Cultura

FUSING: O LENDÁRIO ROCK N’ ROLL DO HOMEM TIGRE

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A convite do bom tempo, os banhistas aparecem na praia “incluída” no recinto, enchendo a área desportiva pouco depois da abertura das portas. Kayak, vela e ski aquático são os desportos sobreviventes ao vento que não largou os três dias do festival.

A tarde no lounge do Pingo Doce começou com a apresentação da blogger de “Cinco Quartos de Laranja”. Seguiu-se o show da cozinha molecular, causando o espetanto e a admiração dos espetadores “de jardim”. Ao final da tarde, o espaço recebeu o último duelo de chefs, que colocou lado a lado o Chef Vitor Esteves e a Chef Rosa Amélia.

Às 16:00h, a Garagem das Artes ganhou sonoridade própria com Mr Mute. O DJ trouxe à Figueira uma “conversa sonora” vinda da sua – no mínimo bizarra – coleção de vinis. A par do som, a “fusão cultural” preza pela cor e pelo desenho. Ainda no último dia do festival se pintam as paredes do recinto, concretizando a ideia da organização de oferecer aos festivaleiros uma montra de artistas “em ação”.

Neste último dia, os concertos começaram mais cedo. Pelas 18:00h, seis bandas passam “da garagem ao palco”. Os grupos ganharam lugar no palco Experience ao serem finalistas do concurso de bandas organizado pelo festival. O processo de seleção passou por uma votação no Facebook que atribuiu o lugar a três bandas, e por um juri que escolheu outras três. O público escolheu os Pitch, Marvin e Hrra. Pelas mãos do juri – composto por Noiserv, João Simões, da organização do FUSING, e Paulo Abelho, produtor musical -, os Bearbug, Le Crazy Coconuts e os Lupiter chegaram ao palco do festival.

Segue-se o reggae e soft voice de Orlando Santos. A música do cantor português – uma conjugação de harmonias a duas vozes com um instrumental sulista, entre o soul, o folk e o reggae – ecoava pelo recinto, convidando o público para o palco secundário.

Perto das 20:00h, o público já formava uma mancha homogénea junto às grades do palco principal. A espera – algo quase inédito durante esta edição do FUSING – devia-se, principalmente, a The Legendary Tigerman, apesar dos inúmeros fãs de Fachada nas primeiras filas.

O humor e a descontração de Fachada foram os primeiros a entrar em palco. As falhas técnicas do teclado não atrapalharam, pelo contrário, o cantor, que não deixou de considerar este o “melhor início de sempre”. Um “toma, vai buscar!” dá o mote para o início de um concerto onde público e artista estiveram em diálogo constante.

Desde cedo que o público chamava pelo “Zé”. Fachada atendeu o pedido, dada a insistência da plateia do FUSING. Mesmo não tendo trazido guitarra, o músico interpretou parte do seu tema de sucesso, acapella.

Fachada apresentou temas do último álbum, para o qual voltou com o “B”, e do trabalho de 2012, “Criôlo” e 2014, “O Fim”. O disco deste ano é já o terceiro com o título “B Fachada”, apesar do artista ter abdicado da letra no seu nome artístico. Não faltou também o tributo ao “grande irmão Zeca”. Apontando para o céu, Bernardo Fachada agradeceu a inspiração e interpretou “Já o tempo se habitua”, o tema de Zeca Afonso presente no novo trabalho discográfico do cantor.

De um one-man-show para uma performance de banda completa, o post rock de When The Angels Breathe estreia-se no palco Experience. À batida pesada do instrumental da banda lisboeta junta-se um duo de violencelistas, numa manobra de aproximação ao metal. No entanto, a concorrência no palco principal é forte e grande parte não deixa o lugar das primeiras filas.

Por volta das 23:00h, Dead Combo instalaram no palco principal o seu rock, muito jazz e blues à mistura. A receita ficou completa quando o baterista brasileiro Alexandre Frazão se juntou a Tó Trips e Pedro V. Gonçalves.

A antiga “Mister Easter” arrancou suspiros a alguns festivaleiros, ao som dos primeiros acordes. Com um cenário a que já nos habituamos, entre caveiras e peças vintage, os Dead Combo apresentam “A Bunch of Meninos”. Não se ficando pelos temas próprios, a banda fez um cover de um artista por quem mostrou muita admiração, Tom Waits. De antiga em antiga, chegamos a “Cato”, um dos primeiros temas do grupo, que está a revolucionar a arte do improviso e o gosto pela música instrumental em Portugal.

Com a despedida de Dead Combo, o público manteve-se colado ao palco principal. Era a vez de Paulo Furtado aparecer na pele do Legendary Tigerman, provavelmente o nome mais esperado dos três dias de festival.

Coberto pelos tons escuros do palco, The Legendary apareceu sobre uma onda de aplausos. Como já nos tem habituado, Paulo Furtado faz-se acompanhar por Paulo Segadães, o baterista de eleição, e João Cabrita, no saxofone.

O início lento e contido não fazia prever o que o músico de Coimbra reservava. Ao som introdutório da clássica coverThese Boots Are Made For Walking”, o oitavo tema da setlist, Legendary convida o público a aproximar-se do palco e de si. São levantadas as grades e a plateia do FUSING rodeia o “homem tigre”, sem que ninguém dali os demova até ao final do concerto. A partir deste momento, o puro rock n’ roll invade o recinto da Figueira da Foz, guiado pela voz, guitarra e a energia de Paulo Furtado. Entre “Wild Beast”, “Naked Blues” e “Gone”, The Legendary Tigerman prova, com todas as notas, o estatuto que lhe é dado pelo público e pela crítica.

O concerto termina com uma longa versão de “21st Century Rock n’ Roll”, sem que nenhuma das partes desejasse o seu final. O público, em êxtase, vê Tigerman sair e pede mais. O músico não pode continuar e vozes na plateia afirmam que o seu trabalho já está feito, e bem.

Com a fasquia elevadíssima, PAUS têm a tarefa de encerrar o palco FUSING por este ano. Hélio Morais, o baterista também integrante dos Linda Martini, agradece a The Legendary Tigerman por ter sido como Moisés: “Esta música é dedicada a ele, porque abriu as águas e vos deixou entrar aqui para a frente”. É mesmo junto ao palco que o público assiste frenético ao concerto da banda.

Êxitos de 2009 até agora passam pelo palco pelas mãos dos Paus. Hélio agradece a presença e o público incrível deste ano, e a maior afluência ao festival.

O último dia ficou marcado pelas sucessivas enchentes no palco principal, num apogeu à música produzida em Portugal. É com esta marca que o FUSING se despede de cabeça erguida, com a promessa de voltar e reunir na Figueira da Foz a Culture Experience à portuguesa.

Agradecimentos: Raquel Nunes e Rui Oliveira

 

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