Crónica
Denis Was a Bird: Uma MasterClass – como transformar o luto em arte
Basta seguirmo-lo no Instagram para percebermos que Tom é uma personagem caricata, talvez até um pouco estranha, mas genuína. Durante a sua longa mas não muito conhecida carreira (ou talvez bastante conhecida, já lá vamos), a sua música tem vindo a ser descrita como “canções pop, habilmente elaboradas”. Sem dúvida, todas ao seu próprio estilo, sem nunca se conseguir encaixar numa só gaveta. Mas o seu mais recente e sétimo álbum é diferente: para além de ter um tópico geral que assombra todas as faixas, também as melodias, apesar de bastante distintas, parecem estar ligadas por algo maior do que meras notas musicais.
Denis Was a Bird, é um espaço onde o autor reflete sobre sobre a morte do seu pai. Todo o processo de luto acontece ao longo das faixas e pouco fica por dizer. Encontramos todas as fases do luto nas letras: profundas, verdadeiras e francas; mas mesmo assim otimistas, cheias de esperança, alívio e gratidão. O que pode parecer ao princípio um álbum melancólico e doloroso é, na verdade, um belo confronto com a realidade que nos pode trazer esperança e felicidade nos momentos mais sombrios. Não é um álbum triste, simplesmente põe as emoções certas no sítio certo.
É estranho e reconfortante darmos de caras com a ideia de que a morte não é uma catástrofe desde que a vida que a antecedeu tenha sido, muito simplesmente, feliz. Tal como Tom Rosenthal nos confessou nas redes sociais:
Agora falemos sobre como Tom Rosenthal, que eu achava confinado ao meu pequeno universo musical, se tornou viral graças ao também viral TikTok. Para quem é familiar com a aplicação, deve ser fácil relembrarem-se de quando um tal cover da canção “Home” de Edward Sharpe & The Magnetic Zeros não parava de aparecer em todos os vídeos (e ainda mais alguns). Esse cover é de Edith Wiskers, nada mais nada menos do que um pseudónimo de Tom Rosenthal. Resta-me ter esperança que as milhares de pessoas que usaram a música tenham curiosidade de conhecer o cantor e descubram o mundo, a peculiaridade e criatividade de Tom Rosenthal; e, claro, este novo álbum.
Não só vale a pena ouvi-lo de início ao fim como vale a pena ouvirmos o quão sincero Tom Rosenthal é consigo mesmo e connosco, sortudos ouvintes. Um álbum para chorar e para rir, reconfortante e devastador, com ensinamentos, com momentos de pura euforia e outros de partir o coração (e depois de o partir, cola os pedacinhos outra vez, e fica tudo como novo). Com tantas contradições uma coisa é certa: Tom Rosenthal mostra-nos a sua difícil experiência com a perda, o luto e a dor. Contudo, sem saber bem como é que foi capaz, acabamos perdidos num turbilhão de emoções, onde a esperança é mesmo a última a morrer.
Artigo da autoria de: Margarida Pereira