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Cultura

Moxie: de uma fanzine feminista a uma fantasia Riot Grrrl

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Dirigido por Amy Poehler, a narrativa viaja até às memórias do movimento Riot Grrrl, surgido no início da década de 1990, que a partir da sua herança punk feminista, da estética contestatária, social e política, se assumiu como um manifesto contra a cultura patriarcal. Adotando esse manifesto como referência, e (felizmente!) contrariando o retrato cliché associado à rivalidade entre raparigas, as jovens unem-se e entreajudam-se num processo de empoderamento que vai tendo reverberações por toda a comunidade escolar.

Nunca é demais abordar temas como a desigualdade, a discriminação de género e o machismo enquanto injustiças e violações de direitos humanos, porque são problemas que têm de ser solucionados urgentemente. E a mudança começa pela educação, pela cultura, pelos contextos de socialização, onde os padrões devem ser repensados e desconstruídos, e atitudes sexistas devem ser questionadas e desnaturalizadas, no sentido de uma rutura com paradigmas que perpetuem expressões de desigualdade.

Abordar estas questões em livros, músicas, performances teatrais, filmes ou qualquer outra forma de expressão artística, poderá ter um papel tão consciencializador como libertador, capaz de acender reflexões, debates e mobilizações coletivas.

Ainda que se apresente como um filme mainstream, leve, jovial e fácil de acompanhar, “Moxie” não descarta a mensagem positiva e poderosa sobre a importância da sororidade e união feminina.

A jovem Vivian, de 16 anos, decide criar uma fanzine com conteúdos a denunciar e a contestar o sexismo na escola, onde os papéis e estereótipos de género continuam muito marcados. Inspirada pela mãe, que outrora foi ativista riot grrrl, Vivian, ao confrontar-se com diversas situações de opressão machista, percebe que ao ignorar essas situações nada mudará.

Uma nova rapariga que chega à escola incentiva-a a levantar a cabeça e a tomar uma posição. A fanzine desperta a atenção de outras raparigas, que por sua vez, gradualmente, vão construindo uma pequena comunidade onde partilham as suas histórias relacionadas com episódios em que se sentiram oprimidas, intimidadas e descredibilizadas.

A censura ao corpo feminino, o bullying contra as mulheres, o assédio sexual, a violência no namoro, são alguns dos assuntos expostos, que a par da amizade e do amor, integram o universo juvenil das personagens. E ao longo deste combate, a fanzine funciona como um megafone que amplia as vozes destas jovens, cuja rebeldia é um grito de justiça e liberdade.

Ao representar uma postura passiva e resignada, a diretora da escola espelha uma atitude adulta negligente e pactuante face às situações declaradas de sexismo na escola, contribuindo para a sua continuidade e constituindo um entrave à mudança. Isto evoca-nos imediatamente todas as situações pelas quais passamos no recreio da escola, nas salas de aulas, em que de uma forma ou outra sofremos de violência machista, mas nenhuma pessoa adulta interveio, impedindo, corrigindo.

Fica clara a mensagem que são necessários espaços abertos e plurais de debate sobre estas questões, de preferência imediatamente a partir da infância. 

Um aspeto relevante e interessante no filme, que parece digno de destaque, é a diversidade das personagens. Há raparigas negras, asiáticas, latinas, transsexuais, altas, baixas, magras, robustas, com deficiência. Cada uma com as suas singularidades, complexidades, belezas e poderes.  A ideia de um feminismo interseccional e plural, constituído pelas diferentes formas de expressão e mobilização, está bastante presente no enredo, enriquecendo a mensagem e a força da causa.

Em tempos estranhos e nublados em que vivemos, todas as manifestações de resistência, respeito e reconhecimento da diversidade, de solidariedade e cooperação entre mulheres (e homens), são um raio de esperança.

Artigo da autoria de Ana Garcia

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