alcançasse. A chuva, batida a vento, molhou-lhes as costas e o cabelo. Eles continuaram caminho, cada vez mais devagar. (…) A chuva dava-lhes as boas-vindas a Lisboa e, ao mesmo tempo, despia-os.”

A escrita de Djaimilia Pereira revela-se fantasticamente poderosa, não só porque consolida a sua posição no panorama literário português com um romance de estreia calorosamente recebido pelos críticos, mas também porque desenha com as suas palavras uma realidade que, embora feia, se torna bonita adornada pelo seu estilo literário. Contudo, ainda que o texto seja refinado, a autora não deixa de inserir na narrativa linhas de ação de diferentes personagens, que nos fazem refletir sobre a importância da família, da raça, ou de palavras como comunidade ou esperança. São elas Glória – a esposa, e mãe, deixada em Angola – cujas cartas e telefonemas se encontram muito presentes no romance, ou Pepe, um galego que se torna amigo dos protagonistas no Paraíso.

Paraíso. Paraíso é o nome do bairro, mas este não passa de um mero eufemismo.

E enquanto Aquiles cresce e Cartola vai envelhecendo, enquanto se veem obrigados a trabalhar nas obras para sobreviverem e escaparem à fome, Luanda torna-se numa memória difusa, e Lisboa numa realidade cada vez mais inacessível. Porém, pai e filho continuam com esperança que, ainda em terra, chegarão ao paraíso.

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