Crítica
Lady Gaga: Movimento Bring Back The Fame
Quem é que não se lembra do célebre vestido de carne? Quem é que não se lembra daquela vez que ela e a Beyoncé mataram todos os clientes daquele restaurante? Quem é que nunca sonhou em incendiar o seu parceiro sexual ante do ato? Quem? A reposta é óbvia: ninguém. Mas todas estas situações integram as produções artísticas que penetraram a memória coletiva da civilização, e todas elas têm a mesma criadora: Stefani Joanne Angelina Germanotta. Também conhecida por Lady Gaga. E não obstante o facto de a cantora ser extremamente reconhecida, há que inquirir sobre o verdadeiro significado da sua vasta e complexa obra.
The Fame (2008) e The Fame Monster (2009): nascimento e crescimento
Em 2008, o mundo viu nascer um estrela mundial. Foi com “Just Dance”, com Colby O’Donis, que Lady Gaga se estreou na música pop, e também nesse ano o mundo conheceu outro hino musical da artista: “Poker Face”. Contudo, foi em 2009, com o seu Fame Monter, que artista mostrou ser mais do que um produto da indústria musical, mas sim um verdadeiro ícone da Pop Art.
O vídeo de “Bad Romance” é a obra prima de Lady Gaga. O enredo gira em torno de uma escrava sexual, raptada pela máfia russa, e vendida num leilão, só para depois matar o seu dono e recuperar a sua liberdade. Para além deste tema do envolvimento em relações tóxicas ser recorrente na obra da cantora, o vídeo mostra-nos a ascensão artística de Stefani.
Quando entra no mundo da música, Stefani perde-se e torna-se num mero produto musical – mais uma das muitas cantoras pop com músicas como “Just Dance” e “Poker Face” que servem para viciar e atrair o público. Mas com “Bad Romance” Lady Gaga despiu-se e revelou a sua face mais controversa e lendária.
Ela incendeia o seu raptor, ela incendeia o público que a segue e mostra-lhes o seu verdadeiro ser. E enquanto é raptada, perde a essência e é obrigada a abdicar de parte do seu ser para se tornar uma estrela. Mas a sua natureza artística não permite que seja controlada.
Born This Way (2011): a lenda afirma-se
Com o Fame Monster a superar a marca das 20 milhões de cópias vendidas e a ser altamente galardoado, Lady Gaga mostra-nos, mais uma vez, que não está no mundo da música para nos brindar com temas altamente viciantes, mas inócuos em termos de significado intelectual. “Born This Way” aborda temáticas como a aceitação LGBT, o amor próprio, a ascensão para a fama, a longa e árdua caminhada para a consolidação como artista no mundo pop.
ArtPop (2013) e Cheek to Cheek (2014): a queda
Embora a capa nos faça lembrar um soirée artístico na Florença do Quattrocento, o ArtPop revelou-se uma composição do gótico flamejante, com uma produção musical excessiva e demasiados adornos. O produto final trespassa a marca do exuberante, e torna-se asfixiante. Por seu turno, Cheek to Cheek é um ótimo álbum caso queira fazer adormecer o seu gato.
Joanne (2016) e Superbowl (2017): renascimento da lenda
“Take my hand, stay Joanne” – e nós ficámos nós, no embalo deste álbum. Lady Gaga inaugura um novo estilo, mistura o country com o pop e dá-nos composições belas. Mostra-nos a sua versatilidade, mas também a sua fragilidade e maturidade e o álbum é uma autêntica carta de amor à sua tia falecida, Joanne. Para além disso, a sua atuação no intervalo do Super Bowl comprovou o seu estatuto como verdadeira força da deste universo pop.
A Star Is Born (2018) e Chromatica (2020): um mundo novo
Em 2018, na sua estreia cinematográfica, a cantora impressiona o mundo e arrecada uma nomeação para o Óscar de Melhor Atriz, mas é a banda sonora do filme que vive dentro nós. Especialmente, o seu “Shallow”.
Lady Gaga volta ao dance-pop, seu local de origem, mas fá-lo com um toque nostálgico que nos faz lembrar do pop da década de 90. O álbum é em si uma composição concisa e trabalhada, mas esperava-se mais. Mais coragem, uma abordagem mais séria de temas como o abuso sexual, e um maior número de hits memoráveis. Todavia, foi um bom regresso às raízes.
Em suma, com mais de 1oo milhões de discos vendidos, 12 grammys e muitas outras honras e conquistas, Lady Gaga, em 10 anos, consolidou a sua posição no panorama musical americano, mas também na cultura pop mundial. O seu legado será comparável ao de figuras incontornáveis da pop como Beyoncé, Madonna, ou até mesmo (o rei) Michael Jackson.
Artigo da autoria de Roberto Saraiva